9 Atitudes de Mindfulness [PARTE 5]: não-esforço, não fazer, nada a rejeitar, a consertar, nenhum lugar a ir

O “Não-esforço” é a quinta atitude que integra a prática de Mindfulnessa meditação pela percepção atenta não-julgadora no momento presente – nesta série de 9 Atitudes descritas pelo médico americano Jon Kabat-Zinn, um dos responsáveis pela divulgação e ensino de mindfulness (traduzida muita vezes por “atenção plena“) nos Estados Unidos e outros países. Certamente esta é uma das mais incomuns para o lado ocidental do planeta, como o próprio Kabat-Zinn diz no vídeo abaixo, parte da série foi gravada pela Mindfulnessgruppen (Suécia),  traduzida e legendada em português aqui no blog. Numa cultura acostumada ao esforço sobre todas as coisas, até que metas e planos sejam realizados, da forma como foram programados, falar em não-fazer pode beirar o incompreensível. Como assim não se esforçar? E a minha sobrevivência? E meus objetivos?

Depois de quatro atitudes já tratadas — o  “Não Julgar”, a Paciência, a Mente de Principiante e a Confiança, começa a ficar clara a interconectividade entre elas. Não se esforçar, ou não fazer, praticamente invoca a confiança que Kabat-Zinn assinalou como uma das atitudes. Afinal, como tirar as mãos do volante se não confio em nada? Necessita também de paciência, pois amansar o constanto esforço é deixar que as coisas aconteçam quando vão acontecer, que tem seu próprio tempo: na verdade esse é o significado mais preciso de não-esforço, pois as coisas realmente serão feitas, e nós somos parte de quem vai executá-las, apenas não de acordo – forçado, muitas vezes – com nossas agendas pessoais e planos individuais. É um conceito que inspira cuidado em sua tradução, para que não acabe sentido entendido como omissão, letargia ou coisa parecida.

“Temos tantos planos, estamos sempre a caminho de um momento melhor no futuro ou tentando escapar de algo do passado, mas estar realmente em um lugar onde praticamos não-esforço e não-fazer, onde apenas deixamos as coisas ser como são, como eu disse, é tremendamente estimulante e curador. (…) Não significa que você não vai fazer coisas, ao contrário, significa que o que quer que você esteja fazendo, você realmente faz, vai acabar vindo do ser, e portanto com uma sabedoria muito maior, com uma adequação muito maior para a situação”.
~ Jon Kabat-Zinn, Mindfulness e Não-esforço

Kabat-Zinn é autor do método Mindfulness-Based Stress Reduction (MBSR), é fundador da Clínica de Redução do Stress e do Centro de Atenção Plena em Medicina, na Escola Médica da Universidade de Massachusetts (EUA), e autor de vários livros nesta área, principalmente “Full Catastrophe Living: Using the Wisdom of Your Body and Mind to Face Stress, Pain, and Illness (1991)”, e “Wherever You Go, There You Are” (2005). Kabat-Zinn também é membro do Mind and Life Institute, o instituto que reúne cientistas e o Dalai Lama para discussões de pesquisas na área da meditação e neurosciência.

Segue o vídeo de Jon Kabat-Zinn sobre o Não-esforço (2min44seg):

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Foto de Patty Maher (licença de uso BY-ND Creative Commons – link)

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9 Comments

    1. says: Franciso

      Verdade, Paulo. Penso que seja difícil também porque todo o nosso corpo costuma trabalhar numa perspectiva de ação contínua, em vibração, no acompanhamento da velocidade do mundo moderno, em ritmo que, na verdade, não é o nosso.
      Há uma dificuldade gigante em lidar com o repouso, com o silêncio, com a falta de movimento e, sem nos darmos conta, acabamos por nos permitir sermos levados pelo turbilhão, na cegueira dos neons, na música sem aliterações da contemporaneidade, na instantaneidade e virtualidade disto que se tornou o “nosso” mundo, dos constantes desencontros, da solidão …

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