Os esforços da ciência para conquistar a imortalidade e, enquanto isso, preservando os mortais com mecanismos como a criogenia, são alvo de um prognóstico do filósofo britânico John N. Gray, ex-professor de Pensamento Europeu na London School of Economics and Political Science e conhecido por seu ceticismo sobre o progresso humano. Autor de “Straw Dogs: Thoughts on Humans and Other Animals“ (2002), “Dawn: The Delusions of Global Capitalism” (1998) e “The Silence of Animals: On Progress and Other Modern Myths” (2013), John Gray deu um depoimento ao projeto BigThink intitulado “Immortality is a Waste of Time” (“A Imortalidade é uma perda de Tempo“), que tem alguns trechos traduzidos abaixo. Apesar de em pouco número, os comentários no post no site do BigThink são interessantes e trazem outros pontos-de-vista importantes pra discussão (veja aqui) — um nome citado com frequência é o do futurista americano Raymond Kurzweil, que tem teses sobre o alcance científico da imortalidade humana.
Esse artigo de John Gray lembra um trecho do discurso do autor Charles Eisenstein, onde ele cita algumas projeções científicas que se mostraram falácias. “Disseram que até o ano 2000, não haverá mais doenças e não haverão mais insetos, nós teremos conquistados os insetos com químicas como o DDT, então, esse tipo de pensamento, era totalmente sem sentido, mas na época todos sabiam em 1950 que teríamos colônias espaciais e teríamos longevidade ilimitada no ano 2000“, diz Eisenstein, no vídeo publicado no post “A ascensão da humanidade, por Charles Eisenstein: a crise sistemática é o fim da infância humana na Terra” (12/04/2012). “Hoje, isso, o futuro, ainda não chegou e nunca vai chegar e não só isso, mas não temos certeza se deveria chegar se nós queremos que ele chegue”, completa.
Seguem os trechos traduzidos do artigo de John N. Gray:
“Esqueça a possibilidade de se imortalizar. Não perca seu dinheiro. Não perca seu tempo. Não perca pensamento ou ansiedade para congelar seu cérebro ou você inteiro.
É uma perda de tempo porque no intervalo todos os tipos de contigências vão aparecer pra você. Algumas delas serão bem-vindas. Outras nem tanto, mas é certo que existirão contingências pessoais e mudanças na sua vida. Mas a história vai em frente e a história é uma grande sabotadora desses tipos de projetos porque se existem guerras, se existem perturbações civis, se há grandes mudanças economicas que você não tem qualquer capacidade de controlar, sua melhor apostar para uma vida plena é responder com improvisações criativas assim que as coisas acontecem, sem tentar despistá-las e escapar da história ou do tempo. Você não pode fazer isso pela simples razão que as mesmas tecnologias que usamos para tentar escapar da história estão em si conectadas à história.
É bom cuidar da sua saúde, tentar permanecer saudável tanto tempo quanto for possível porque você pode curtir mais a vida. E conforme novas possibildades de estender a vida são desenvolvidas, use-as, mas não se torne obsessivo em relação à morte porque se você ficar obsessivo com a expectativda da morte você perde sua vida.”
~ John N. Gray
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“Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem,
Nos meus filhos, na palavra rude
Que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite…”
Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida.”
-Raul Seixas
Grato!
Ed.
Não entendi para que perder tempo questionando o dinheiro que se perde com esses projetos, quando a gente já é imortal.
O organismo carne-e-osso não é imortal, né Marta. Pelo menos não ainda, como acreditam alguns cientistas e esperam alguns humanos. Gray condena mais a expectativa humana do que a pesquisa científica, na verdade.
Prove que nós já somos imortais.
“Animação Suspensa” (uma das denominações para criopreservação encontrada nos sites sobre criogenia humana) combina com o W.Disney, né não?
Comigo, não tenho certeza. (Nunca tenha certeza de nada, porque a sabedoria começa com a dúvida – Freud), OI?
Principalmente, depois de tudo que VI acontecer em “Futurama” com o Fry, um entregador de pizza novaiorquino que cai em um tanque criogênico e acorda mil anos no futuro e olha que ele é um ‘cuca’ fresca… literalmente – (rs)
Enquanto a turma da neurociência não descobre onde fica o ‘chip-mor’, para passar para um HD-externo, prefiro seguir:
“Não acrescente dias a sua vida, mas vida aos seus dias”
de Harry Benjamin M.D. e não do Dr. Lair Ribeiro – como rola p/aí.
Boa sorte, Norma
a unica certeza que temos ao nascer e que um dia vamos morrer.