“O ego quer ser um grande meditador.
O ego quer ser sábio e amoroso e compassivo.
Ele se vê lá. Todos irão dizer, “Nossa, desde que você voltou daquele retiro você está tão diferente. O que você encontrou? Me conte”.
Nada a ver com isso.
Não há nada que encontrar. Não há nenhum lugar a ir”.
— Jetsunma Tenzin Palmo
Não tem mais nada, o post é só isso (“só”). Foi compartilhado pela monja budista Jetsunma Tenzin Palmo essa semana e traz esse alerta sobre o que estamos fazendo com nosso caminho de busca, uma mensagem de cuidado (bem veemente) com o ego e suas vontades e artimanhas, mesmo aquele (ego) que medita, faz yoga, vai a retiros, faz caridades, recitra mantras, isso e aquilo.
O ideal seria um silêncio para contemplarmos essas palavras em nossas vidas, porque é das nossas vidas que ela tá falando, e então ver o que queremos encontrar e onde queremos ir. Mas deixo aqui outros dois posts que tem muita relação com essa mensagem, de dois grandes especialistas no despertar das “habilidades” do ego:
1 – A “fraude gigantesca” que é o ego e como distorce a espiritualidade e até a meditação, por Chögyam Trungpa (07/08/12)
2 – “Aqui é tudo, não há nenhum lugar a ir, toda existência culmina neste momento”: Osho aqui e agora (01/12/14)
Boa noite,
gostei do ponto 1, mas quem escreve sabe bem como funciona a mente e os 2 Senhores. Não percebi muito bem ultrapassar esses “manipuladores” da mente e como isso causa confusão mental.
O senhor da mente foi o que melhor compreendi.
Como tenho tendencia em querer compreender tudo para pôr em prática (“vicios” dos estudos que tive e estar atento tudo o que nos rodeia nomeadamente a nivel mercado trabalho), tenho que ser mais pragmática para não de me deixar por filosofias.
Conceitos demasiado a sério, concordo. Mas na prática como não há ligações familiares, amorosas, torna-se tudo muito distante e quebram-se laços afectivos.
Peço por favor algum esclarecimento.
Obrigada
Oi Dulce,
Você está falando do texto do Chögyam Trungpa, em outro post, e não deste aqui, certo?
Você já tem um interesse nesse ensinamento, está na sua escolha se aprofundar ou não, esse é o esclarecimento. Você já tem um esclarecimento ao perceber que tem um vício, então pode sucumbir a ele ou tomar uma direção diferente e se aprofundar, que é o único jeito de ter mais esclarecimentos. Se não fizer isso, se abandonar o entendimento disso, que outro esclarecimento pode haver?
Para se aprofundar e ter melhor compreensão dos senhores, receio que necessite da prática. O que não significa deixar-se levar por filosofias, mas apenas fazer o teste você mesma, praticando e passando pela experiência. A compreensão intelectual está entoxicada pelos próprios Três Senhores, e vai até um limite, por isso a prática é importante. Ela traz outra tipo de compreensão, que é uma percepção direta dos fenômenos.
Mas para não ficar sem resposta, podemos falar de uma das partes mais grosseiras da atuação do Senhor da Fala, por ser mais fácil de entender, que é a parte das ideologias e conceitos, como Chögyam Trungpa citou. “Eu sou brasileiro”, o que isso significa, em termos de realidade? Não em termos culturais ou políticos, como as regras criadas pelo ser humano, leis, costumes, linhas imaginárias e a atribuição de características pelo relacionamento histórico. O que é? Se você for à raiz disso, verá que há um sistema de pensamento em operação, que não tem compromisso com a realidade, mas apenas com um tipo de proteção, de poder, defesa, reatividade à insegurança, tentando criar coisas sólidas, identidades, querendo ver coisas impermanentes como permanentes, etc. Mas o Senhor da Fala vai a um nível mais sutil e impregnado, um nível cognitivo, e isso precisa ser percebido para ser compreendido.
Veja então que o Chögyam diz que “se existe um mundo com coisas a que se possa dar nomes, então o “eu”, como uma das coisas nomeáveis, também existe”. Isso está no cerne da visão do Budismo sobre não-eu. Está lá em “eu sou brasileiro”.
De uma forma ou de outro, precisa de aprofundamento e prática.
Um autor que fala disso, especialmente sobre o 2 e 3, é Jiddu Krishnamurti.
NamasTe,
A minha pergunta é: Então, como se livrar o EGO?
Se ele pode estar presente/disfarçado em tudo, como saber, como enxergar, como entender até que ponto isso afeta nossas práticas, escolhas, etc…
Oi Érica, boa pergunta.
Talvez não seja “se livrar” dele tanto quanto é vê-lo, observá-lo, tomar consciência dele. Isso pode trazer uma perspectiva transformadora sobre ele, pois é por não termos nenhuma observação atenta e consciente dele é que há esse “disfarce” e influência. A monja parece tratar aqui dessa necessidade de se definir e/ou ser definido como isso ou aquilo (geralmente algo que nos enaltece, mas nem é necessário que seja enaltecedor), e assim viver sobre uma imagem e não na realidade.
Enxergar e entender é um desafio, é aí que entram as práticas chamadas contemplativas, onde podemos ver nós mesmos em funcionamento. Auto-observação, atenção interior, etc.
Um abraço,