O Caminho de Volta: a conquista do próprio caminho na história da jornalista Téta Barbosa [ARTIGO]

O artigo “O Caminho de Volta” foi escrito há dois anos pela jornalista e publicitária (hoje morando no Recife) Téta Barbosapublicado originalmente na Coluna do Noblat, no jornal O Globo, em 27 de junho de 2011, e sua reprodução acontece hoje aqui com a gentil permissão da própria Teta, depois de ser reproduzido em vários blogs e sites pela Internet (ela tem um blog: Batida Salve Todos). Como o nome sugere, o texto trata de um retorno particular da autora, de um lugar para outro, mas não apenas um retorno, ou um retorno qualquer: é o resgate de quem se é, uma espécie de auto-despertar e a conquista de um caminho, do próprio caminho. Apesar da história da Téta ter vários elementos simbólicos mais fortes – o “apartamento mais alto”, o “carro do ano”, o “filho que quase chamou a babá de mãe”… – é possível que, guardadas as proporções, tenhamos elementos parecidos em nossa vida, e, se for o caso, que  aproveitemos os faróis deste caminho compartilhado abaixo.

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“O CAMINHO DE VOLTA”
Por Téta Barbosa

 

Já estou voltando. Só tenho 37 anos e já estou fazendo o caminho de volta.

 

Até o ano passado eu ainda estava indo. Indo morar no apartamento mais alto do prédio mais alto do bairro mais nobre. Indo comprar o carro do ano, a bolsa de marca, a roupa da moda. Claro que para isso, durante o caminho de ida, eu fazia hora extra, fazia serão, fazia dos fins de semana eternas segundas-feiras.

 

Até que um dia, meu filho quase chamou a babá de mãe!

 

Mas, com quase 40 eu estava chegando lá.

 

Onde mesmo?

 

No que ninguém conseguiu responder, eu imaginei que quando chegasse lá ia ter uma placa com a palavra FIM. Antes dela, avistei a placa de RETORNO e nela mesmo dei meia volta.

 

Comprei uma casa no campo (maneira chique de falar, mas ela é no meio do mato mesmo.) É longe que só a gota serena. Longe do prédio mais alto, do bairro mais chique, do carro mais novo, da hora extra, da babá quase mãe.

 

Agora tenho menos dinheiro e mais filho. Menos marca e mais tempo.

 

E num é que meus pais (que quando eu morava no bairro nobre me visitaram 4 vezes em quatro anos) agora vêm pra cá todo fim de semana? E meu filho anda de bicicleta e eu rego as plantas e meu marido descobriu que gosta de cozinhar (principalmente quando os ingredientes vêm da horta que ele mesmo plantou).

 

Por aqui, quando chove a internet não chega. Fico torcendo que chova, porque é quando meu filho, espontaneamente (por falta do que fazer mesmo) abre um livro e, pasmem, lê. E no que alguém diz “a internet voltou!” já é tarde demais porque o livro já está melhor que o Facebook , o Twitter e o Orkut juntos.

 

Aqui se chama ALDEIA e tal qual uma aldeia indígena, vira e mexe eu faço a dança da chuva, o chá com a planta, a rede de cama.

 

No São João, assamos milho na fogueira. Nos domingos converso com os vizinhos. Nas segundas vou trabalhar contando as horas para voltar.

 

Aí eu lembro da placa RETORNO e acho que nela deveria ter um subtítulo que diz assim: RETORNO – ÚLTIMA CHANCE DE VOCÊ SALVAR SUA VIDA!

 

Você provavelmente ainda está indo. Não é culpa sua. É culpa do comercial que disse: “compre um e leve dois”.

 

Nós, da banda de cá, esperamos sua visita. Porque sim, mais dia menos dia, você também vai querer fazer o caminho de volta.

 

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Esse caminho de volta não precisa ser tão geográfico assim, é mais um resgate interior do que uma viagem exterior. Não é preciso sair de uma cidade e ir pra outra (se você nasceu em São Paulo, por exemplo, como faria?) – aliás, de nada adianta uma viagem se não houver um despertar de si mesmo. Poderia ser até um terrível auto-engano. E esse despertar nem precisa significar o abandono de nada em particular. Mas é, necessariamente, a conquista de algo genuíno e individual: o próprio caminho. Os próprios olhos. O próprio coracão. E as próprias pernas (pra chegar até lá, ou aqui).

O texto da Téta também significa o abandono daquela busca da “cenoura na ponta do caniço”. Ou da vida de “hamster correndo na gaiola”. E pode acontecer em qualquer lugar e qualquer dimensão da vida, não só na profissional – Adyashanti falou do auto-despertar no próprio caminho espiritual, uma trilha cujos destinos e cujas “placas de Fim” parecem tão óbvias, mas que não são: “O que a busca realmente é pra você?” perguntou ele num de seus vídeos (post de 08/12/11).

Esse texto me chegou num momento curioso: eu mesmo estou numa viagem de retorno, geográfica e não-geográfica. Escrevo de uma cidade no meio do Rio de Janeiro, minha antiga casa, e da minha nova casa no Sul (não no meio do mato, mas bem longe do apartamento mais alto do bairro mais nobre…). “Esse texto chegou com dois anos de atraso pra mim”, contei à Téta. “Chegou na hora certa“, ela respondeu. Na hora certa.

E talvez possa acabar chegando na hora certa de outro alguém também.

Boa viagem.

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Compartilhado por Priscilla Borges.

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14 Comments

  1. says: Júlio César

    Achei bem interessante a forma simples como a autora compartilha a sua experiência e, também, o comentário onde é dito que “esse caminho de volta não precisa ser geográfico”. As vezes a mudança geográfica auxilia nossa mente a perceber que a nossa antiga “realidade” não é A realidade. Mas não necessariamente. A nova vida tem que vir acompanhada de uma predisposição a mudança e a perceber e sentir o valor das pequenas coisas que nos aproximam de nossos entes queridos, de nós mesmos e de uma vida mais saudável. Pequenas coisas que nos permitem viver o presente. Vejo que o “retorno” é voltar a nossa atenção para o aqui e agora.

  2. says: Pedro

    Com uma mudança de pensamento podemos encontrar nossa ALDEIA em qualquer lar, não precisa ser no campo, basta que vejamos o presente como o momento certo para sermos felizes e aproveitarmos aquilo que temos em mãos. Ótimo texto.

  3. says: Ale

    Posso dizer que também chegou na hora certa para mim. Moro na cidade grande, sou concursada e tenho um ótimo horário de trabalho, entro bem cedo e saio cedo, o que me proporciona tempo para eu viver, fazer minhas pequenas coisas do dia a dia, estar comigo mesmo e os que eu amo, contemplar. Há pouco tempo, estava na dúvida se eu fazia um novo concurso. Seria para ganhar mais, e trabalhar mais. Quando eu comparei o que eu teria e o que eu já conquistei, eu pensei “mas eu sou feliz assim, com o que tenho, com o meu quarto e sala alugado, sem grandes ostentações, andando de transporte público, aproveitando o dia nas minhas corridas e esportes ao ar livre, será que temos q

  4. says: Ale

    Posso dizer que também chegou na hora certa para mim. Moro na cidade grande, sou concursada e tenho um ótimo horário de trabalho, entro bem cedo e saio cedo, o que me proporciona tempo para eu viver, fazer minhas pequenas coisas do dia a dia, estar comigo mesma e com os que eu amo, contemplar. Há pouco tempo, estava na dúvida se eu fazia um novo concurso. Seria para ganhar mais, e trabalhar mais. Quando eu comparei o que eu teria e o que eu já conquistei, eu pensei “mas eu sou feliz assim, com o que tenho, com o meu quarto e sala alugado, sem grandes ostentações, andando de transporte público, aproveitando o dia nas minhas corridas e esportes ao ar livre, será que temos que nos escravizar ainda mais só por causa de mais alguns trocados? por que essa ânsia de ter mais e mais? por que esse foco tão exacerbado na profissão?”. aí eu vi que tenho um tesouro nas mãos e quase pensei em trocar por conta de dinheiro, pra fazer expediente igual a todo mundo, entrando com o dia começando e saindo de noite, indo pra casa… enfim, consegui de fato valorizar e ser feliz com o que já tenho, e o que é muito, tempo livre para apenas “ser”. saudações a todos!

  5. says: Madalena

    Não a conheço mas li o que publicou sobre sua aldeia, quero parabenizá-la Téta Barbosa pelo seu tão benvindo “retorno”, nobre mesmo é se assimilar que podemos “retornar” sem nada a perder e sim a ganhar. Certamente, você ganhou mais amigos, saúde. qualidade de vida e redescobriu seus familiares que devem estar amando a sua coragem. Felicidades! Eu também estou me preparando para “retornar”. Abraços. Madalena Oliveira (Fortaleza-Ce).

  6. says: pedro

    Olha este texto é um tapa na cara ou seja uma lição que muitos tem que usar em suas vidas,eu ja fiz uma mudança parecida com esta a 10 anos e estou cada vez melhor aceitei seguir Jesus e estou tentando ser um verdadeiro cristão.

  7. says: pedro

    ótimo texto temos que ser fiel com nós mesmo e aceitar que somos falhos; eu ja fiz uma mudança a 10 anos e estou cada vez melhor aceitei Jesus como meu único senhor e salvador,estou tentando segui-lo com lealdade. Assim qualquer um pode ser feliz a partir de que mude seu interior pois só há mudança quando amamos a nós mesmos ai sim podemos ter mudança de verdade.

  8. says: Wagner Grillo

    E preciso ter coragem pra retornar, sonhamos em facilidades más o preço é alto temos dificuldade em abri mão das conquistas e ficamos cegos ao engano à se fossemos fortes e voltar à traz começar tudo de novo.
    Lindo texto, acabei de virar seu fã.

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