˜Budismo é o novo ópio do povo˜, diz Mark Vernon, fundador da School of Life, em um artigo do Guardian (em inglês). A tese dele é que o budismo virou um objeto ornamental, que “suplementa o consumismo“, e não que de fato resista a ele. A tese é herdada do filósofo e sociólogo Slavoj Žižek, que vai muito mais fundo e diz que vários crenças e comportamentos budistas são mais suplementares do que transformadores ou holísticos. Será?
O artigo surgiu do fato de David Beckham ter uma estátua de Buda na sua sala, e isso ter aparecido num programa de TV britânico, e então virou o assunto de um evento chamado “Uncertain Minds“, que aconteceu em Londres na segunda-feira passada, dia 21. O vídeo da discussão está no YouTube. Ter uma estátua de Buda na sala, segundo Vernon, seria uma maneira de conseguir alívio (ou de lembrar dele), enquanto se deixa o mundo do estresse e do consumo intacto — no sentido de que não há contato entre os dois mundos. A estátua seria, assim, uma pílula. Um ópio.
Acho que o que a gente deve questionar nessa tese, nesse insight (porque é uma boa observação), são nossas próprias atitudes, e não o que pode estar acontecendo com o Budismo (porque isso acontece com tudo, aconteceu e acontece com o Yoga quando veio pro Ocidente, aconteceu com o Cristianismo há muitos séculos, etc). A questão é: o que significa pra nós ter estátuas de Budas (ou Krishnas ou Cristos etc) nas nossas salas e quartos? Nossa vida é realmente transformada, genuinamente (e não por força da obrigação ética), pelo ensinamento de Buda? Pelo silêncio da meditação? A estátua na sala é uma inspiração ou é uma imagem para criação de uma identidade que continua a viver em estresse, conflito e consumismo desenfreado? Onde está Buda?
Qual é o Buda que temos dentro de nós? Qual o Buda seguimos? É um ornamento do capitalismo? O Budismo está contido no nosso Capitalismo? Ou o Capitalismo está contido no nosso Budismo?