A única moeda que realmente tem valor (para além da morte), por Chagdud Tulku Rinpoche

Desde Milarepa (1052-1135), com sua famosa frase “Os assuntos do mundo prosseguirão eternamente, não atrase sua prática da meditação”, ou antes até, que o Budismo tem uma preocupação veemente com a urgência da dedicação à prática espiritual. Neste trecho do livro “Vida e Morte no Budismo Tibetano“, o mestre Chagdud Tulku Rinpoche (1930-2002) renova e re-enfatiza esse objetivo de não perdermos tempo com objetivos mundanos, que são passageiros e não serão levados a nenhum lugar depois de nossa morte. Como ele compara, nossas conquistas mundanas são como uma moeda estrangeira que não tem valor em outro país, e, pior, sequer pode ser carregada para além dele.

Se a morte é inevitável, como inexoravelmente é, então porque não pensamos direito sobre a nossa vida e o que ela pode significar num contexto maior? Porque os objetivos mundanos são tão persistentes, mesmo quando percebemos que eles não se mantém por muito tempo, e que logo estamos atrás de outro, e de outro, e de outro? Tal qual fantasmas famintos, com pouco chão sólido sobre os pés e muito movimento compulsivo pelo próximo e o próximo e o próximo.

E no final, o que temos?

Abaixo, três trechos do livro selecionados sobre esse tema. O livro pode ser encontrado numa edição mais recente (Editora Makara, 2019) na Amazon.

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VIDA E MORTE NO BUDISMO TIBETANO (trecho)
Por CHAGDUD TULKU RINPOCHE

“O tempo é muito precioso. Não espere até que esteja morrendo para entender sua natureza espiritual. Se você entender agora, vai descobrir recursos de bondade e compaixão que você não sabia que você tinha. (…)

Nossos relacionamentos uns com os outros são como o encontro casual de dois estranhos em um estacionamento. Eles olham um para o outro e sorriem. Isto é tudo que há entre eles. Eles saem e nunca mais vêem um ao outro. Isso é o que a vida é — apenas um momento, um encontro, uma passagem, e então ela se vai. (…)

Nossas prioridades mundanas podem ser irônicas. Nós colocamos primeiro aquilo que pensamos que queremos mais; então descobrimos que nosso querer é insaciável. Pagar a casa, escrever o livro, fazer o negócio ser bem sucedido, ajeitar a aposentadoria, fazer a grande viagem — coisas que são temporárias, no topo das nossas listas de prioridades consomem todo nosso tempo e energia. E então, no fim da vida, olhamos para trás e imaginamos o que todas estas coisas significaram.

Isso é como alguém que viaja num país estrangeiro e usa a moeda daquele país. Então a pessoa chega na fronteira e se surpreende ao saber que não pode trocar nem levar a moeda daquele país para fora. Desta forma, nossas posses e conquistas mundanas não podem ser levadas através do portal da morte. (…) A única moeda que tem qualquer valor quando viajamos através dos limites da morte é a nossa realização espiritual.”

CHAGDUD TULKU RINPOCHE (em “Vida e Morte no Budismo Tibetano)

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