É Sempre Agora, por Sam Harris: “provavelmente não há nada mais importante para entender do que isso”

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É Sempre Agora” é uma vídeo-montagem inspiradora de 6 minutos (assista abaixo) que usa um discurso do conhecido neurocientista e filósofo ateu estadunidense Sam Harris e o que ele chama de “uma verdade realmente libertadora sobre a mente humana“: o fato de que, “em termos de experiência, a realidade da sua vida é sempre agora“. Produzida por um usuário que assina apenas como AJ Salas, a montagem (que usa o áudio original sem edições) já tem quase 1 milhão de reproduções no YouTube. O discurso começa falando, na verdade, da morte, de como “a maioria de nós faz o máximo para não pensar na morte”, para então, em algum momento da vida, numa epifania previsível, se arrepender de não ter dado importância para as coisas certas.

As coisas certas estão sempre no único momento em que podemos vivê-las, o resto provavelmente virará arrependimento. Pelo menos para aqueles de nós que vivem o que Harris chama de “uma vida normal”. Neurocientista, Sam Harris nos lembra que esse agora “não é nem mesmo bem definido em termos neurológicos porque nós sabemos que inputs do cérebro surgem em diferentes momentos e a consciência é construída em camadas de inputs cujo sincronismo tem que ser diferente. Nossa consciência do momento presente é, em um sentido relevante, uma memória”. Ou pelo menos é o que a Neurociência consegue perceber e afirmar hoje.

Mas talvez a melhor compreensão seja viver de fato nesse momento, inteiro. Ontem, coincidentemente, participei de uma conversa pública no Espaço Una Yoga, em São Paulo, cujo tema era “Viver o Agora Sem Deixar Isso Pra Depois“. Uma das pautas foi elucidar porque não permanecemos na experiência presente se já (aparentemente) entendemos bem o que isso significa. Cada pessoa tem uma fórmula, uma maneira de tentar permanecer aqui e agora, ou de voltar pra ele, e isso mostra o quão difícil é, mesmo para praticantes de décadas. Um dos participantes, o monge Satyanatha, trouxe um ponto importante: “Nós fugimos do presente porque temos medo de descobrir que somos muito poderosos se vivermos o presente completamente. Tememos descobrir que não seremos mais aquela vítima, que não decepcionaremos ninguém, que estaremos livres além da conta”.  É como se a mente estivesse presa num modo de medo permanente desse poder próprio, tentando manter uma outra imagem, uma outra agenda, uma configuração de não-soberania de si mesma. Isso é que nos leva para outro lugar, a agir sem presença, e essa é a “vida normal” que Harris descreve. A vida do qual vamos nos arrepender muito em breve.

O discurso de Harris é contundente e algumas das imagens escolhidas enfatizam essa mensagem com uma preciosidade criativa única — como as cenas de noticiários, a pose de Angelina Jolie, o facho de luz se movimentando na escuridão da caverna, a visão panorâmica do trânsito em time-lapse, uma pessoa atravessando um rio numa pequena corda (há imagens-clichês também, mas de certa forma se encaixam). “Não é uma questão de informação nova, ou de mais informação. Isso requer uma mudança de atitude na atenção que você presta no momento presente“.

O vídeo segue abaixo, e, logo depois, a transcrição de um dos trechos. Para ativar as legendas, use o recurso “Closed Captions” e então seleciona a tradução automática para o português, nos comandos do próprio vídeo.

“A maioria de nós faz de tudo pra não pensar sobre a morte. Mas há sempre uma parte das nossas mentes que sabe que isso não pode durar pra sempre. Parte de nós sempre sabe que a visita a um médico ou um telefonema irá duramente nos lembrar do fato da nossa própria mortalidade ou daqueles próximos de nós. Eu estou certo de que muitos de vocês nessa sala experimentaram isso de alguma forma e devem saber o quão sinistro é, ser subitamente arrancado do curso normal da sua sua vida para apenas se entregar em tempo integral à tarefa de não morrer, ou de cuidar de alguém que esteja morrendo. Mas a única coisa que as pessoas tendem a ser dar conta em momentos como esse é que elas desperdiçaram muito tempo quando a vida era normal. E não é só sobre o que elas fizeram com o seu tempo. Não é só sobre gastar tempo demais trabalhando ou checando e-mails compulsivamente. É que elas se importavam com as coisas erradas. Elas se arrependem sobre aquilo com o quê se importavam. Sua atenção estava voltada a preocupações insignificantes, ano após ano, quando a vida era normal. E isso é um paradoxo é claro, porque todos nós sabemos que essa epifania está chegando. Digo, você não sabe que está chegando? Você não sabe que chegará um dia em que você estará doente, ou alguém próximo a você irá morrer, e você vai olhar pra trás para o tipo de coisas que capturavam a sua atenção, e vai pensar: “O que eu estava fazendo?”.
Sam Harris, em “Death and The Present Moment”

E nós, agora?

O que estamos fazendo?

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A palestra original, intitulada “Death And The Present Moment“, de 2012, completa em inglês (56 minutos), segue abaixo.

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3 Comments

  1. says: MisterKey

    Uma coisa muito interessante sobre aquilo que percebemos como sendo o “agora” é que esse “agora” também já é o passado porque os nossos sentidos e mente demoram uns milésimos de segundo para captar as informações e processar. Talvez seja por isso que o Eckart Tolle fala de um “tempo psicológico” ou de um “tempo do relógio”, e define o “agora” como sendo um “não-tempo” ou “ausência-do-tempo”, percebido apenas quando se entra num estado meditativo.

    Obrigado Nando Pereira por sempre publicar conteúdo de ótima qualidade nesse blog.

  2. says: Thanius Scoralick Sarchis

    Ele ilustra de forma muito inteligente a importância do agora, usando para isso uma das questões fundamentais para qualquer ideologia, religião ou filosofia: a morte. Acho que em alguns minutos conseguiu mostrar um ponto de vista profundo, resumindo vários pensamentos com uma lucidez difícil de ser encontrada. Uma das melhores palestras que já vi. Concordei com cada palavra dita. Obrigado por compartilhar!

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