Observando o que a mente pode fazer com nossas experiências de viver, por Tarthang Tulku

A mesma mente que parece “abrir” o mundo e nos permite ver e experimentar tudo ao redor é a mesma que nos limita e ilude (de acordo com a capacidade que temos de usá-la). Abaixo, um trecho do livro “Conhecimento da Liberdade – Tempo de Mudança” (Knowledge of Freedom: Time to Change), do lama tibetano Tarthang Tulku (Gestos de Equilíbrio), que fala sobre a mente e como é seu funcionamento em nossas experiências de viver, com insights e “narrações” valiosos que merecem grande reflexão e observação.

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Conhecimento da Liberdade: Tempo de Mudança
Por Tarthang Tulku

“Cada pensamento é uma oportunidade para observar e aprendar de nossa mente. Com a experiência, nós podemos começar a ver como os pensamentos podem realmente criar confusão e prolongar estados sofríveis da mente. Eventualmente ficará mais óbvio como um pensamento gera outro, e como um momentum de pensamentos tende a se construir sobre ele mesmo, criando ciclos e ciclos de impulsos através da mente.

Assim como um tecelão cria um tapete ao estabelecer fiamentos básicos de um tecido e ao embelezá-lo com padrão após padrão, nossas mentes parecem tecer pensamentos e imagens em replicações infinitas. Quando nós pegamos o início de um pensamento, podemos observar como ele começa com um simples padrão que é aberto e espaçoso, crescendo mais denso assim que as imagens se entrelaçam em padrões mais complexos.

Estimulando memórias e associações que evocam universos de percepções e emoções, os pensamentos perdem sua abertura enquanto vão se proliferando e entrelaçando. Simultaneamente, podemos perceber nossas faculdades críticas funcionando, categorizando nossa experiência como felicidade, depressão, êxtase, tédio, raiva, como nobre ou vergonhosa.

Assim que cada experiência é selada e testemunhada pela mente, nossos pensamentos sobre ela se tornam mais substanciais e “reais”; nós então nos identificamos com a experiência e reagimos a ela de acordo com nosso condicionamento. De todas as possibilidades que temos para ver uma experiência particular, nós podemos escolher chamá-la de ‘prazer’. Então nós projetamos a experiência fora de nós mesmos, e decidimos que nós queremos ter aquela experiência. Buscando coisas que nós associamos com prazer, encontramos nossa própria imagem do que o prazer ‘deveria ser’. Pegando um objeto, esperando experimentar prazer, e querendo prolongá-lo, nós sentimos prazer por apenas um curto tempo. Quase imediatamente, nós sentimos ele escapar.

Observando o declínio e o fluxo dos pensamentos nos permite ver como a mente coloca etiquetas nas percepções, sentimentos e emoções, e como ela então produz comentário após comentários sobre o que estamos experimentando. Vendo esses padrões de pensamentos sendo tecidos em frente aos nossos olhos, podemos perguntar se eles criam um tecido sólido. Talvez seja possível ver a nós mesmos – não apenas nossa personalidade, aparência e ações, mas a raiz do nosso ser – de uma maneira diferente. Um ponto de vista aberto e fresco assim poderia aliviar a mente das tendências que congelam a experiência e nos tornam vulenráveis à confusão. Uma vez sabendo que podemos soltar as amarras dos nossos conceitos que nos emaranham em dor emocional, nós teremos dado o primeiro passo em direção a uma nova compreensão que poderia transformar a qualidade de todas as nossas experiências.

Com insights mais claros sobre quem somos, o que somos, porque percebemos, sentimos, entendemos e interpretamos da maneira que fazemos, tudo que sabemos pode ser considerado a partir de uma inteira nova perspectiva.”

~ Tarthang Tulku, em “Knowledge of Freedom: Time to Change” (p.298 e 299)

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1 Comment

  1. Por esta grande, permanente, ou intermitente, relação entre o pensamento e a experienciação, envolvendo, naturalmente, a emoção e “a sensibilidade”, é de importância vital “o exemplo”!… O “exemplo” que recebemos: da “sociedade em geral”, dos pais, dos amigos, dos professores, dos políticos… da “História” e, também, “da consciência que desenvolvemos – e podemos desenvolver – de nós próprios enquanto seres “em construção” que buscam a “Felicidade” no encontro connosco-mesmos e com “o outro”, com “OS OUTROS”!… Sem nos “compreendermos e aceitar-mo-nos” como será possível entender e participar num Mundo melhor?

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