Milarepa: “Pra mim, aparências são textos”

O tweet de Bill Schwartz contendo a frase de Milarepa (que está no título) ontem foi um estalo, uma dica tão simples e preciosa vinda do século XI para nossos dias repletos de livros e ensinamentos e buscas em textos. E Twitter. A impermanência, como ele diz, está aí, ao nosso redor, em todo lugar. Não é preciso abrir um livro sequer pra descobri-la. Não é preciso traduzir nem ler nada. Vire seus olhos do monitor onde estão essas palavras e você verá toda a impermanência em tempo real. Até mesmo no que parece estático e permanente, como o seu teclado, um celular ou uma garrafa d’água, tem bilhões de elétrons girando incessantemente em uma velocidade imensa, em interação dinâmica com toda a matéria ao redor. Forçando a barra um pouquinho (ou nem tanto), podemos ver essa frase “Para mim, as aparências são textos” na imagem já clássica do filme Matrix, quando Neo passa a enxergar a realidade pela primeira vez e tudo vira texto verde caindo do céu.

A frase também está no livro “An Ocean of the Ultimate Meaning” (teachings on Mahamudra: a commentary on Wangchuk Dorje’s Ngedön Gyamtso), dos autores Khenchen Thrangu, Thrangu (Rinpoche), Peter Alan Roberts, que fala dos textos Mahamudra e da tradição do ensinamento de Milarepa. O livro está no Google Books e abaixo o trecho completo que contém a frase.

“Como meditar sobre a impermanência? Há vários métodos dados nos ensinamentos e comentários do Buda, como Milarepa disse, “Pra mim, as aparências são como textos“. Ela tomava os próprios fenômenos como textos, ao invés de tentar compreendê-los através dos textos que são tinta preta sobre fundo branco. Não temos que ler sobre a impermanência pra entendê-la. Podemos apenas olhar para elas; pro mundo e como ele muda; pros nossos amigos e família ver como as mudanças acontecem a eles. Podemos olhar pro nosso próprio falar, pro nosso corpo, mente e entender a impermanência, para não mais planejar o que vamos viver nos próximos quinhentos ou mil anos. Podemos ganhar essa compreensão da impermanência observando nossa vida e suas aparências. (…)”.
~ An Ocean of the Ultimate Meaning

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