“Minha história não é agradável, não é doce nem harmoniosa como as histórias inv

“Minha história não é agradável, não é doce nem harmoniosa como as histórias inventadas… Tem um tom de tola e caótica, de loucura e de sonho. Como a vida de todas as pessoas que não querem mais mentir para si mesmas”.
// HERMAN HESSE

Herman Hesse contra o Instagram!

Brincadeira… Mas com fundo de verdade.

Vocês lembram daquela frase publicada aqui há 2 semanas, “As pessoas estão sofrendo e morrendo sob a tortura do eu fantasioso que estão falhando em se tornar”, do Will Storr? Então, ela tem o mesmo DNA desta frase de Herman Hesse, autor de “Sidarta”. O eu-fantasioso é nada mais nada menos que o protagonista da nossa história-inventada.

É o eu-que-imaginamos-que-seremos que cria um enredo, uma realidade paralela, e obscurece a visão do eu-real. Esse eu aqui, “que ainda não esta lá”. Esse eu aqui, que consideramos um eu “de passagem”. Um eu menos importante do que aquele da nossa história.

Podemos conectar essas duas frases a uma terceira, que diz que “a decepção é a carruagem mais confiável para a iluminação” (de Chogyam Trungpa Rinpoche). A decepção é com as frustrações com nosso eu fantasioso e com o fracasso da nossa história inventada. A decepção é o evento que nos aterissa (forçadamente, é verdade) no chão da realidade. Nós não gostamos, nós esperneamos, levamos um tempo grande para assimilar, mas, em alguns casos, conseguimos. Em outros, há uma eterna negação e amargura. Ou uma multiplicação das tentativas de corrigir ou renovar as possibilidades do eu fantasioso ser realizado. Para tentar manter de pé uma boa história (inventada).

Mas podemos nos inpirar em Herman Hesse, e desfantasiarmo-nos. E desinventar nossa história. Viver o que está acontecendo de real, essa vida aqui agora, do jeito que está, meio quebrada, meio enferrujada, meio torta, não tão nobre, meio capenga… mas com TUDO que se é.

“Como a vida de todas as pessoas que não querem mais mentir para si mesmas”.

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15 Comments

  1. says: Teresinha Adoni

    Me identifico! Gosto de lidar com a vida real. Com luz e sombra . Com toda a dualidade ( e os vários espectros de pluralidade).Esse texto de Hermann Hesse encerra o mistério da vida: tornar -se quem de fato , você é.???

  2. says: Luciana Hastenreiter

    Isso, minha história não é nada agradável. Mas agora eu me conheço e não minto mais para mim. Tbm sou finalmente dona de mim mesma.

  3. says: Daniela Fregonese

    Lindo post!
    O trecho citado é de uma verdadeira obra prima, embora todos textos de Hesse sejam avassaladores…
    Eu meio que vivo como a loba da estepe ? e sempre me emociono em contato com eles.
    Obrigada. Boa semana a todos!

  4. says: Lene Saldanha

    Primeiro: “brincadeira…mas com fundo de verdade”. Gaitei. Alto. Segundo: a prova da nossa vida capenga é a nossa necessidade de mostrar sempre o contrário, ou seja, mentir. Repetidamente. Viciosamente. Terceiro: sim, os posts se complementam. Fugir, negar, viver em busca da ” luz da perfeição “como mariposas cegas…E morrer sem enxergar nada além do brilho artificial das distrações sempre tão lindas, pomposas e felizes. Um soco no estômago! Sigo por aqui percebendo cada vez mais minha vida sem tanta nobreza…meio capenga, meio torta…Às vezes dói tanta lucidez. Mas já aprendi com Clarice que a lucidez, mesmo perigosa, é e será sempre a nossa salvação. Porém, confesso ainda, que às vezes também, e nos dias mais frágeis, me pergunto se só eu sou capenga, torta e com defeitos…Daí abro o Instagram ( que adora se alimentar das fantasias do eu perfeito). Sorrio. E meu senso de humor não perde a oportunidade de dizer: sejamos capengas, tortos e defeituosos enquanto há tempo. Pois quando a “perfeição” nos alcançar, estaremos já completamente mortos” em nós mesmos. (E dessa morte eu não me permito morrer! ) Obrigada, Nando. Esse post tem que ser salvo pra gente de vez em quando reler e nos salvar de nós mesmos. Ah, e obrigada, Hermann Hesse.????

  5. says: Nessa

    Pois é. Eu, na lida profissional da voz, às vezes a “feiura” da vida, do ser humano, bate (pensei primeiro “de alunos”, mas minha também). Não é instagramável. Como alguém disse aí acima “a prova da nossa vida capenga é a necessidade de mostrar o contrário”.

  6. says: Douglas Santos

    Não me canso de vez ou outra voltar e ler esta publicação. Quanta clareza, quanta lucidez.
    Sim, dói, e as vezes dói muito. Espernamos, e como. Mas como é bom também, quando um momento de clareza acontece e podemos perceber que, caso não vivamos a vida do jeito que ela é agora, talvez passemos pela vida sem nunca chegar a ser aquilo que fantasiamos, e quando nos dermos conta tallvez não tenhamos vivido nem a vida tal como ela se apresenta, nem a vida que fantasiamos alcançar para podermos ser felizes.

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