O CARMA É A EVIDÊNCIA
“O carma nos dá evidência clara e precisa de que o que nós fazemos é nossa própria ação, e que recebemos o resultado de nosso próprio estado de ser, em vez do trabalho de um planejador divino que planeja o mundo, que nos dá tarefas a pessoas em particular, que pune alguns e que recompensa outros. A analogia tradicional que se usa para a criação do carma é a roda do oleiro (ceramista, tijoleiro). Conforme a roda gira continuamente, você joga argila na roda e a argila se torna uma vaso. O constante esforço de tentar manter a si mesmo é como o girar da roda do oleiro. Tentar solidificar nossas ações para o propósito da nossa segurança é como jogar argila na roda. Então, o vaso ou a xícara é feita – e nós criamos nosso próprio caixão, nosso próprio paraíso ou inferno ou o que seja.”
– CHOGYAM TRUNGPA RINPOCHE (em “Cynicism and Magic: Intelligence and Intuition on the Buddhist Path”)
O carma é um processo riquíssimo para investigação e percepção da realidade de cada um de nós. Para observação do que “nos acontece”. E do que isso tem a ver com o que fazemos, como agimos, como pensamos, nosso estado de ser. “O carma nos dá a evidência clara e precisa”: isso é um convite à observação profunda dos processos que nos ocorrem, e uma rejeição das crenças dadas. Para que não sejamos alvos de qualquer crença, é necessário observar as evidências. Elas nos dão algum caminho para o que é verdade e o que é ilusão, ignorância.
Quando Trungpa fala de “manter a si mesmo”, está falando de manter a idéia de si mesmo, uma imagem, identidade, um eu sólido e todos os apegos e ações necessárias para isso. É como uma xícara ou um vaso recém elaborado da argila. Agora o oleiro vai preservá-lo, vai cuidar dele, para quem ninguém toque, para que não caia, para que vá ao forno numa certa temperatura, para que não rache, para que não quebre, para que receba um verniz específico, uma tinta, que exiba uma cor, uma função, que alguém se interesse por ele, para que seja elogiado, amado, para que venda, para que seja usado, etc etc etc.
Contemplemos nosso carma, nosso estado de ser, nosso vaso-eu.
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