Não tenha pressa mas não perca tempo. Sempre gostei dessa frase, mas receio que

Não tenha pressa
mas não perca tempo.

Sempre gostei dessa frase, mas receio que ela tenha perdido seu poder orientador e medicinal em nossa época – em que o tempo recebe mais reclamações do que apreciação. Ele falta, ele é pouco, ele é sempre insuficiente. Ele é uma problema a ser resolvido “o tempo todo”.

Não perder tempo hoje é sinônimo de ter pressa, nada mais. A segunda parte da frase cancela a primeira. Quem consegue não perder tempo de maneira lenta, presente, inspirada? Quem consegue não perder tempo desfrutando da coisa que vive nesse momento, realmente? Quem consegue não perder tempo esquecendo-se do que tem pra fazer a seguir, dos planos do dia, das metas da semana? Quem consegue não perder tempo esquecendo-se do tempo?

“É, meu amigo, eu não perco tempo!”, diz, com orgulho, aquele que tem “pressa de viver”. Pressa de viver?

Não ter pressa é uma arte perdida. Não perder tempo é a alucinação coletiva da modernidade.

Como sair do transe do tempo psicológico cotidiano em que todos estamos imersos e dar-se tempo, sem que esse tempo esteja dentro de um agenda? Como desligar internamente o cronômetro da vida diária (semanal, mensal, anual), e retornar à terra dos vivos?

Acho que precisamos quebrar a placa de baixo e viver somente com a de cima até recuperar radicalmente a própria presença em cada momento.

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Arte: @umcantoladecasa ?

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