New York, 6 agosto, 930
Meu caro Mário de Andrade,
Muito há de você de espantar-se com esta, vinda d’além túmulo, dum morto que você matou há três anos atrás. Mas há de tudo na vida, até mortos que escrevem cartas aos matadores.
O que me traz é um livro seu – Macunaíma. Tenho cá um editor que deseja conhecê-lo, com palpite que é coisa editável em inglês. Se você está por isso, mande-me um exemplar e se achar que um morto pode representar um vivíssimo, mande também autorização para eu tratar com o homem.
É incrível como dá voltas o mundo! Vou eu ajudar o Mário a publicar-se neste país e ajudar na tradução. Vou sair da cova só para isso. Depois recolherei de novo, porque não existir é a delícia das delícias, meu caro Mário.
Hurry up. Manda logo dois exemplares e depressa.
Do seu matado
M.Lobato
Monteiro Lobato
3505 Broadway,
New York City
(da Cult, pra não deixar dúvida)
De Lobato para Mário
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