O monge Asanga viveu 800 anos depois do Buda histórico, mas se vivesse hoje talvez tomasse a mesma atitude daquela época: insatisfeito com a prática budista que falava e falava e falava de compaixão, mas não praticava de fato, saiu em retiro em busca de meditar e ver Maitreya, o próximo Buda, o Buda da Compaixão, do Amor, e pedir-lhe conselhos. Essa história é contada por Robert Thurman, autor, pesquisador e monge ordenado pelo XIV Dalai Lama, no vídeo da sua palestra do TED abaixo, “Expandindo Seu Círculo de Compaixão“, gravada em 2009. Nela, ele explica a sequência progressiva de prática para desenvolver a compaixão de fato na vida (e não só no discurso), com todas as outras pessoas, começando do começo (sic).
“Primeiro é preciso criar essa base de igualidade. Reduzimos um pouco a ligação com aqueles que amamos — só na meditação — e abrimos a mente àqueles que não conhecemos. E reduzimos a hostilidade e o “não quero ter compaixão com eles”, sendo eles os caras maus, os que odiamos ou não gostamos. E assim não odiamos mais. Igualamos. Isso é muito importante.”
— Robert Thurman, no TED
A prática é chamada de “Método Causal em Sete Etapas para Desenvolver Compaixão“, e vai progressivamente ampliando o círculo da compaixão desse primeiro estágio, onde baixamos a guarda do ódio e neutralizamos sentimentos negativos, e instauramos uma igualdade entre todos, sejam conhecidos ou desconhecidos. Através de sete passos, chega-se à compaixão universal. Além de produzir a felicidade pessoal e ao mesmo tempo estar agindo em harmonia e paz com os outros seres ao redor, essa prática permite uma compreensão mais profunda sobre a existência humana, compreensão esta que Albert Einstein tinha e que está citado no início do discurso de Thurman:
“Gostaria de abrir citando uma maravilhosa frase de Einstein, só para vocês saberem que o grande cientista do século 20 também concorda conosco e pede para agirmos. Ele disse: “Um ser humano é parte de um todo, que chamamos de universo, uma parte limitada por tempo e espaço. Ele experimenta o mundo, seus pensamentos e sentimentos, como se fosse algo separado do resto, mas essa separação é como uma ilusão de ótica da consciência. Essa ilusão é como uma prisão para nós, que nos restringe a desejos pessoais e afeição pelas pessoas próximas de nós. Nossa tarefa é a de sair dessa prisão aumentando nosso círculo de compaixão, e abraçar todas as criaturas vivas e toda a natureza em seu esplendor.”
— Robert Thurman, no TED
Segue o vídeo (18min) da palestra de Robert Thurman, com legendas em português:
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Maravilhosa lição! Já percebi como evoluir requer disciplina, além do querer obvio, e para a compaixão, algo tão simples em nosso ver, também requer muita prática, evitando estancamentos.
A compaixão me soa bem familiar à gratidão, pois uma vez que percebemos a importância do outro e do todo, distante e tão junto de nosso “mundinho”, tudo se torna harmônico, como deve ser…
Muito grato, Nando!
Concordo com vc Marcelo, gratidão assim como qualquer outro sentimento elevado requer esforço, ou seja, acredito que a nossa evolução tem que ser um acto consciente de esforço.
Relativamente ao que é dito acerca da compaixão, ocorreu-me uma passagem que li algures, mas acerca do amor, mas acho que também se pode aplicar à compaixão- fala acerca da dificuldade de amar o próximo.
Então dizia assim: primeiro exercite seu amor com algo mais fácil – ame as estrelas – é fácil amar algo que está tão longe.
Depois, ame as plantas e as árvores – estão mais próximas de você, mas ainda assim é fácil amar uma planta.
Agora passe para o seu gatinho ou cachorro, ame seu animal – mas não se esqueça:1-que ele nem sempre vai corresponder ao que vc espera dele; 2-o amor para o ser tem que ter continuidade e linearidade.
Depois que vc amar seu animal, suba a fasquia e comece a exercitar seu amor por um semelhante, aí é duro. Se for da família o grau de dificuldade é aceitável, mas um estranho. Como é difícil amar um semelhante. E amar um semelhante que te magoa? Pocha!! Aí já é demais (risos – Estava a brincar como é óbvio)
Mas este exercício me lembra a distância a que eu estou do verdadeiro amor.
Cumprimentos e obrigado
Excelente, Cristina! Concordo completamente contigo, e acabei de refletir o quanto é cômico pensar que é duro fazer algo tão simples e natural e ainda trágico, não nos condenando, pois, obvio, não temos tal intenção, mas nos falta a consciencia disso devido a confusão neste mundo. O exercicio de fato vai nos aproximar de evoluir nisto, e não se importe com a distancia, pois é mera ilusão mental, tudo acontecerá no exato momento, sem duvidas!
Cumprimentos e obrigado tambem!