Vídeo raro: entrevista de Erich Fromm a Mike Wallace, em 1958, sobre política, liberdade, amor e fracasso [VÍDEO]

“Se você pegar o americano médio, e os estudos tem mostrado isso, ele está realmente “envolvido” apenas com seus problemas pessoais, no que tocam sua saúde, seu dinheiro e sua família. Ele não está envolvido com sua sociedade. Ele fala a respeito. Mas quando eu digo “envolvido” eu quero descrever aquilo que faz as pessoas perderem o sono às vezes. E o homem médio americano nunca perde seu sono por conta de temas relacionados à sua sociedade e seu país inteiro. Eu quero dizer, ele separou sua vida privada da sua existência como membro de sua sociedade e a deixou aos cuidados do governo e dos especialistas. (…) Nós estamos da mesma forma relegando nossa própria responsabilidade pelo que acontece, em nosso país, para os especialistas que se supõem estão cuidando dele.”
~ Erich Fromm, no programa The Mike Wallace Interview (1958)

Já evoluímos bastante de 1958 pra cá (ainda mais se você tiver lendo isso vários anos depois de publicado), mas uma boa parte do que o psicólogo e filósofo humanista alemão Erich From (1900-1980) disse ao jornalista americano Mike Wallace, em 1958, continua atual e, mais que isso, ajuda a elucidar como e porque isso tudo está acontecendo (por “isso tudo”, leia-se os grandes manifestos no Brasil e o rastro do que já passou e está passando no mundo, como o movimento Occupy). ALém do problema “político pessoal” que vivemos, Fromm fala de vários temas, como o significado do trabalho para a vida do homem, a felicidade, a liberdade, o fracasso, a família, e, obviamente, o amor, um dos principais temas pelo qual Fromm ficou conhecido. A entrevista segue abaixo, em três partes, todas legendadas em português na fonte.

Outro trecho:

“(Os Estados Unidos estariam a perigo de destruir a si mesmo) por causa do nosso entusiasmo em dominar a natureza, em produzir mais bens materiais. Nós transformamos meios em fins. Nós buscamos produzir mais no século 19 e no século 20 em ordem a possibilitar ao homem uma vida mais digna. Mas o que realmente aconteceu é que a produção e o consumo, que parecem meios, se tornaram fins. E nós estamos malucos por produção e consumo.”
~ Erich Fromm, entrevista a Mike Wallace (1958)

 
PARTE 1:

 

PARTE 2:

 

PARTE 3:

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5 Comments

  1. Admirável e muito pedagógica a sua abordagem global, abrangente e multi-dimensional do homem e da sociedade. É atualíssima a sua denuncia de uma sociedade que valoriza o saber fazer sem procurar saber o valor daquilo que se faz e uma educação que apenas faz o cultivo da técnica e da eficiência permanecendo cega acerca dos mais importantes e essenciais interesses do ser humano. Muito importante também o resgate e a desmistificação do socialismo e do pensamento de Marx, tão deturpado pela Rússia Soviética e preconceitos da opinião publica americana. Boa entrevista! O pensamento de Erich Fromm é merecedor da mais ampla difusão, sem dúvida!

  2. says: Alexandre Seibert

    a sociedade vem numa dinâmica excessivamente Yang a algum tempo, que a torna excessivamente mental, racional e poderosa………mas sem os valores Yin, ……ou seja, os sentimentos, a energia da Mãe……Mãe Terra inclusive, por isso a Natureza está sendo abusada e esquecida………..ao renovarmos valores YIN, …..sentimentos aflorarão, o coletivo será valorizado, o TODO, e a intuição…………..na junção do YIN E YANG, reestabeleceremos o EQUILÍBRIO do BEM VIVER!!

    O TEMPO ATUAL é propício para tanto, novas energias estão a surgir, crianças maravilhosas estão nascendo, mudança de ERA,……….e o fato de estarmos cada vez mais cientes que estamos no limite de tudo……..

    É MUDAR OU MUDAR………faça sua parte…..assuma sua responsabilidade individual……..não espere nossos líderes atuais……….

    A MUDANÇA virá por outros que estão a SURGIR…….PERCEBA-OS!!!

    VIDAAAAAAAAAAA

  3. says: norma7

    Nando,

    Obrigada pela postagem. Fui atraída mais por tua introdução, do que pelo vídeo propriamente dito (Escolheria ler a transcrição da entrevista – rs). Às vezes, esqueço que a tua formação formal é em Comunicação Social. :)

    Dele só li ‘A Arte de Amar’ (1) e folheei o “Ter ou Ser” (2):

    (1) – “Só há uma prova da presença do amor: a profundidade da relação e a vivacidade e o vigor em cada pessoa envolvida; este é o fruto pelo qual o amor é reconhecido”. (Ai,ai, ai – não é tudo de bom ?)

    (2) – No modo ter, não há relação viva entre eu e o que eu tenho. A coisa e eu convertemo-nos em coisas, e eu a tenho porque tenho o poder de fazê-la minha. Mas há também uma relação inversa: ela tem a mim, porque meu sentido de identidade, isto é, de lucidez, repousa em meu possuí-la. O modo ter de existência não se estabelece por um processo vivo e criativo entre o sujeito e o objeto; ele transforma em coisas tanto o sujeito, como o objeto. (FROMM, p. 88)

    ou

    O modo ser tem como requisito a independência, a liberdade e a presença de razão crítica. Sua característica fundamental é a de ser ativo, não no sentido de atividade externa, de estar atarefado, mas no sentido de atividade íntima, de emprego criativo dos poderes humanos. Ser ativo significa manifestar as faculdades e talentos no acervo de dotes humano de que todo ser humano é dotado, embora em graus variados. Significa renovar-se, evoluir, dar de si, amar, ultrapassar a prisão do próprio eu isolado, estar interessado, desejar, dar. Contudo nenhuma dessas experiências possa ser expressa em palavras. (FROMM, p. 97) –

    Por indicação, andei procurando: “Budismo zen e psicanálise”
    – depois, por prioridades maiores, deixei para lá…

    Fácil é cair na trilha dos elogios, vide (“Ter ou Ser”), embora bão seja a minha primeira opção:

    “Buscando superar essa triste realidade do modo ter, que prevalece em nossa angustiada sociedade, Fromm nos traz quatro passos que, segundo ele, são os mesmos utilizados por Buda, por Marx e por Freud, ao elaborarem suas renomadas teorias, e que precisam ser realizados para que possamos realizar a emancipação humanista. Os primeiros passos a tomarmos, rumo a extinção do modo ter são:

    1. Estamos sofrendo e temos consciência desse sofrimento.

    2. Reconhecer a origem do nosso mal-estar.

    3. Reconhecemos haver um modo de superar esse mal-estar

    4. Aceitamos que a fim de superar nosso mal-estar devemos seguir certas normas de vida e mudar nossa atual maneira de viver.” (FROMM, p. 165) – Fonte: Revista Crítica do Direito

    Diante de sua postura (chamada de) freudo-marxista e de minha incapacidade intelectual/conhecimentos (para ele: a personalidade de uma pessoa era resultado de fatores culturais e biológicos, o que contrastava com a teoria de Freud, que privilegiava, principalmente, os aspectos inconscientes do psiquismo) -, fui ver o HOMEM e o que a ‘ visão histórica’, a linha do tempo, conta sobre ele, um expoente da psicanálise:

    1900, Frankfurt
    1980, Muralto (Suíça)
    (faltou dias para completar 80 anos)

    Judeu alemão, assistiu/viveu duas Guerras Mundiais ( em artigos e em entrevistas, disse que havia ficado impressionado com a conduta humana, sendo incapaz de compreender um ato tão irracional como a guerra), com Hitler no poder se estabelece definitivamente nos USA e trabalha, também, como professor no México.

    Agora, como era o ‘mundo conhecido’ em 1958 (um pouco antes/um pouco depois) – fora que o Brasil venceu sua 1a. Copa
    Marcado pela Guerra Fria, e pelo crescimento das tensões diplomáticas e militares entre as duas superpotências militares da época, os Estados Unidos e a União Soviética, início do Movimento dos Direitos Civis e do Feminista (1945/1964)

    13 anos do término da Segunda Guerra – o grande vencedor com 400 mil soldados mortos em combate. Guerra da Coreia (1950/53), Otan, CIA, Canal de Suez, Cuba, Mao, etc…etc… e Macarthismo (esse movimento tinha como finalidade perseguir as pessoas que eram a favor do comunismo, e também as pessoas que realizavam atividades antinorte-americanas). Vixê!

    “Os anos que se seguiram após a Segunda Guerra Mundial foram anos de estabilidade e de prosperidade para a classe média branca americana. O crescimento do consumo, dos subúrbios e da economia em geral, porém, esconderam o fato que esta prosperidade não estava ao alcance de todos. Muitos americanos continuaram a viver na pobreza ao longo da era Eisenhower. O sentimento de liberdade e democracia pelo qual os Estados Unidos estavam tão obcecados, por causa do início da Guerra Fria, estava longe de ser uma liberdade para uma grande parte da população, os afro-americanos no sul, que continuaram a sofrer de discriminação racial, econômica e política.” Wiki

    Pronto! Agora que delineei o mundo vivido pelo Dr. Fromm, posso apreciar melhor O Homem e sua Obra. Muitíssimo grata pela postagem. Gostei de tudo, inclusive do apresentador/entrevistador do programa.
    Boa sorte, Norma

    P.S.: O seu discurso (ideias) vai ser sempre atual, pois aparentemente a Humanidade,quando sai para ‘passear’ no mundo ‘lá fora’ tem uma compulsão por ‘beiras de abismos’, como mostra qualquer livro de História. Bjo Nac?

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