Parte de um discurso da filósofa, teósofa e ativista inglesa Annie Wood Besant (1847-1933) de 25 de outubro de 1898, proferida durante o Oitava Convenção Nacional da Seção Indiana da Sociedade Teosófica, na cidade de Varanasi (Benares, Índia), e que integra o livro “Dharma”, publicado em 1918 pela The Theosophical Publishing House. Neste pequeno trecho, Besant cita as palavras de Sri Krishna no celebrado Bhagavad Gita, o clássico do cânone hindu, no verso IV 16-17, quando ele fala que é melhor seguir o próprio caminho, o próprio Dharma, do que o de outro, mas, sobretudo, aqui, ela tenta definir preliminarmente a palavra “dharma”, como algo inerentemente interior e pessoal, e não algo exterior a ser “importado”. Para a compreensão do significado do que Besant entende pelo trecho inteiro, é recomendável a leitura do discurso inteiro no referido livro.
Segue o trecho:
“Mais vale o próprio Dharma, embora desprovido de mérito, que o Dharma de um outro bem cumprido. Aquele que se ajusta ao Karma prescrito pela sua própria natureza não se expõe ao pecado”.
Observem como as duas palavras, Dharma e Karma, podem ser tomadas uma pela outra. Elas nos proporcionam as chaves de que precisamos para desvendar o nosso problema. Que me seja permitido lhes dar em primeiro lugar uma definição apenas parcial do Dharma. Não posso, de uma só vez, apresentar uma definição completa. Apresentarei agora a primeira metade e tratarei da segunda quando chegar o momento oportuno. A primeira metade é a seguinte: “Dharma é a natureza interior que alcançou, em cada indivíduo, um certo grau de desenvolvimento e florescimento”. É esta natureza interior que modela a vida exterior e se faz expressar por pensamentos, palavras e atos, natureza interior que nasce em um meio favorável ao seu posterior crescimento. A primeira idéia a ser apreendida é a de que o Dharma não é algo exterior, algo como a lei, a virtude, a religião, a justiça. E a lei da vida evolutiva, a que modela pela sua própria imagem tudo o que lhe é exterior.”
~ Annie Besant, em “Dharma” (pg.8)
Falhou muito feio.
Quis fazer o Avatara de um aborto de Bodhisattva.
Felizmente a vaidade não o contaminou e se tornou um excelente pensador…
Questionamento sem intenção de apoderar-se do conceito, preciso vive-lo, pois, trabalho com crianças/adolescentes e, tenho que cuidar bem das metáforas com vistas a enriquecer os momentos interações com elas.
Preciso de explicações a cerca da máxima da mestra Bessant, quando ele refere-se a ” ensinar é preciso, aprender e tornar possível”.
Para ser sincera,sempre tive dificuldade em compreender Dharma e karma na sua conceituação.
Parece-me que a mestra Bessant considera o Dharma como algo muito interior e que não pode ser transferido para outrem, porque implica em aquisição de vida evolutiva.Dessa forma, transcrevendo suas palavras:”“Mais vale o próprio Dharma, embora desprovido de mérito, que o Dharma de um outro bem cumprido.
Espero ter compreendido melhor o assunto.
Me parece, pelas leituras que já fiz de Annie Besant, que a mesma identificou, em sua primeira explicação sobre o Dharma, uma similaridade entre o “Eu Superior” (nomenclatura defendida pela Sociedade Teosófica para designar a tríade superior do Ser = Alma) e a ideia de Dharma em si.
Em suma, identificando que o “Eu Superior” representa, de antemão, um caminho ideal que deve ser vivenciado pelo “eu inferior” (personae = uma encarnação qualquer = quaternário inferior).
Tendo em vista tal ideia, a autora consideraria que o “Eu Superior”, apesar de apresentar-se como um Dharma para o eu inferior, ainda carece de evolução. Evolução esta que só seria possível por meio da experimentação da realidade objetiva pelo “eu inferior”.
Não gostei do texto de Besant. Mas, penso que levanta a questão da predestinação e do livre-arbítrio: uma vez que todos já teríamos um “Dharma” pré-determinado, haveria de fato liberdade?
Acho que temos que ir com cuidado nessa seara. Não acho que esse discurso da Annie Besant sirva a uma matemática simples disso igual aquilo igual aquilo outro. Ela mesma fala em “uma definição apenas parcial do Dharma”.
Sobre “Eu Superior” e “Eu Inferior”, você viu que ela falou eu INTERIOR, confere? :) Eu já fui mais entusiasta dessa nomenclatura Superior-Inferior (talvez sirva a uma dimensão), mas prefiro essa que aponta para uma relação do tipo: interior => essência => verdade => dharma => atman (=> Brahman). Guardando uma igualdade entre esses conceitos.
Sobre pré-destinação e livre arbítrio, é uma questão complicada demais pruma janela de comentários. Poderíamos perguntar: quem tem o livre arbítrio? Mas, buscando ver de outro ângulo, não vejo em nenhum momento a mencão a um dharma pessoal fixo em extensão do tempo. Se o Dharma é a Verdade e a Essência, a cada momento ele “se apresenta” (contra a ignorância), e, para cada um, de uma maneira diferente (obviamente de acordo com cada caminho e momento). Acho que entendo esse trecho mais por aí.
ABS.
Nando
Olá, Nando
Agradeço os comentários. No caso, penso que o trecho foi bastante curto para tratarmos do tema – que é mesmo muito amplo e não pode ser abordado por meio de uma matemática simples, como você bem colocou.
Abraços,
Fabiano.
Foi sim, Fabiano. Foi uma intenção de introdução e amplificação do tema, mas esse tema precisa de mais espaço e contexto, sem dúvida.
ABS.
NANDO OBRIGADA PELO SEU ESCLARECIMENTO. PRETENDO ENTENDER MELHOR ESSA QUESTÃO. PARECEU -ME QUE SUA MANEIRA DE ENCARAR O EU INTERIOR É MAIS INTERESSANTE.
ABS. CLÍCIE MARIA.
Oi Clície. De nada, imagine. É um esclarecimento do que eu entendo hoje, nem sei se é ao que a Annie Besant ou o Fabiano se referiam, mas tá valendo.
Talvez você goste de um vídeo do Alan Watts onde ele fala do “Eu Superior” (Higher Self). Estou para traduzi-lo há quase dois anos, caso você não compreenda inteiramente, me avise. Tem 10 minutos mas vale muito a pena.
ABS,
Nando
Ups, faltou o link:
http://dharmalog.com/2011/04/05/vivendo-sem-divisoes-por-alan-watts/
Nando
Vi o vídeo e amei. Algumas coisas perdi, mas a essência do texto ficou mais clara. Obrigada. Cly.