O espanto de existir é a origem da busca filosófica e espiritual mais profunda

“O que na origem levou os homens às pesquisas filosóficas foi, tal como hoje, o espanto”.
// ARISTÓTELES (em “Metafísica”)

“É absolutamente próprio de um filósofo esse sentimento: o espanto. A filosofia não tem outra origem senão esta”.
// PLATÃO (em “Teeteto”)

Eu sinceramente acho que toda Filosofia, Psicologia, Religião, Espiritualidade e Ciência (Física, Química, Astronomia, Medicina, ec) vem do espanto. Às vezes ele vai sendo soterrado por outras questões menores e mais práticas, talvez triviais, mas lá na gênese de todas as perguntas e buscas e pesquisas e movimentos está o espanto, a admiração, a contemplação da existência.

Eu desconfio que muita gente reprime o espanto porque é difícil de sustentar. O espanto deixa sem respirar. Dá vertigem e angústia. Mas também convida o ser humano a ir além de um roteiro de inconsciência medíocra a que ele se sujeita há muito tempo.

Quem não tem um pouco de espanto deve estar um tanto doente. Talvez num estado de semi-consciência. Acho que o espanto é um sintoma de saúde básica essencial. 

Fosse eu um médico perguntaria a meus pacientes: você se espanta diante da vida, da existência? Se o paciente disser não, certamente deve ter um problema de saúde. No mínimo, abandonou ver as coisas da vida e do mundo. 

O espanto tem que estar na gente toda, não só nos filósofos, psicólogos ou cientistas. O espanto é o que move a gente pra descobrir a verdade maior das coisas e não ficar confinado numa vida orientada por valores e metas de uma sociedade perturbada, “cheia de som e fúria”, que anda em círculos animada com as ilusões nas paredes da caverna. 

O espanto é natural, não precisa ser criado, mas resgatado. Como ? Olhando o céu à noite com os dois pés no chão. Olhando uma outra pessoa bem nos olhos por um bom tempo. Vendo um nascimento. Vendo a morte. Contemplando a vida de um animal de outra espécie. Contemplando um rio se movendo sem parar. Fechando os olhos e sentindo as pulsações internas.

Se todos nós nos deixássemos estar mais espantados, seria uma revolução.

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14 Comments

  1. says: Georgina Bomfim

    Uau! ??? Precioso ler em palavras o que até então eu só sentia! Obg, Nando. Emocionante te ler e espantar-me nesse encontro… Sigo precisando de mais e mais espanto na Vida. ???

  2. says: Daniela Fregonese

    É verdade! Muito bom texto ???
    Eu estava numa fase bem presente, me espantando: olhando o céu, sentindo conexão com a natureza, com outros seres, buscando estar presente. De repente, um evento me arrebatou e passei dias com os pensamentos enlouquecidos, dando piruetas e não querendo sair do problema. Nesses momentos eu senti o quão despreparada sou, tão absurdo ficar presa pelo ego em mesquinharias.
    Por isso, precisamos de treinamento, de prática.
    Vou ler, reler, contemplar! Gratidão ?

  3. says: Nessa

    Mas tem gente que não tenha esse espanto? Nem observando a natureza? Não sei. Lembro daquela poesia da formiga passando na página do livro (Quintana).

  4. says: Marcello

    O mundo fenomenal não é uma realidade. Este mundo é apenas a obra de cinco elementos e na realidade não é mais do que uma miragem, verdadeiramente tudo isso é Atman. Não existe diferença, tampouco a não-diferença, nem existência ou não-existência: o que devo dizer?
    A mim tudo isso parece um espanto. Avadhuta Gita

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