“A maior aflição da civilização moderna”: insight psicológico de Thich Nhat Hanh

“A maior aflição da civilização moderna é que não sabemos como lidar com o sofrimento dentro de nós e tentamos cobri-lo com todo tipo de consumo.”
// THICH NHAT HANH

Antes de qualquer coisa, uma pergunta: será que sabemos que temos sofrimento em nós?

Estamos tão treinados em consumir atividades, distrações, “coisas pra fazer”, que acabamos atrofiando nossa capacidade de perceber nosso sofrimento. Temos apenas um princípio vago de percepção, para logo providenciarmos “todo tipo de consumo” para encobri-lo.

“Ué, mas isso não é bom? Assim não precisamos sentir o sofrimento!”

Essa parece ser realmente a lógica da sociedade moderna. Sofrer pra que? Não faz sentido. 

Gostar de sofrer realmente não faz sentido. Buscar o sofrimento muito menos. Mas uma vez que ele esteja aqui, precisamos fazer algum contato, pois ele está em nós e está surgindo de nós. Precisamos de consciência, não de ignorância. 

Quantas coisas já resolvemos definitivamente em nossas vidas usando a ignorância? 

Curamos alguma doença por ignorá-la?
Alguma dívida?
Alguma ilusão?
Alguma violência?
Alguma perda?
Curamos alguma crença limitante por fingir que ela não existe?
Resolvemos alguma pendência indo jogar videogame?
A casa fica limpa quando ignoramos a sujeira?

Geralmente só fazemos contato com o sofrimento quando somos obrigados. Quando é completamente incontornável. 

Hoje a maioria de nós conhece apenas a casca da ponta do sofrimento: um desconforto, um desânimo, uma frustração. E já de início negamos, buscando culpados (os “outros”). Desviando-nos da responsabilidade.

E logo na sequência então vem o grande banquete de “todos os tipos de consumo”. Hoje beira o infinito. Você pode fugir do sofrimento o resto da vida se quiser, com a quantidade de oferta de fugas disponíveis. 

E aí nunca de fato viemos a saber o que o sofrimento está fazendo aqui, nem como ele se cria, tampouco se há como superá-lo. Sem serem contatadas e resolvidas, as causas do sofrimento seguirão reaparecendo o tempo todo, apenas para serem cobertas de novo e de novo pelos mesmos – sempre “novos” –  hábitos de consumo. 

A maior aflição da civilização moderna. 

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