“Tudo quanto é velocidade não será mais do que passado. Porque só aquilo que dem

“Tudo quanto é velocidade não será mais do que passado.
Porque só aquilo que demora nos inicia”.

ou, em outra tradução:

“Tudo o que se apressa / passará em
breve; / pois só o que fica / nos iniciará”.

ou ainda, em uma terceira tradução:

“Tudo o que se apressa logo será ultrapassado,
Só o que permanece nos inicia”.

De Rainer Maria Rilke, em “Os Sonetos a Orfeu” (1923).

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Eu não ia falar nada desse poema porque falar de poema é triste, né. É como falar de música clássica. Não se fala. Qualquer palavra estraga o som do violino.

Mas vou falar, por uma ilusão de contribuição. Se você não quiser ouvir, pode parar aqui. Vou falar da expressão “nos inicia”. Que traz uma mágica para esse trecho

O que nos inicia é aquilo que nos introduz a uma experiência, nos revela o coração de um momento, aquilo que a gente se abre para realmente viver. 

Iniciar é começar a viver alguma coisa de verdade. Como quando um marceneiro inicia um aluno em uma nova técnica de madeira. Como um treinador inicia um atleta na experiência de resistir à dor durante uma prova. Como um mestre inicia um praticante a uma nova dimensão da consciência.

Se a gente não se inicia, fica do “lado de fora” da experiência. Não tem acesso. A demora é a senha, é a passagem secreta para a vivacidade do momento. A gente “entra” nele.

Aquilo que nos inicia é aquilo com o qual nós entramos em verdadeiro contato com. Aquilo com o qual nós temos uma real experiência. 

É a criança parada no meio do parque com o rosto para o alto sentindo a neve cair (do post anterior). Isso a inicia. Ela está se iniciando, talvez na neve, ou na comunhão com o céu, ou no contato com o frio, etc. É um momento real. 

Tudo que nos apressa não nos inicia. Passa como uma casca. É apenas o vulto de uma experiência. 

Há apenas uma fantasma de consciência ali. É um sorvete chupado muito rápido. Um pão engolido com café. Um texto que se lê até a metade. Um scroll infinito.

E Rilke, que morreria dois anos depois de escrever esse livro, aos 51 anos, completa, no mesmo soneto: 

“Não lanceis o ânimo, jovens, no que é rápido”.

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#rilke #rainermariarilke #poesia #ossonetosaorfeu #presença #espiritualidade #desp

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15 Comments

  1. says: Lene Saldanha

    Na ilusão de contribuir, vc foi um poeta também, Nando…Rilke ficaria feliz com essa despretensiosa contribuição…você com certeza receberia uma Carta, uma “Carta ao jovem poeta”. Lindo. Tudo. ??

  2. says: Nessa

    Acabei de ler por aí “foguete não dá ré”. Bom, ainda bem que não sou um foguete, né. Posso ir no meu tempo, dar ré, rever, consertar alguma coisa e seguir.

  3. says: Maria Aparecida Bezerra

    Que lindeza! ? Ai! Foi lá, no fundo da minha alma, da mi ha consciência! Todo dia a vida nos traz algo novo ?? Uma visão, uma compreensão, uma corroboração… esse texto, por exemplo. ??

  4. says: Wellington Odahara

    ?adorei, perfeito. Eu apenas usaria no lugar de “demora” duração, numa pegada Bergsoniana, saca. “…a duração é a chave…” .

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