“Sobre a Brevidade da Vida”, parte 2.
Essa arte acima com o trocadilho criativo é do escritor @perina.
Gostaria de contemplar duas frases da seleção de trechos do clássico estóico de Sêneca, do post anterior.
A primeira:
“Nada é menos peculiar da pessoa ocupada do que viver.”
Há uma idéia antiga da nossa cultura moderna que a pessoa ocupada tem uma vida de valor, que ela é importante por causa disso (afinal, está ocupada, é requisitada, etc). Mas a ocupação fecha a agenda de uma pessoa para o novo. Uma agenda cheia do início ao fim do dia é algo que praticamente não permite a vida se oferecer à pessoa como é, sempre fresca. Com suas chuvas fora de hora, seus encontros inesperados, suas intuições sutis, seus prazeres livres, seus mistérios. Mesmo um entretenimento no fim do dia pode ser 100% industrializado – como já explicaram Adorno & Horkheimer no conceito de “indústria cultural”, em que até nosso lazer é enlatado e não qualifica como tempo livre.
A ocupação pode trazer várias coisas, como a sensação de objetivos sendo perseguidos, dinheiro sendo ganho, etc. Mas não traz vida do verbo viver.
A segunda frase:
“Aos ocupados nunca lhes é possível voltar-se para si mesmos. Se alguma vez lhes advém casualmente algum repouso, agitam-se, (…) e jamais se veem desocupados de seus desejos”.
Jamais se veem desocupados de seus desejos é muito forte. Essa ocupação não é mais nem composta de atividade, mas de estado mental (de desejo). A pessoa pode estar no sofá, pode estar comendo, pode estar caminhando na natureza, mas na verdade está tão ocupada quanto alguém no escritório: ela está entretida permanentemente com seus desejos. O que quer, o que não quer, o que fazer, como planejar, o que priorizar, etc.
E se por acidente acontece algum descanso, que desperdício, logo encontra em que “colocar seu tempo”.
Como não sofrer de ansiedade assim? Como não sentir vazio?
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“Business”, do inglês: “cheio de ocupação”. Do inglês antigo, bisignis: “ansiedade”.
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Gratidão Perina! Ótima reflexão.