“Quem diria, depois de todos esses anos, de volta à Matrix”. Essa fala do chefe

“Quem diria, depois de todos esses anos, de volta à Matrix”.

Essa fala do chefe de Thomas Anderson (Keanu Reeves) no início do filme é o famoso esculacho, violento e desesperador, tão clichê quanto… todos nós que estamos de volta à Matrix depois de todos esses anos. Todos atrapalhados com suas vidas, frustrados com como ela se desdobra, com as armadilhas do destino, se esforçando pra tentar realizar metas e desejos, praticantes tentando retomar a prática, gente desconfiada do seu propósito, mas de alguma forma quase todos conformizados com o jogo e a normose. Quase todos medicados, torporizados, de casa para o trabalho e do trabalho para a casa, com aquela passadinha no café da esquina.

“Quem diria”!

Ah a surpresa irônica e sarcástica. O chefe de Thomas diria, obviamente, pois a Matrix é especialista em sugarnos de volta para seus pods de conformidade e parálise. Nós sabemos disso. A fala do chefe é direta até demais, é um soco no estômago e está confirmadissima na sala sofisticada de Thomas Anderson, com seus multi-monitores, seus prêmios, seu tapete corporativo impecável, ar condicionado central e aquela vista que toda empresa oferece a um contratado quando quer que ele fique muito tempo ali, sentado. O conforto posto desse jeito se mostra alçapão para os aspirantes a qualquer coisa digna nesta vida.

O filme vira o dedo pra nós e arrisca: você também tem uma sala dessas, não tem?

Todos temos. Não necessariamente salas com vista, mas, simbolicamente… salas com vista.

Parece que o tratamento da trilogia não surtiu efeito. O tumor está de volta. Então a diretora Lana Wachowsky teve que sacrificar a crença na sua própria trilogia brilhante, desconsiderando-a (ao menos parcialmente), chamando-a de entretenimento de criança, e criou uma obra subversiva de si mesma, tentando um novo tratamento de choque para essa doença. A Matrix.

Se vai surtir efeito agora? Ninguém sabe. Só vendo pra saber.

MATRIX 4 “RESSURECTIONS”
Sessão completa comentada e conversada.
Com Nando Pereira, jornalista, psicoterapeuta e autor do Dharmalog.

DOMINGO, 17/9, ÀS 18H.
Evento online gratuito. Via Zoom.
Inscrição necessária.
Vagas limitadas.

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