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“Temos a tendência de nos ressentir quando somos confrontados com a verdade e, do ressentimento, nasce a negação. O exemplo mais óbvio é que nos incomodamos quando algo nos força a reconhecer a natureza ilusória da vida e a realidade da morte. Recusamo-nos a contemplar a morte, embora ela seja uma verdade universal irrefutável. A reação habitual é fingir que a morte nunca vai acontecer — aliás, geralmente lidamos assim com todas as verdades inconvenientes que nos parecem difíceis de engolir.”
– DZONGSAR KHYENTSE RINPOCHE (em “Não é Para a Felicidade”)

Do ressentimento nasce a negação. E da negação nascem universos e universos e galáxias e galáxias de distração, ocupação superficial, tempo perdido, consumo compulsivo, scrolls infinitos, hábitos anestesiantes, etc.

São negações pequenas, médias e grandes, relacionadas a praticamente tudo que podemos negar. Não só a morte, que podemos dizer que é nossa negação mais épica. Criamos e nutrimos inúmeros apegos cotidianos, opiniões, irritações, tristezas, criamos agendas, expectativas, simulacros, vamos criando bolhas e bolhas e bolhas que vão nos distanciando da realidade. Criando uma realidade “só pra gente”. A aparência do controle é uma sedutora e quase irresistível ilusão.

Quando algo na realidade verdadeira rompe esse cerco, acaba sendo percebido como uma coisa muito negativa, errada ou mesmo insuportável. Porque estamos atrofiados para a verdade. Obviamente nem identificamos que a verdade está ali, apenas rejeitamos a experiência pelo teor negativo que ela tem. Nossa reação mais comum é levantar paredes ainda mais altas, para impedir que a realidade apareça de novo. Aos poucos, vamos construindo e nos acostumando com o 2540 de Admirável Mundo Novo.

A verdade começa a ser vista assim como algo estranho. Algo para doidos talvez. Os normais navegam como os humanos de marshmallow do filme Wall-E (2008), isolados na estação espacial Axiom (ou seria uma metáfora para uma bolha distante da realidade?). A verdade no filme é que o planeta original se tornou um completo lixo inabitável, mas ninguém mais nem sabe que a verdade existe.

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#dzongsarkhyentserinpoche #morte #negação #distração #autoconhecimento #dharma

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10 Comments

  1. says: Lene Saldanha

    “A verdade começa a ser vista assim como algo estranho. Algo para doidos talvez”. Muito isso… verdade que dói, que nos tira da bolha não é atraente. Pelo contrário. Então, melhor negar e viver no fantástico mundo de Bob. Mais ” divertido”. Engraçado, porém, que ninguém percebe que a verdade , quando é ouvida e sentida com abertura no coração e mente, ela se revela e floresce…assim, crua, mas bonita. Valiosa. Tremendamente valiosa…Não há feiura na verdade. A feiura está em nós, em nossos olhos turvos, medrosos que percebem monstros onde só há Budas…muito doido…Talvez seja só para doidos mesmo…?

  2. says: Jefferson Ricardo

    Sensacional… ainda mais que neste momento estou vendo um um vídeo no YouTube como controlar suas emoções…. pois quando fugimos do mundo real tudo é motivo pra se abalar

  3. says: Maria Terêsa Borges

    (A verdade. Conheça a verdade e aplique em sua vida.) para ser feliz. Afinal qual verdade? – o que é verdade ? – quem tem a razão tem a verdade das coisas? – será? Alguém me disse uma vez: que nós a raça humana somos tão ignorante e estamos tão perdidos, mas tão perdidos e não nos damos conta . Posso ter ouvido isto outras vezes mas nunca penetrou tão forte como nessa ocasião. Achando que está tudo bem: tem um cargo importante; salário compatível de classe média; carro do ano, e. Assim por diante….. porque é então que não consigo ser feliz ? Por que ? Toda esse acúmulo e apego pelas coisas, status, ….. todos estão no mesmo barco : um dia vamos morrer . É fato. E então o que você está fazendo com esse desfecho inexorável que fingimos não saber : Deveríamos sair das bolhas em que. Estamos confortavelmente procrastinando e mudar o olhar egocêntrico para longe onde a vista alcança e. Dar-se conta de nossa pequinês.. somos poeira só poeira somos poeira…..

  4. says: Ju Portilho Sodre?

    E qual seria essa verdade?! Viver no tempo presente, enxergar a realidade como ela é? A verdade qdo alguém nos fala algo sobre nós mesmos, ou a verdade onde nós mesmos conseguimos enxergar as nossas sombras, personalidade, acontecimentos externos ( como a morte por exemplo) , e acometimentos internos tb .
    Qual seria essa verdade !? Sentir a nossa verdadeira essência e aprender a se conectar c ela independente do mundo externo ?

    As vezes me parece que vivemos um verdadeiro “sonho” e qdo acordamos, vivendo somente no tempo presente, aí sim conseguimos lidar com a verdade sem ressentimentos, sem sofrimento. Acredito que Viver no tempo presente possa nos ajudar a se conectar com a verdade, conseguimos falar sobre a morte, por exemplo, com mais leveza e sem medo .

    ?

  5. says: Daniela Fregonese

    Lindo e inspirador! A espada flamejante de Manjusri desponta na sexta-feira cinza e fria, com o poder da sabedoria que corta a ignorância, a origem de todo sofrimento. Eu me lembro do horror que senti quando minha filha chegou, um dia, com um colar de caveira no pescoço. Rejeitamos a Morte. Essa imagem do Mestre com o crânio no colo é demais….Deu muita vontade de acessar o livro do ao ler esses comentários. Gratidão, Nando! ???
    @shalaoficial @larabragazza ?

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