“Era tudo mais simples antes. As pessoas queriam ser livres. Agora está diferent

“Era tudo mais simples antes. As pessoas queriam ser livres. Agora está diferente. Às vezes sinto como se as pessoas tivessem desistido. Como se a Matrix tivesse vencido”.
// SHEPERD, em “Matrix 4: Resurrections”

Lembra dessa fala? Eu não lembrava do filme ser tão direto.

Não surpreende que no quarto filme da “trilogia” de Matrix o próprio Neo esteja readaptado à Matrix, trabalhando, pasteurizando a própria trilogia em videogames e reuniões de marketing, e tomando pílulas azuis todo dia. Como nós: que assistimos à toda trilogia e voltamos às nossas cápsulas de normalidade.

Qualquer passo pra fora é loucura, diz o analista. É ele que prescreve as pílulas azuis. Ha.

Assisti esse filme de novo e continuo achando uma obra estimulante para buscadores. Contemporânea e vibrante. Defende que a sabedoria original do filme sofreu rapidamente mutações causadas pela Matrix – e se tornou comida de porcos.

“Acontece o seguinte, Neo, que na minha Matrix, quanto mais ameaçamos você, mais nós o manipulamos, mais energia produzimos. É doido. Tenho quebrado recordes de produtividade desde que assumi. E a melhor parte: resistência zero. As pessoas ficam em suas cápsulas, mais felizes que porcos na lama. (…) O gado não vai a lugar algum, eles gostam do meu mundo. Não querem liberdade ou empoderamento. Querem ser controlados. Eles desejam o conforto da segurança”.
// O ANALISTA, em “Matrix 4: Resurrections”

Em nenhum outro fime desta série ficou tão claro quantos agentes a Matrix tem, que formas tem e o quão massante é o processo da “matrixação”. Facebook e Netflix tiveram seus nomes citados com (quase) todas as letras. Na verdade, é tão claro e óbvio, que espectadores mais exigentes que preferem as entrelinhas devem ter ficado frustrados. Mas… “agora está diferente”.

“Você já reparou? É maravilhoso: bilhões de pessoas vivendo suas vidas… distraídas”.
// AGENTE SMITH, em “Matrix 4: Resurrections”

“É tão fácil esquecer quanto barulho a Matrix coloca na sua cabeça até que você se desplugue”.
// NIOBE, em “Matrix 4: Resurrections”

//

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11 Comments

  1. says: Lene Saldanha

    O que mais gosto em Matrix é a profundidade da reflexão. Não permite ser raso. No 4, o que me pegou foi perceber que até Neo ficou preso e distraido com todas as conquistas e atrações Acho dela. Acho que essa pegada é a que mais devíamos explorar…
    Ou seja, estamos todos distraidos, presos e nem sabemos direito como, nem por quê.
    Porém, tenho cansado um pouco dos discursos rasos de que sim, podemos sair da Matrix e ficar fora dela olhando para os outros do alto. ( e aqui falo mesmo do conceito de superioridade tb, de ensinamentos rasos cheios de positividades e regras e fórmulas) Podemos sair algumas vezes, é verdade. Mas voltamos tantas outras…me pergunto então, se a discussão deve ser mesmo sobre sair, ou seria sobre o que nos prende a ela…consciência do processo antes da ação…E aqui cabe os insights de Neo durante o filme e a percepção de não mais tomar a pílula azul…só depois veio a ação, literalmente. Hahahaha
    Pois sem essa consciência do que nos prende, não tem como saber sair…E assim o eterno loop se instaura.
    Não, não é fácil sair da matrix. E se em algum momento a gente achar que é, podemos ter a certeza de que a Matrix está cada vez mais forte e presente em nós.
    Gostaria de saber mais de Neo o que foi que fez ele ficar tão preso nela. Queria agora o filme voltando no tempo. ?

  2. says: Anonymous

    A zona de conforto é um lugar quentinho. O inconsciente coletivo quer conforto e nem percebe o preço alto que paga ? a gente que saiu desse lugar é que fica ?

  3. says: Antonieta Namaste

    Acho que tem sim uma parcela que percebe a terra com cuidado e amorosidade e a partir desse movimento se revela essa atitude também com as pessoas.

  4. says: Cristiana Dias Baptista

    E o Matrix continua se superando a passos largos… ChatGPT e mais… acho que certo tá o Neo! Da-lhe pílula azul! ?????

  5. says: Maria Cristina Carvalho

    Tb acredito, que as vezes me parece que o ser humano apenas lavou as mãos, tipo Poncio Pilatos na crucificação de Jesus Cristo….apenas não querem ser responsáveis por suas próprias vidas…e isto me deixa tão triste….uma tristeza que nem consigo mensurar, pois isto gera uma bola de neve…?

  6. says: Daniela Fregonese

    Que interessante, vou assistir…
    É tanto barulho, tanta distração, realmente! Quando consigo escapar um pouquinho, percebo o barulho interno ecoando. Matrix está a todo vapor, nesses tempos enlouquecedores. As pessoas querem ter, o tempo todo, algo a fazer- eu inclusive. Estamos viciados e cegos, vivendo egoisticamente um tempo que não é natural. A nova geração vem com tudo, e com nada!
    Semana passada abordei o tema “tempo” e exigências da vida moderna com meus alunos de Alemão. Um dos textos “A ditadura do relógio” fala sobre as distrações, excesso de estímulo desde a infância e a consequente monotonia, etc. Acabei tendo um sonho com as questões:

    “Wie viel Tempo verträgt der Mensch?

    Die Mehrfachtätigkeit ist zum Epochenmerkmal geworden”

    (Quanta velocidade uma pessoa pode suportar?

    Múltiplas atividades tornaram-se uma característica da época)

    Foi apenas um sonho? A ditadura do relógio, a loucura do tempo…minha própria insanidade.

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