“Esta sociedade moderna me parece uma celebração de todas as coisas que nos afastam da verdade, tornando difícil viver para esta verdade e desencorajando as pessoas até mesmo a acreditar que ela existe. E pensar que tudo isso brota de uma civilização que alega adorar a vida, mas de fato a priva de qualquer significado real, que fala sem parar sobre fazer as pessoas “felizes”, mas de fato impede seu caminho para a fonte da verdadeira felicidade.
O maior feito da cultura moderna é sua brilhante maneira de vender o samsara e suas distrações estéreis.
O samsara é altamente organizado, versátil e sofisticado. Inclusive sobre nós de todos os lados com sua propaganda, criando à nossa volta uma cultura de dependência quase inexpugnável.
Obcecados, então, por falsas esperanças, sonhos e ambições que nos prometem a felicidade mas conduzem somente à miséria, somos como forasteiros rastejando num deserto sem fim, morrendo de sede. E tudo que este samsara nos oferece para beber é um copo de água salgada, com o propósito de deixar-nos ainda mais sedentos.”
— SOGYAL RINPOCHE (em “O Livro Tibetano do Viver e do Morrer”)
Quanto mais consciência tomamos de que estamos presos nessa dimensão samsárica, mais assustadora é a visão dele, a visão de que todos estamos perambulando como que hipnotizados por suas engrenagens profundas. E uma de suas mais espetaculares capacidades é a de permanecer no nosso subterrâneo psíquico, sem que façamos a menor idéia de que estamos funcionando dia após dia, momento após momento, pelas suas desorientações.
É fato que todos nascemos nessa dimensão humana samsárica, e assim herdamos rapidamente toda a série monumental de mentalidade, comportamento e modo de vida que essa cultura e essa sociedade nos impõem, mas logo cedo também começamos a reproduzir e coparticipar intensamente dessa estrutura de ilusão coletiva. E isso acontece do modo mais superficial, nas ações externas, como no modo mais profundo, na mente subjetiva, com sua obsessão pelo tempo artificial (passado e futuro), auto-imagem, identificação e ilusões.
Isso necessita do maior feito que poderemos realizar individualmente nesta vida, que é o de despertar disso. Tentar começar de fora pra dentro é apenas mais um dos truques do Samsara para nos manter no campo fechado da ilusão individual. Ocupados com exterior, não fazemos nada no interior. Só começa a mudar de fora pra dentro que tem a equivocada idéia de que não há necessidade do despertar em si mesmo. Samsara.
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Olá, bom dia!
Excelente!
Como sempre, a escolha do texto e os comentários!
Ps: queria montar um texto sobre banalização de cultura. Ou sociedade do espetáculo. E essa referência caiu como uma luva.
Poderia me dizer qual o capítulo do livro ” o livro tibetano do viver e morrere” está esta citação?
Desde já agradeço!
Grande abraço!
Oi Gleison,
Capítulo 2, “Impermanência”.
Na minha cópia está na página 34.
Abs!