“A sociedade é a caverna, a saída é a solitude”, uma reflexão platônica poderosa de Simone Weil

“A sociedade é a caverna, a saída é a solitude”.
SIMONE WEIL

Nessa reflexão em que faz alusão à alegoria da caverna, que Platão faz na “República”, a célebre filósofa  mística francesa Simone Weil (1909-1943) afirma que a sociedade é nosso problema, “a grande Besta”, pois tudo que as pessoas fazem ou acreditam chega a elas pela sociedade e a ela é devotado. Ou seja,tudo que o indivíduo faz está condicionado primordialmente pela sociedade.  A solução é, em primeiro lugar, enxergar esse condicionamento, e para isso é necessário um recolhimento e centramento interno, adotando assim uma relação verdadeira com as coisas da própria vida — que Weil chama de “solitude”.

Na alegoria de Platão, ninguém que está na caverna vê a realidade como ela é, mas através das sombras, pela via (distorcida) das sombras e não pela visão direta das coisas. Para Simone Weil, é assim que entendemos a vida e nos movimentamos cotidianamente, de “segunda mão”, pelos olhos da sociedade. A meditação e a contemplação são, para ela, a maneira pela qual cada um de nós deve resgatar seu contato direto verdadeiro com a realidade, com as coisas, as pessoas, a natureza, tudo. “A esse respeito, a meditação é uma purificação de primeira importância“, diz ela.

Se você pensar nos principais problemas que tem na vida, vai perceber a verdade que há nessa afirmação de Simone Weil. Muitos de nossos objetivos, motivações, angústias, problemas, doenças, sentimentos (como tristeza, vergonha, raiva…) estão relacionados à sociedade e aos condicionamentos que frutificam dela, ao convívio com as outras pessoas, e às experiências, idéias e memórias que acumulamos desse convívio. Há valores, comportamentos, dinâmicas, comunicações e outras experiências dentro da sociedade que condicionam o indivíduo a viver pra elas, como que “para sobreviver”. Nossa energia, inclusive de imaginação, é consumida em grande parte por qualquer necessidade de atender esse aspecto social. Weil chega a dizer que “a consciência é enganada pelo social“.

Weil falava muito em “coletividade cega”, e afirmou certa vez que isso deixava os indivíduos “menos capacitados”.  Se você ver uma coletividade pesada em ação, como uma torcida de futebol irada, saberá que essa observação de Weil confere. E se olhar como a sociedade se comporta com a política recente, conferirá de novo. Mas Weil não restringiu essa afirmação a qualquer parte da sociedade — uma torcida de futebol ou um grupo político — e sim a toda ela, seja qual for o grupo, grande ou pequeno, ou mesmo a uma simples idéia ou existência de tal sociedade, ou o social.

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