A incapacidade de suportar a solidão (e auto-plenitude), por Arthur Schopenhauer

“O que faz os homens sociáveis é sua incapacidade de suportar a solidão e a sua própria companhia. Seu vazio interior, fadiga e tédio os conduzem a buscar a sociedade e a empreender viagens a países estrangeiros. Seus espíritos carecem da elasticidade necessária para se imprimirem movimento próprio. Tentam melhorar sua situação por meio do vinho e, desse modo, muitos deles acabam se tornando bêbados. Por esse mesmo motivo, necessitam constantemente da excitação exterior e mesmo da mais forte produzida por seres de sua espécie, sem a qual seus espíritos cedem sob seu próprio peso e caem em uma dolorosa letargia. Pode-se dizer igualmente que cada qual deles não é mais que uma pequena fração da Idéia da humanidade, necessitando ser complementados com muitos outros para que, de algum modo, surja uma consciência humana inteira. Pelo contrário, aquele que é um homem completo, um homem por excelência, representa uma unidade inteira, não uma fração e, por conseguinte, se bastando a si mesmo. Nesse sentido, pode-se comparar a sociedade a essas orquestras russas compostas exclusivamente de trombetas, nas quais cada instrumento só tem uma nota, e a música é produzida quando todos soam ao mesmo tempo. Pois o temperamento e a mentalidade da maioria dos homens são tão monótonos como essas trombetas de apenas uma nota.”
ARTHUR SCHOPENHAUER (“Aforismo para a Sabedoria de Vida)

A solidão tem essa dimensão total e inteira (alguns dizem que é solitude, que é diferente de solidão, mas há uma semelhança nesse jeito que Schopenhauer descreve acima), mas não posso deixar o post acabar sem um pequeno contraponto — afinal temos essa tendência insistente de ver apenas um lado e se enrolar nesse lado vibrando “a-há! eu tinha razão”. Então, por isso, não podemos esquecer que fugir do mundo e se acasalar na solidão também pode ser uma fuga e uma não-inteireza. Pode ser uma covardia ou desistência, se encurralando na distância. Distinguir uma coisa da outra pode necessitar “apenas” sinceridade, mas às vezes isso é distorcido (de novo) por mecanismos de defesa, então é necessário observar a si mesmo, a própria saúde psíquica, a percepção da própria inteireza, a crítica social e sintomas do gênero. Nossa busca por sabedoria não só pode ser distorcida por nossos mecanismos egóicos, como de fato é. Dito isto, vamos observar não só em Schopenhauer, mas em vários filósofos ocidentais e orientais, o estar consigo mesmo como um caminho e realização absolutamente fundamental e inevitável de plenitude.

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Arte: VisualPotions

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