QUALQUER COISA MENOR NÃO É DIGNA?
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“No que diz respeito às coisas divinas, a crença não é apropriada. Só a certeza é. Qualquer coisa menor que a certeza não é digna de Deus”.?
— SIMONE WEIL (1909-1943)?
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Nos tempos depauperados que vivemos, é importante fazer um esclarecimento a respeito da palavra “certeza”. A certeza aqui é uma percepção da verdade, clara e tranquila como o sol é quente. Essa certeza da frase não é um dogma ou uma convicção qualquer, dessas que fanáticos gritam em redes sociais. É um conhecimento direto. Simone Weil afirmava que essas “coisas divinas” estavam numa realidade acessível ao ser humano, mas não eram do mundo de tempo e espaço em que ele normalmente vivia. E que era preciso de fato “acessar” essa realidade. Essa certeza tem a ver com esse acesso, com esse contato a partir de si mesmo e não de outros, de teorias, líderes ou cientistas.?
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No início do meu caminho encontrei essa frase na abertura de um livro e mudou minha maneira de ver e ter esperança em respostas mais difíceis. Botei o livro debaixo do braço e levei. Na época, eu me dizia agnóstico e discutia muito, querendo aprofundar tudo que via, pra saber, mas a maioria das coisas (e pessoas) que eu encontrava sempre esbarram nas crenças. E, como quase toda crença, era fechada, não tinha fundamento firme, se escondia atrás de alguma autoridade inquestionável e não levava a maiores esclarecimentos. Eu havia crescido com raiva das crenças, e do povo que as tinha. ?
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A frase de Weil se comunicava com uma profunda indignação que eu tinha: como pode tanta gente crer em Deus e nenhuma delas ter qualquer certeza a respeito disso (além de suas frases feitas e máximas religiosas memorizadas)? Eu sentia que vivíamos numa pré-história dos esclarecimentos espirituais. Simone Weil parecia cruzar essa fronteira e afirmar categoricamente que a crença era uma besteira. Depois eu viria a descobrir que Simone Weil havia sido agnóstica durante muito tempo, assim como fervorosa investigadora, filósofa, idealista e questionadora o suficiente para ir atrás do próprio Deus, sem intermediários. ?
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Essa frase dela, naquele livro, naquele momento, me abriu um clarão no horizonte. As perspectivas mudaram e eu senti que havia mais conhecimento possível. Eu nunca mais li Simone Weil, mas levei esse espírito em tudo que procurei. Esse “sim, é possível” é o espírito de grandes escolas de sabedoria como o Yoga e o Budismo, que não tem apreço por crenças, mas pela ciência da descoberta por si mesmo. Que é a única maneira de fato de ver a grande ilusão que nos metemos. Simone Weil havia encarnado esse espírito, e passado adiante. E pra mim, naquele momento, foi fundamental.
Obrigado, Simone.
Que possamos não nos contentar com qualquer coisa menor.
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Obrigada, já realizei?
Mais fácil compreender o que vem a ser “certeza” do que aceitar como possível qualquer proposta sobre um “Deus”.