“A verdade é o clamor de muitos, mas o jogo de poucos”.
— GEORGE BERKELEY
Quem quer saber e admitir sinceramente a verdade sobre si mesmo? Quem quer aceitá-la, soltando papéis, imagens, identificações e enganos sobre si mesmo?
O autor inglês Jeff Foster quer, e clama que façamos o mesmo. Jeff disse ter renunciado ao seu papel de professor espiritual mas não renunciou, continua escrevendo e publicando textos que são impactantes ensinamentos, como esse texto abaixo, cujo título foi traduzido livremente por “Diga a Porra da Sua Verdade“, do inglês “Tell The Fucking Truth“. Desconfiamos seriamente que dizer a verdade verdadeira sobre nós mesmos vai botar alguma coisa muito séria abaixo, por isso resistimos tanto. Mas dizer a verdade pode operar milagres, diz Jeff no início e no fim do texto, com os exemplos psicossomáticos da auto-sinceridade.
O choque de verdade que Jeff Foster propõe pode incomodar algumas pessoas, mas o ego não cede fácil, e geralmente precisa de terremotos e reviravoltas para ser sublimado. Esse manifesto pela verdade não é um apelo ao ego, mas um contato com a consciência de cada um.
Ao abraçar a verdade, o que resulta é o fim do império iludido do ego, baseado na identificação com corpo, características, preferências, imagens e toda a fumaça que o compõe. A verdade visa dissolver sua persistente ilusão e relaxar o indivíduo de sua constante tensão e defesa.
Numa época de isolamento social e reflexões íntimas, eis aqui um convite à transformação pela verdade.
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DIGA A PORRA DA SUA VERDADE
Por JEFF FOSTER
Já vi milagres acontecerem, quando as pessoas dizem apenas a verdade.
Não a verdade ‘legal’.
Não a verdade que quer agradar ou confortar.
Mas a verdade selvagem. A verdade feroz.
A verdade inconveniente.
A verdade tântrica. A porra da verdade.
A verdade que você tem medo de dizer.
A verdade horrível sobre você
que você esconde para “proteger” os outros.
Para evitar ser “demais”.
Para evitar ser envergonhado e rejeitado.
Para evitar ser visto.
A verdade dos seus sentimentos mais profundos:
A raiva que você tem ocultado, controlado, esquecido.
Os horrores que você não quer falar.
Os impulsos sexuais que você está tentando reprimir.
Os anseios primordiais que você sequer suporta expressar.
Finalmente, as defesas quebram,
e esse material “inseguro” aparece
do fundo do inconsciente.
Você não aguenta mais.
A imagem do ‘bom menino’ ou ‘boa menina’ se evapora.
O ‘perfeito’, o ‘que tem tudo planejado’,
o ‘evoluído’, essas imagens ardem.
Você estremece, sua, chega perto de vomitar,
você acha que pode morrer fazendo isso,
mas finalmente você diz a porra da verdade,
a verdade da qual você tem profunda vergonha.
Não é a verdade abstrata. Não é a verdade “espiritual”.
Não é uma verdade cuidadosamente formulada para evitar ofensas.
Não é uma verdade bem embalada.
Mas uma verdade humana confusa, ardente e inacabada.
Uma verdade sangrenta, apaixonada, provocadora, sensual,
mortal, indomável e não-amenizada.
Uma verdade instável, pegajosa, suada e vulnerável.
A verdade de como você se sente.
A verdade que permite que outra pessoa o veja no estado bruto.
A verdade que provoca um suspiro.
A verdade que faz seu coração bater forte.
Esta é a verdade que o libertará.
Vi depressões crônicas e ansiedades ao longo da vida se dissiparem da noite para o dia.
Vi traumas profundamente arraigados evaporarem.
Vi fibromialgia, enxaquecas ao longo da vida, fadiga crônica, dor nas costas insuportável, tensão corporal, distúrbios do estômago, desaparecem, para nunca mais voltar.
Obviamente, os “efeitos colaterais” da verdade nem sempre são tão dramáticos.
E não entramos em nossa verdade com um resultado em mente.
Mas pense na enorme quantidade de energia necessária
Para reprimir nossa natureza animal,
entorpecer nossa natureza selvagem,
suprimir nossa raiva, lágrimas e terror,
defender uma imagem falsa e finjir estar ‘ok’.
Pense em toda a tensão que mantemos no corpo,
e o dano que causa ao nosso sistema imunológico,
quando vivemos com medo de ‘sair’.
Assuma o risco de dizer a sua verdade.
A verdade que você tem medo de dizer.
A verdade que você teme fará o mundo correr.
Encontre uma pessoa segura – um amigo, um terapeuta, um conselheiro, você mesmo –
e deixe-os entrar. Deixe-os abraçá-lo enquanto você quebra.
Deixe-os amarem você
enquanto você chora, sente raiva, treme de medo,
e bagunça tudo.
Diga a porra da sua verdade a alguém – isso pode salvar sua vida, pode curá-lo profundamente e conectá-lo à humanidade de maneiras que você jamais imaginou.
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Arte: Mona Doma (@_monadoma_)