Experiências memoráveis de meditação (e outras nem tanto), por Erric Solomon

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Ninguém realmente consegue planejar ou programar uma experiência de “pico” (digamos assim) durante a prática da meditação, mas mesmo assim, depois de passarmos por uma, queremos voltar pra ela, ou repeti-la. É o problema do apego. Abordamos a meditação com a mesma mente de desejo e obsessão que usamos na vida cotidiana. No texto abaixo, o escritor e professor de meditação Erric Solomon, autor de “Radically Happy” (com o mestre budista Phakchok Rinpoche) compartilha um momento em que ficou estagnado em uma “prática monótona” pois não conseguia repetir as circunstâncias de uma meditação memorável que havia feito numa montanha. Segundo seu relato, a instrução de seu mestre à época o iluminou e ajudou a compreender melhor o que estava acontecendo na sua meditação, e na sua mente.

Com a gentil permissão de Erric, traduzi o texto abaixo e publico aqui e nas redes sociais do Dharmalog, agradecido pela clareza e ajuda na prática que ele traz.

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EXPERIÊNCIAS MEMORÁVEIS DE MEDITAÇÃO
Por Erric Solomon (@radically_erric)

Lembra daquele momento em que sua prática de meditação simplesmente aconteceu? Deu um clique?

Anos atrás eu estava reclamando para um dos meus professores, Tulku Thondup, sobre quão fantástico tinha sido esse topo de montanha para minha prática de meditação, mas agora que eu tinha voltado pra cidade, minha prática parecia muito monótona. Quando eu tava naquela montanha minha mente discursiva ordinária relaxava sozinha. Tulku-la disse, “você lembra como era estar naquela montanha?”. Eu disse, “sim, claro, é por isso que eu sei que agora minha meditação está nessa luta”.

Tulku-la disse, “antes de começar a prática, lembre-se do topo da montanha. Pense em como era a vista e como você se sentia sentando lá. Faça disso sua meditação”. Uau, minha prática de meditação se tornou vibrantemente desperta.

Lembrar-se de uma experiência máxima de meditação também é bom quando nos sentimos ansiosos e inquietos. Quando isso acontece, reserve um momento pra sentar em silêncio (se estiver no trabalho, vá para o banheiro, ninguém vai lhe incomodar lá). Então lembre-se de como você se sentiu com aquela sua experiência de meditação.

Qual é uma de suas memórias de meditação mais preciosas?

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2 Comments

  1. says: Gabriel Ferraz

    Sou praticante ordenado na Soto Zen. Lembro-me de uma experiência fascinante em um Sesshin, retiro de zazen de cinco dias, no carnaval. Já estava meditando à horas e perguntando-me: O que existe além do espaço dessa alternância entre eu e não-eu, na mente? Mergulhei intensamente no questionamento e, logo antes do almoço, meditando, subitamente surge uma sensação de espaço imensa, fresca, brilhante e tão estável que tornei-me aterrorizado pela ideia de sumir completamente, de ser engolido por essa ”luminosidade” tão espontânea ( usar estes termos é a melhor maneira que tenho de tentar descrever a experiência.)

    Almocei, fiz as cerimônias e a sensação continuou. Em certos momentos, senti-me quase desaparecer, ou ser tomado pela realidade . Até hoje não tive oportunidade de realizar um Dokusan com o mestre, a fim de entender o que aconteceu. De qualquer forma, fiquei tão apegado á experiência que acabei me esgotando mentalmente, devido á esforço para busca-la. Após o retiro, fiquei deprimido, senti uma tristeza profunda, fiquei sem sentar em zazen por quase duas semanas. Até hoje, não sei o que aconteceu.

    Concluindo: Como dizia Shunryu Suzuki, se nós sentimos dificuldade em relação à pratico, é porque nos apegamos a ideais autocentradas e unilaterais em relação à prática. O resultado de um zazen, ou retiro não exprime a abrangência da prática.

    1. Que ótimo relato, Gabriel. Muito obrigado.

      Embora a meditação esteja cada vez mais e mais divulgada, não acho que o número de praticantes acompanha a expansão. Um monge ordenado então, mais raro aindo. Uma alegria podermos conversar aqui.

      Coincidentemente, também já tive experiências desse pânico súbito de desaparecer e ficar só uma consciência sem forma flutuando no ar, expandida como não conseguiria conceber. Acho que quando Dogen Zenji fala de cair mente e corpo, talvez não seja só uma “maneira de falar”, mas pode haver uma sensação mesmo de sumiço, de que as coisas caem. Algumas vezes, já com a respiração muito longa, sentia uma sensação de que meu estômago, meu tronco inteiro às vezes iniciava um movimento de desabar no chão, tornando-se um vazio transparente, uma sensação de vertigem (embora eu soubesse que estava imóvel), mas antes que minha cabeça se fosse, minha “defesa” era fazer uma inspiração repentina rápida. A sensação é que eu estava de volta com a solidez do pulmão envolvendo ar e espaço. Uma experiência de medo.

      Há algumas teorias que dizem que nós temos esse corpo sólido porque não aguentamos muito tempo nesse espaço aberto luminoso, e logo pedimos uma base sólida, um refúgio denso.

      Mais uma vez obrigado!

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