Mooji: “não perca tempo, você não tem que ficar o resto da vida procurando”

Existem algumas mensagens que você encontra em praticamente todas as escolas e ouve de todos os mestres ou seres realizados, e uma delas é “não perder tempo” no caminho do auto-conhecimento. Dilgo Kyentse Rinpoche (1910-1991), um dos grandes mestres budistas do Século XX,  dizia para não esquecermos “quão rápido a vida se vai, como um flash de relâmpago no verão ou o aceno de uma mão”, e insistia para que não perdêssemos “um único momento”. Robert Adams (1928-1997), um professor yogue americano também do século passado, conhecido pela mensagem de que “está tudo bem”, também lembrava para “não perdermos tempo com frivolidades”. O grande mestre Zen Dogen (1200-1253) escreveu: “Desperdiçar a passagem do tempo é estar confuso e sujo no flutuante mundo do nome e do ganho”.

Um dos grandes mestres vivos de Advaita, o jamaicano Mooji, também vem enfatizando a necessidade de dedicar tempo a descobrir a verdade, mas sem se perder no caminho, sem ficar buscando pra sempre no que poderíamos chamar de um perambular em círculos por escolas, práticas e mestres infinitamente, numa espécie de “samsara espiritual”. No vídeo abaixo, de onde foi transcrito o trecho abaixo, ele explica a dedicação, o uso do tempo e a necessidade do interesse verdadeiro na busca.

“Muitas pessoas começam (a busca) e nunca vão realmente até o fim. Eles começam e se confundem, vão em outras direções… Aí, você os encontra meses ou anos depois… Você os vê e parece que eles retrocederam. Não há nada neles: não há fogo, atração, presença ou poder. (…) Não perca tempo! Você não tem que passar a vida toda buscando se você tem a oportunidade de encontrar aquilo que procura. Você entende? Isto é auspiciosidade. Isso é dignidade, se quiser definir assim. Eu lhe digo: “Olha, eu escondi dinheiro nessa sala – você não tem dinheiro -, somente nesta sala. Encontre-o e vá.” E, então, eu volto duas semanas depois e você ainda está procurando… Brincando com o telefone… Você não está procurando, você está interessado em outra coisa. Você quer um telefone, você não está buscando. Isso é o que acontece com essas pessoas. Elas não estão realmente buscando. Elas dizem: “a Verdade é tão misteriosa…”, mas isso é uma bobagem. Você é a Verdade, é muito simples. A verdade é que elas não querem saber disso.”
Mooji

Eis o vídeo completo com Mooji — legendas em português disponíveis nos controles  de Closed Captions (CC) e Configurações, na base do vídeo:

//////////

Vídeo: Canal Moojiji (YouTube)
Foto: mooji.org

More from Nando Pereira (Dharmalog.com)
How to treat people, by Goethe
“Treat people as if they were what they ought to be, and...
Read More
Join the Conversation

12 Comments

  1. says: Alex

    A frase final que ele diz é a mesma sinceridade que vemos quando Maharaj é questionado sobre ele não ficar feliz nunca?! Realmente é gratificante encontrar pessoas assim. Excelente vídeo.

    Agora com relação as pessoas que “morrem na praia” ou “estão ali por mera questão de estar” não vemos isso também nas igrejas e religiões mundo a fora?

    Realmente são rara as pessoas que conseguem compreender a essência da questão.

    Como humanos isso vem a gerar um certo sentimento de tristeza, mas não é tudo isto parte do jogo cósmico? Apesar do comportamento, sabemos que é irrelevante, assim o fluxo do rio segue.

  2. Já tenho refletido sobre esta questão. Mesmo o mais honesto e sincero buscador da verdade acaba por se perder no meio de um tão grande emaranhado de ofertas no mercado espiritual. Tantos pretensos mestres, tantos diferentes métodos e caminhos, tantas diferentes linhagens e tradições… que disputam, se contradizem e muitas vezes pretendem ter a exclusividade das chaves do paraíso!!?

    A mensagem essencial até pode ser muito simples. Mas muitas vezes escrevem-se mil páginas para comunicar uma verdade que está apenas em dez ou vinte. Às vezes apenas confundem e atrapalham quem procura ajuda e esclarecimento. Hoje muito daquilo que se escreve sobre “espiritualidade” e “não-dualidade” apenas procura esclarecer e solucionar problemas e confusões que foram criadas precisamente pelos livros e tentativas de expor estas matérias em palavras e conceitos. Não é raro que as palavras apenas consigam multiplicar os problemas que procuram resolver.

    Feliz o buscador que tem a sorte de encontrar o mestre ou o ensinamento que lhe é adequado e eficaz. Por outro lado, esta infindável peregrinação por livros e mestres, talvez seja apenas um adiamento do único caminho que conduz ao esclarecimento e à verdade: decidirmo-nos a estudar e investigar no laboratório sempre disponível da própria mente e do próprio coração! Como declarou Terêncio, escritor romano do século II antes de Cristo, “Sou homem! Nada de humano me é estranho!”. É só quando nos dispomos a aprender por nós próprios, quando não fugimos á nossa própria solidão, é que poderemos estabelecer a relação correta com os livros e mestres.

    Quando sabemos escutar, de toda a gente podemos aprender. Por isso se diz que “quando o discípulo está pronto, o mestre aparece”. Na geografia terrena, um mapa poderá conduzir-nos a um tesouro, mas se calhar, na busca de Deus, primeiro teremos que o encontrar e só depois iremos compreender os mapas que o indicavam.

    1. Perfeito, Pedro.

      Boa parte da verborragia do caminho é uma tentativa de espalhar e esclarecer o caminho (vivemos na era do milagre da comunicação), e outra boa parte apenas reflexo dos andarilhos confusos de múltiplos caminhos. Ainda assim, me parece que é um erro quase inevitável. Mas que pode ser encurtado ou expandido. Daí a palavra do Mooji.

      Namastê.

  3. says: Laura

    Acho que esta frase e esta maneira de pensar vai dar razão ao mundo de hoje. Explico: não acho que perdemos tempo, porque acho que tivemos que passar por isso pra encontrar o nosso caminho e hoje em dia, a ideia de encontrar o que se procura e se possível sem muito esforço e rapidamente é o comum.
    Cada pessoa é diferente, o seu percurso sera também diferente.

    O mundo do auto-conhecimento hoje em dia esta cheio de pessoas à procura de respostas imediatas, fáceis e duradouras.
    O auto-conhecimento é o caminho de uma vida, de uma incarnação.

    “Perder tempo” nesse caminho é um tesouro, pois vai permitir de entrar em contacto com outras verdades que unicamente aquela que vai fazer sentido pra nos. E abrir-nos à tolerância, ao altruísmo, etc.

    Nada é tudo, e tudo é nada. Todos os caminhos (perdidos ou não) existiram por algo e para algo…

    1. Oi Laura.

      É uma leitura possível, mas ele deixa claro que a questão principal é o interesse genuíno e não-distraído, e não a troca ou a multiplicidade, ou turismo espiritual. Abrir-se às outras verdades e caminhos, e o altruísmo, como você cita, pra mim são consequências desse interesse e profundidade na (própria) concentrada busca. E as respostas imediatas são justamente seu contrário, a falta de interesse, concentração e profundidade (e também paciência, como você cita).

      No mundo que vivemos realmente pode ser difícil nos mantermos num único trilho, dada as múltiplas fontes e informações que estão sendo transmitidas, mas há que se ter a consciência do próprio caminho, é isso que vejo na fala do Mooji.

      Um abraço!

  4. says: walter moreno

    pareceu-me uma visão ansiosa por um objetivo limitador. além de carente de compaixão pelo processo evolutivo de cada um. em outras palavras, há julgamento embutido – talvez inconsciente – nesta abordagem. uma depreciação velada em relação à participação das diversas consciências distintas na vacuidade.
    um objetivo tácito e com fim “finito” (redundância intencional), com linha de chagada, é expressão egoica da mente inconsciente. não há porque correr se o tempo não existe. tal ponto de vista é incongruente e contraditório.

  5. says: walter moreno

    adendo: se partirmos do princípio que um “mestre vivo do Advaita Vedanta” não se equivoca em sua observação, não apenas caímos na ilusão da falácia ad hominem, como também permitimos que toda a estrutura filosófica do pensamento livre de conceitos pré-determinados por nomes conceituados se desmorone nesta fragilidade, como um castelo de cartas.

  6. says: Edivan Cardoso

    Não há caminho a ser seguido e nem tempo a ser perdido. Ninguém precisa ir a lugar algum para enxergar o que está dentro de si mesmo: a verdade! Não me pergunte o que é a verdade. Nem eu e nem ninguém, além de você mesmo, poderá responder a essa pergunta. Quando Jesus disse “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, de quem você acha que ele estava falando? Dele, só dele? Não, ele estava mostrando que não há caminho senão o que nos leva para dentro de nós mesmos.Portanto, não vá a lugar nenhum, não olhe à direita, à esquerda, nem para baixo ou para cima. Apenas fique onde você está e observe a si mesmo.O que irá descobrir fará toda a diferença. Observe tudo, o grande e o pequeno, não deixe escapar nada. Assim que o estado de observação “se manifesta”, não haverá mais diferença entre o grande e o pequeno. tudo é uma questão de alerta ou distração. O grande mistério da meditação está no fato de que, nela, não existe o “enxergar mais ou menos”. Ou você enxerga nitidamente ou ainda permanece cego, achando que está vendo alguma coisa.

Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *