Experimentar a verdade não é uma expressão muito popular no Ocidente. Saber a verdade sim, parece uma expressão mais familiar, mais normal. Experimentar nem tanto. Como a verdade poderia ser experimentada? Em escolas de sabedoria orientais, como Yoga e Budismo, essa experiência da verdade é absolutamente essencial, pois a pessoa vê por si mesma que uma coisa é ou não é, percebe, sente, realiza. Não é concordar com, ou aceitar que algo pode ser, mas ver “por dentro” da própria coisa, ou nela mesma, se é ou não é — como alguém que passa por um luto sabe o que o luto é. Ou alguém que experimenta uma fruta amarga sabe o que o amargo é, como explica o célebre monge tailandês de Budismo Teravada, Ajahn Chah (Pra Bhodinyana Thera) (1918-1992), que ensinou muito sobre essa realização interior da verdade, essa experimentação por si mesmo. No trecho abaixo, há uma pequena centelha desse ensinamento.
Se, como disse Buda Gautama, “a mente é o precursor de (todos os bons e maus) estados; a mente é o chefe; são todos confeccionados pela mente” (Dhammapada, cap.1, v1 e 2), então é fundamental fazermos o caminho pra dentro dessa mente, para dentro sua natureza, para vermos, experimentarmos. Usando essa mesma frase de Buda, assim que tomamos contato com ela, podemos manifestar algum movimento mental como concordar, discordar, questionar ou algo assim. Que seria neste caso uma experiência ainda essencialmente separada da verdade, de avaliação racional. Ao contemplarmos nossa própria mente, num processo de meditação profunda, podemos ver com a própria visão da nossa consciência se a mente é de fato a precursora ou não, se ela realmente confecciona os estados bons ou maus ou não. Isso seria então experimentar a verdade.
Para que isso aconteça, como ele diz, é preciso “ser trazido para dentro de si mesmo”, opanayiko. Ou, em outra tradução, “ir em direção ao Nirvana“.
Abaixo o texto mencionado de Ajahn Chah, com agradecimento ao próprio mestre e à sua comunidade tailandesa que disponibilizou livros inteiros dele na Internet.
“Enfatizo o ensinamento que o Dharma é opanayiko — “ser trazido para dentro de si mesmo” — de forma que a mente saiba, entenda e experimente os resultados do treinamento dentro de si mesma. Se as pessoas dizem que você está meditando corretamente, não acredite nelas tão depressa, e, da mesma maneira, se elas disserem que você está fazendo errado, não aceite o que dizem até que você tenha realmente praticado e visto por si mesmo. Mesmo se elas lhe instruírem na maneira correta que leva à iluminação, ainda assim é a palavra de outras pessoas; você tem que pegar o ensinamento delas e aplicá-los até que você experimente os resultados por si mesmo aqui neste momento. Isso significa que você deve se tornar sua própria testemunha, capaz de confirmar os resultados de dentro da sua própria mente.
É como o exemplo da fruta amarga. Eu disse a vocês que uma certa fruta tinha gosto de amarga e convidei vocês a experimentar. Vocês teriam que comer um pedaço e experimentar o amargor. Algumas pessoas iriam acreditar na minha palavra se eu dissesse que a fruta era amarga, mas se elas simplesmente acreditassem que era amarga sem nunca experimentá-la, aquela crença seria inútil (mogha), não teria nenhum valor de significado. Se eu descrevesse a fruta como amarga, seria meramente minha percepção dela. Só isso. O Buda não pregou tal crença. Mas você também não pode simplesmente ignorá-la: investigue. Você deve experimentar a fruta por si mesmo, e ao saborear seu sabor de verdade, você se torna a própria testemunha interna. Alguém diz que a fruta é amarga, então você a pega, come e descobre que é realmente amarga. É como se você tivesse se certificando duplamente — se baseando na própria experiência e no que as pessoas dizem. Dessa maneira você pode realmente ter confiança na autenticidade do sabor amargo, você é a testemunha que atesta a verdade”.
— Ajahn Chah, Sofrendo na Estrada (Suffering on the Road)
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Foto-montagem: Metta Refuge.
Gratidão !!!
H H Dalai Lama dialogue in Thailand:
The final afternoon session began with one of the Thai monks saying that while he had come to appreciate that it would be more appropriate to refer to Tibetan and Thai Buddhism as “the same goal, same path,” the Mahayana praises the Bodhisattva ideal rather than the Arhat ideal. He asked how we should reconcile this difference. His Holiness explained that the Perfection of Wisdom Sutras of the Sanskrit tradition mention the Hearer Vehicle, the Solitary Buddha Vehicle and the Bodhisattva Vehicle (Sravakayana, Pratyekabuddhayana and the Bodhisattvayana), but that it would be a misunderstanding to see them as completely different…
http://www.dalailama.com/news/post/888-tibetan—thai-buddhist-dialogue—second-day
Phena Sutta (SN XXII.95) – Espuma.
O Buda apresenta alguns vívidos símiles para descrever a vacuidade dos cinco agregados.
http://www.acessoaoinsight.net/sutta/SNXXII.95.php