Um pequeno trecho de uma palestra do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), fundador da Psicologia Analítica, enfatiza um dos pontos do post anterior (“Não sou eu, é você: os conflitos internos e a ilusão da responsabilização dos outros, num livro do Osho“) que contém um discurso do filósofo indiano Osho sobre a sombra, sobre a necessidade de conhecer ou reconhecer a própria capacidade para a maldade como caminho inescapável do auto-conhecimento. Ver e reconhecer profundamente nossas próprias capacidades malignas é o processo que nos capacita a conhecer a verdade sobre nós mesmos, e diz Jung, “é incrível como as pessoas se enganam nesse ponto“.
A palestra faz parte da 13ª da série EHT Lectures, de 16 de fevereiro de 1940, na Swiss Federal Institute for Technology (“Eidgenössische Technische Hochschule Zürich”).
Um trecho bem maior e mais completo da palestra está em inglês no blog JungNet.
Abaixo está a tradução do trecho mais curto:
“Esse é um fato simples da natureza, o ser humano não é só bom, ele também é mau.
Se quisermos conhecer a verdade sobre nós mesmos devemos perceber que somos capazes de grande virtude e também do pior vício.
É incrível como as pessoas se enganam nesse ponto.
Elas parecem se ver apenas quando são amigáveis e bondosas.
Mas e então o que são os bombardeios em cidades abertas e o assassinato de mulheres e crianças com armas de fogo?
As pessoas que estão fazendo isso não são pessoas particularmente cruéis, são pessoas comuns como todos nós.
Elas apenas foram um pouco além dos seus próprios limites, exatamente como alguém que demonstra grande virtude também foi um pouco além de si mesmo.
Somos assim forçados a perceber que temos um fundo que vai mais longe do que nossas consciências normais conseguem saber”.
— Carl G. Jung, ETH Lectures, pg. 245.
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Obrigado pelo texto.
Interessante o assunto. Já tinha lido um pouco a respeito, inclusive do próprio Jung, mas o que vale de fato é a experiência.
Tenho percebido ultimamente esse meu lado mau, aliás, sempre tive conhecimento dele mas sempre neguei e nunca o levei em consideração. Somos levados a polarizar o lado bom como positivo e excomungar o lado mau. Claro, para a vida em sociedade isso é necessário.
Mas de fato, creio que para o autoconhecimento essa é uma etapa necessária. A pergunta é: o que fazemos com ela ?
Talvez a resposta seja, vivenciamos e tiramos a lição da experiência.