O autor é o famoso filósofo e ativista russo do século XIX, um dos fundadores da Anarquismo, Mikhail Aleksandrovitch Bakunin (1814-1876), mas os escritos abaixo são de um documento pessoal, endereçado ao seu irmão Pavel (Paulo, em português), e ao invés de falar (estritamente) de assuntos políticos, é uma carta com afirmações particulares de Bakunin sobre a vida, o amor e a absolutamente fundamental liberdade do ser humano. “Amar é desejar a liberdade, a completa independência do outro: o primeiro ato de verdadeiro amor é a completa emancipação do objeto amado”, diz ele, em um trecho. Redigida em Paris, em 1845, bem antes do período em que foi preso por sete anos e depois exilado na Sibéria, a carta tem essa impressionante atemporalidade, e, talvez até mais do que em nosso tempo, tem uma força de manifesto e de ímpeto pessoal que, talvez mais até do que comunicar, inspira nossos tempos.
A tradução abaixo é livre, de um registro da carta no site Libcom (em inglês). Há pelo menos uma tradução anterior publicada em português desta mesma carta, como por exemplo a contida neste link.
Segue a carta:
“Sou o mesmo de antes – um inimigo certo do atual estado das coisas, com essa diferença apenas, que eu finalmente conquistei a metafísica e a filosofia em mim mesmo e me joguei inteiramente, com toda minha alma, no mundo prático, o mundo do ato real. Acredite, amigo, a vida é bela; agora tenho direito pleno de dizer, porque eu parei de enaltecer a observação do mundo por construções teóricas e sem saber dele senão por fantasia, porque eu realmente experimentei muito de sua amargura, porque tenho sofrido muito e tenho caído em desespero.
Estou amando, Pavel, estou amando apaixonadamente: não sei se sou capaz de ser amado como desejo ser amado, mas não desisto de ter esperança: eu sei que ao menos ela tem sentimentos afetivos em relação a mim, eu quero ter mérito para receber desta que amo, quero amá-la reverentemente, que é apaixonante: ela está submetida à mais terrível e à mais infame escravidão e devo libertá-la, combatendo seus opressores e inflamando em seu coração o sentimento da sua própria dignidade, incitando-a ao amor e à necessidade por liberdade, os instintos da rebelião e independência, fazendo-a se lembrar das sensações de sua força e seus direitos.
Amar é desejar a liberdade, a completa independência do outro: o primeiro ato de verdadeiro amor é a completa emancipação do objeto amado. Uma pessoa não pode amar a não ser que seja perfeitamente livre, independente, não apenas de outros mas mesmo e acima de tudo daquele que ama e de quem está apaixonado por você.
Aí está, esta é minha profissão de fé política, social e religiosa, é meu mais profundo sentimento, não apenas das minhas atividades e de minhas inclinações políticas, mas também da extensão que sou capaz em minha existência particular e individual, porque o tempo em que essas duas formas de ação poderiam ser separadas está muito distante de nós, agora o ser humano quer liberdade em todos os significados e aplicações dessa palavra, ou ele não quer nada. Desejar, no amor, a dependência da pessoa a quem se ama, é a coisa mais perigosa e abominável do mundo, porque seria uma fonte interminável de escravidão e brutalidade da humanidade.
Tudo o que liberta o homem, tudo que o faz retornar a si mesmo, faz nascer nele o princípio de sua atividade original e realmente independente. Tudo o que lhes dá força para serem eles mesmos é verdade, todo o resto é falso, mata a liberdade e é absurdo… Emancipar o homem, este é o único uso legítimo e benéfico das nossas forças… Por baixo de todos os dogmas religiosos e filosóficos, não há nada além de mentiras; a verdade não é uma teoria mas um fato, é a própria vida, é a comunidade de seres livres e independentes, é a unidade santa do amor que irrompe das profundezas misteriosas e infinitas da liberdade individual. ”
~ Mikhail Aleksandrovitch Bakunin (1814-1876), em Carta ao irmão Paulo (29 de março de 1845)
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Compartilhado por Victor Sahate.
Excelente artigo! Só mudaria fundador da “Anarquia” (que denota um estado das coisas) para fundador “do Anarquismo”, que é uma orientação sociopolítica. Muito obrigado pelo texto!
Excelente, sugestão acolhida e realizada. Obrigado Artur!
Namastê,
Nando
lendo o texto em english observei que tem um erro de tradução na palavra “act” quando ele fala: the first “act” of true love is the complete emancipation of the object that is loved.
ACT é Ato e não Ator, portanto fica assim: o primeiro “ato” do verdadeiro amor é a completa emancipação do objeto amado e não o primeiro ator de verdadeiro amor é a completa emancipação do objeto amado”.
existem outras pequenas mudanças que faria em duas sentenças, mas a que esta aí não implica em entendimento do texto,apenas da uma travada na logica na hora de ler, mas não compromete, então,ok!
Teve erro mas foi de digitação, Ana. Obrigado, está atualizado.