“Há uma ótima história de Nazrudin, o mestre Sufi, que tinha o talento de contar histórias absurdas. Um dia, diz a história, ele enviou um de seus discípulos ao mercado e pediu-lhe que comprasse um pacote de pimentas. O discípulo foi e voltou com o pacote para Nazrudin, que começou a comê-las, uma atrás da outra. Logo seu rosto ficou vermelho, seu nariz começou a escorrer, seus olhos começaram a lacrimejar e ele começou a engasgar. O discípulo assistiu a isso por algum tempo com certo receio e então disse: “Senhor, seu resto está ficando vermelho, seus olhos cheio de água, e você está engasgando. Porque você não para de comer essas pimentas?”. Nazrudin respondeu: “Estou esperando que apareça uma docinha”.
A ajuda sábia das pimentas! Nós, também, estamos esperando por algo, em algum lugar, que criará a paz e a felicidade por nós. Enquanto isso não há nada além de dukkha (insatisfação, sofrimento). Nossos olhos estão lacrimejando, nossos narizes escorrendo, mas ainda não largamos mão de nossas ilusões. Deve haver uma docinha no fundo do pacote! Não adianta pensar, ouvir ou ler a respeito: devemos olhar dentro de nossos corações e perceber a realidade interior. Quanto mais o coração estiver querendo e desejando, mais dura e difícil a vida se torna.”
~ Ayya Khema, em “Be an Island: The Buddhist Practice of Inner Peace” (pg. 69)
Há várias histórias parecidas com essa, como aquela onde o sujeito procurava uma agulha no quintal de casa apesar de tê-la perdido dentro de casa (“porque aqui está mais claro”, argumenta ele), mas essa tem, digamos, um gosto especial. Porque não é só uma questão de estarmos buscando no lugar errado, mas que continuamos repetindo essa busca nesse lugar errado, aparentemente ignorando os consecutivos resultados frustrantes, sabendo que a pimenta é a pimenta, na esperança que tenha um gosto de morango ou de cereja em algum momento. É o jogo ultrapassado e meticuloso do ego. “Estou esperando que apareça uma docinha”. Que mestre esse Nazrudin.
Ayya Khema foi uma monja alemã (1923-1997) do Budismo Theravada com uma longa história de vida, que inclui um início com a fuga da Alemanha nazista quando tinha 15 anos (para a Escócia e depois para Japão e Estados Unidos), passando por sua ordenação em 1979 até a fundação de monastérios budistas na Austrália, Sri Lanka e Alemanha. Seu mestre foi o Venerável Matara Sri Ñ??an?r?ma, do monastério Nissarana Vanaya, no Sri Lanka. “Ayya” significa segurança, “Khema” significa venerável.
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Nazrudin é uma figura! adoro suas histórias. Osho, citava sempre em contextos bem humorados. Recomendo aos leitores do dharmalog o livro “O barco Vazio”-Osho, que contém muitas dessas histórias iluminadas.
Namastê!
Ed.
Obrigado pela recomendação, ED!
Também aproveito para fazer uma segunda sugestão: “Nasrudin 99 Contos”, organizado por Felipe Varella, edição Caravana de Livros (2009).
Namastê!
Nando
Estas histórias de forma simples e inteligente , removem a cegueira que todos nós temos em relação a nós mesmos e nos mostra ,como teimamos em repetir os erros que nos cegam e nos levam aos sofrimentos constantes.
Gratidão, por todos os comentarios.