“Agora contaremos doze e ficaremos todos quietos”: Pablo Neruda e a vida que há quando estamos juntos em silêncio

Se apresentar um poema já é complicado, imagine um que pede silêncio. E que pede silêncio apenas por um minuto. E quem pede é Pablo Neruda (1904-1973). Abaixo, a versão original em espanhol de “A Callarse”, e logo depois uma tradução livre para o português.

Ahora contaremos doce
y nos quedamos todos quietos.
Por una vez sobre la tierra
no hablemos en ningún idioma,
por un segundo detengámonos,
no movamos tanto los brazos.

 

Seria un minuto fragante,
sin prisa, sin locomotoras,
todos estaríamos juntos
en una inquietud instantánea.

 

Los pescadores del mar frío
no harían daño a las ballenas
y el trabajador de la sal
miraría sus manos rotas.

 

Los que preparan guerras verdes,
guerras de gas, guerras de fuego,
victorias sin sobrevivientes,
se pondrían un traje puro
y andarían con sus hermanos
por la sombra, sin hacer nada.

 

No se confunda lo que quiero
con la inacción definitiva:
la vida es solo lo que se hace,
no quiero nada con la muerte.

 

Si no pudimos ser unánimes
moviendo tanto nuestras vidas,
tal vez no hacer nada una vez,
tal vez un gran silencio pueda
interrumpir esta tristeza,
este no entendernos jamás
y amenazarnos con la muerte,
tal vez la tierra nos enseñe
cuando todo parece muerto
y luego todo estaba vivo.

 

Ahora contare hasta doce

 

y tu te callas y me voy.

 

~ Pablo Neruda

 

Versão em português, traduzida livremente por este blog:

Agora contaremos doze
e ficaremos todos quietos.
Por uma vez sobre a terra
não falemos em nenhum idioma,
por um segundo nos detenhamos,
não movamos tanto os braços.

 

Seria um minuto flagrante,
sem pressa, sem automóveis,
todos estaríamos juntos
em uma quietude instantânea.

 

Os pescadores do mar frio
não fariam mal às baleias
e o trabalhador do sal
olharia suas mãos rotas.

 

Os que preparam guerras verdes,
guerras de gás, guerras de fogo,
vitórias sem sobreviventes,
vestiriam um traje puro
e andariam com seus irmãos
pela sombra, sem nada fazer.

 

Não confundam o que quero
com a inanição definitiva:
a vida é só o que se faz,
não quero nada com a morte.

 

Se não podemos ser unânimes
movendo tanto nossas vidas,
talvez não fazer nada uma vez,
talvez um grande silêncio possa
interromper esta tristeza,
este não entendermos jamais
este ameaçar–nos com a morte,
talvez a terra nos ensine
quando tudo parece morto
então tudo está vivo.

 

Agora contarei até doze
E tu te calas e eu me vou.

 

Pablo Neruda

More from Nando Pereira (Dharmalog.com)
A Antônio Maria, com carinho
Junto-me à cada vez maior legião de fãs de Antônio Maria com...
Leia Mais
Join the Conversation

10 Comments

  1. says: norma7

    Muito bonito. Tem ele musicado no YouTube. Porém, acho-o mais forte lido.
    Agradeço.
    Boa Sorte, Norma

    P.S.: 1973 não foi um ano nuito bom para às artes (nem para os ‘Pablos’) – encerram o ciclo: o Neruda, o Casals e o Picasso :/
    Bjo Nac?

  2. says: cristina

    REALMENTE ESTE POEMA FALA DE UMA ATITUDE QUE GOSTARIA QUE REALMENTE EXISTESSE UMA UNICA VEZ NESE PLANETA IMAGINEM SE ISSO FOSSE POSSIVEL .TODOS NO MESMO MOMENTO FICASSEMOS EM SILENCIO COMPLETO EM TOTAL ENTREGA DE TODO EGO PARA SALDARMOS A TERRA EM QUE VIVEMOS DE UMA FORMA EM QUE O IDIOMA ,A COR , A DISTÂNCIA NADA CONTASSE APENAS UM SILENCIO PROFUNDO E CHEIO DE AMOR PELA TERRA POR ESTAR VIVOS EM UNIÃO TOTAL ENTRE OS SERES VIVOS NOSSA SERIA UM MINUTO DE PURA ENTREGA , OS MESTRES ,ANJOS DEUS TODOS FICARIAM FELIZES POR ISSO .LINDO ESSE POEMA E PROFUNDO TMB .UM MINUTO PELA VIDA E NÃO PELA MORTE DE ALGUÉM COMO ACONTECE EM CAMPOS DE FUTEBOL SO QUE SALDANDO A VIDA .

    1. says: ieldo

      “SALDAR A TERRA”.????..realmente é o que devemos fazer à quem tanto devemos…a terra. Podemos também SAUDAR a terra, porque não.
      iellowwwwwwwwwwwwwwwwww

    2. says: norma7

      Cristina,

      Acho que alcancei o teu (belo) pensamento. O silêncio (assim como o expressar-se) nos coloca em Comunhão e é nivelador, integrador quando em grupo. Cria profundos laços de plena confiança e parceria/união, quando praticado a dois. O silêncio abaixa à guarda.
      A sós, ele mesmo (Neruda) conta:

      “Algún día en cualquier parte, en cualquier lugar indefectiblemente te encontrarás a ti mismo, y ésa, sólo ésa, puede ser la más feliz o la más amarga de tus horas.“ Neruda

      A callarse [Ismael Serrano]
      http://youtu.be/p8ieLGFIaTk

      (Nos campos de futebol o ‘minuto de silêncio’ dura, no máximo, 30 segundos. É mais para assinalar o fato, do que prestar reverência, propriamente. Acho).

      O silêncio é para os fortes, para os destemidos, para os amantes, para os devotos, para os que querem se ‘ver’, (‘visão’ de quem tem todos os ‘dados’)…, mas – felizmente – passível de aprendizagem.
      Boa sorte, Norma

  3. says: silvana nibon

    Lindo poema de pablo , silencio total por toda terra…. para realmente entendermos que quando tudo parece morto, está realmente vivo.

  4. says: Jorge Silva

    Profundo e inspirador!

    Não é necessário publicar meu comentário, apenas gostaria de comentar que a tradução:

    “Não confundam o que quero
    com a inanição definitiva:”

    … soaria mais adequada assim:

    “Não confundam o que quero
    com a inação (ou inércia) definitiva:”

    Gosto muito do espaço, contribui de forma nobre para nossa evolução diária.

    Grato.

    Jorge Silva.

  5. says: Rose Lopes

    Lindo poema, que ressalta o poder de união no silêncio, na quietude, na parada na agitação diária.
    Registro uma sugestão de alteração na versão em português: inacción corresponde à “inatividade” e não inanição.

Leave a comment
Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *