Eis aqui um rico e curioso diálogo sobre questões da consciência (e inconsciência) humana exploradas por três grandes figuras: o filósofo indiano Jiddu Krishnamurti (1895-1986), o físico anglo-americano-brasileiro David Bohm (1917-1992) e o psiquiatra americano, David Shainberg (1932-1993). Se Jung estava certo ao dizer que o Yoga “é uma descrição filosófica dos fenômenos psíquicos” (Yoga & Consciência, Antonio Renato Henriques), esse diálogo toca seguidamente nesse capacidade, errando e acertando, errando e acertando de novo e de novo. Esse diálogo de 1h faz parte de uma série “The Power of Illusions“, que contém outras sete partes, todas filmadas em Brockwood Park (Inglaterra) em maio de 1976. E que virou livro em 1979, intitulado “The Wholeness of Life“.
Porque nós dividimos o consciente do inconsciente? Ou é um processo unitário total se movimentando? Não escondido, não oculto, mas movendo-se como uma corrente inteira?
~ Jiddu Krishnamurti
O inconsciente existe? Está em outro lugar oculto, fragmentado, e vem à tona quando explorado e trazido à consciência? Ou é tão óbvio que estã todo tempo à nossa frente e não vemos? O que o inconsciente tem a ver com a imagem que fazemos de nós mesmos? O que acontece com uma criança quando ela parece sofrer? O que os pais tem a ver com a imagem que a criança faz de si mesma? Essa e várias outras questões são propostas por Krishnamurti, e Shainberg faz um papel absolutamente essencial que é o de questionar o filósofo e o de injetar as questões da psicologia moderna nessa investigação filosófica existencial — que apesar de ser inominada, tem óbvia influência da milenar tradição hindu e suas mil escolas, como o Yoga e a Teosofia. Nesse sentido, o psiquiatra Shainberg aparece para aprimorar e dar mais nitidez a questões e dúvidas que a psicologia propõe e estuda, confrontando-as com as respostas da sabedoria sintetizada de Krishnamurti. Como, por exemplo, quando se discute a influência dos pais e a necessidade biológica e psíquica da criança de sua presença e proteção. Essa tradução em exemplos práticos é parte desse diálogo de aparentes opostos:
Krishnamurti – Eu não quero pensar em alguém porque ele me feriu. Isso não é o inconsciente, não quero pensar nisso.
Shainberg – Certo.
Krishnamurti – Estou consciente, ele me feriu e não quero pensar nisso.
Bohm – Mas um tipo de situação paradoxal surge porque eventualmente você fica tão bom nisso que não percebe que está fazendo isso. Quer dizer, isso parece acontecer.
Krishnamurti – Sim, sim.
Bohm – As pessoas tornam-se tão hábeis em evitar aquelas coisas que param de perceber que estão fazendo. Torna-se habitual.
Shainberg – Certo. Acho que é isso que acontece. Que esses tipos de coisas, as feridas…
Krishnamurti – A ferida permanece.
Shainberg – A ferida permanece e nós esquecemos que nos esquecemos.
A questão da imagem que fazemos de nós mesmos é central e não demora a Krishnamurti colocá-la na mesa de centro, com a anuência de Shainberg e Bohm. “Porque eu tenha essa imagem (de mim mesmo) pra começar? Isso é o inconsciente”, propõe Shainberg. “É inconsciente? É nisso que quero chegar. Ou isso é tão óbvio que não olhamos?“, responde Krishnamurti.
“Enquanto você tiver uma imagem de si mesmo, você não terá nenhuma relação com o outro”.
~ Jiddu Krishnamurti
Segue o vídeo do quinto diálogo da série, “Existe o Cérebro Inconsciente?” (57min42seg), legendados em português e publicados no YouTube pelo canal KrishamurtiBrasil:
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