Pensar, acreditar, sofrer, evitar: a criação do sofrimento e da busca pela felicidade por Scott Kiloby

“Como seres humanos, estamos acostumados a nos basear fortemente nos pensamentos, seja para ter um senso de si mesmo ou para informações sobre os outros e o mundo. Essa tendência habitual de se basear em pensamentos cria uma crença na separação. Quanto mais nos baseamos no pensamento, mais sentimos que cada pensamento aponta para uma coisa separada. O sofrimento, a busca e o conflito nascem dessa crença na separação. O sofrimento pessoal nasce porque nos identificamos com o fluxo de pensamento em nossas mentes. Se uma onda de pensamentos for negativa, experimentamos sofrimento emocional e mental. Mesmo quando parece ser positiva, pode haver sofrimento pois tentamos defender ou proteger essa boa imagem quando nos sentimos ameaçados de alguma maneira. Esse sistema de crença é também a causa da busca. Quando acreditamos que somos separados, pensamos nós mesmos como estórias separadas existindo no tempo. Em cada ponto dentro dessa estória, nos encontramos no meio de um filme interminado chamado “Minha vida”.

 

O passado parece incompleto, e só o futuro parece poder trazer a plenitude. Isso resultado em uma busca constante em direção ao futuro. Nós perseguimos repetidamente a felicidade futura, mas parece que nunca encontramos contentamento de maneira permanente. Nesse senso de separação, vemos a nós mesmos frequentemente como deficientes em algo; “Não sou bom o suficiente”, “Não estou lá ainda”, “Sou incapaz de ser amado”, “Sou inadequado”, “Sou inseguro. Essa percepção de deficiência nos impele a busca e tentar controla ou a mudar outras pessoas e situações, numa tentativa de consertar essa deficiência. Enquanto nos identificarmos com essa estória de deficiência, não poderemos encontrar contentamento estável, paz, amor e plenitude.

 

Esse sistema de crenças é também a razão pela qual nós experimentamos conflito. A separação nos faz sentir desconectados das outras pessoas e da própria vida; há uma percepção de separação especial. Quando nos sentimos como objetos separados, acreditamos que esses outros objetos (incluindo as pessoas) tem o poder de nos ameaçar ou reduzir quem somos. Isso nos impele a querer estarmos certos e a tornar os outros errados. Para cada certo, há um errado; e nós clamamos sermos o certo e assim fazemos nosso oponente (quem quer que seja que esteja em conflito conosco) errado. Ao estarmos certos, nos construimos. Isso protege o frágil centro do ego de se sentir diminuído ou ameaçado. Infelizmente, esse é exatamente o motivo pela qual nos colocamos em conflito.”

~ Scott Kiloby, no livro “Living Realization

//////////

Foto de Salvatore Iovene (licença de uso BY-NC-SA by Creative Commons)

More from Nando Pereira (Dharmalog.com)
TOTALMENTE conectado com a vida: o ioga de PJ Heffernan e a crença que não somos suficientes
Há um tema unificador nos praticantes desta Ioga: um sentido de desejar...
Leia Mais
Join the Conversation

4 Comments

  1. A busca é inerente ao ser humano, que é o “ser pensante”.
    O pensamento nos leva ao conhecimento de nossas fragilidades e às dúvidas.Isso,penso que nos traz conflito, mas também nos dá a possibilidade de evoluirmos. Infelizmente, como diz Scott Kiloby, o conflito gera sofrimento, porque fere nosso ego, que sente -se ameaçado e se auto defende, criando insatisfação e ansiedade pelo futuro.

    1. Acho que não precisamos do pensamento para conhecer fragilidades, Clície. Talvez, em muitos casos, o pensamento até seja um grande criador (inventor) de fragilidades. Certamente é o das dúvidas.

      Mas, mais que o pensamento em si, Scott fala muito do “sistema de crenças”, que seria essa teia de pensamentos que nós formamos ao redor da nossa realidade, e chamamos inapropriadamente de realidade.

      Bom tema para reflexão.

      ABS,
      Nando

  2. says: Marcelo

    Concordo com voce Nando, quando comenta a Clície. Penso que o que chamamos de “a busca ser inerente ao ser humano” na verdade é um “truque” do ego que tenta nos “encantar” com a beleza de podermos “pensar”. Como se pensar fosse um atributo humano adquirido pela vontade. Pensar é um “sentir” com consciencia. Poderíamos experimentar (ou adquirir, na linguagem da Clície)mais evolução (ou conhecimentos, na linguagem da Clície) se não nos deixassemos interferir pelos pensamentos. E nos deixamos interferir tanto por eles (pensamentos) que chegamos a um ponto, ou sistema de crenças, que é extremante difícil compreender a vida, aceitar a vida e a verdade divina. Nos distanciamos da nossa essência e é por isto que sofremos e temos dúvidas. Nossos sistemas de crenças e toda nossa sociedade organizada nos move para o ego, separa tudo. O resultado é o que vemos diariamente: sofrimentos, dúvidas, interpretações diferentes de uma mesma coisa, e pra acabar com qualquer discussão, ouvimos as vezes dizerem: “cada um tem sua própria realidade”… como se cada um é um mundo totalmente à parte. O ser humano só difere na “carcaça”, por dentro somos todos iguais. Diferimos no sexo por termos recebido uma benção divina para a busca do Amor humano.
    Desculpem se parecer uma crítica, minha intenção é expressar meu entendimento.
    Abs.

Leave a comment
Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *