A solidão é a doença do ser do nosso tempo: Thich Nhat Hanh explica a tecnologia e a nossa imensa desconexão [ÁUDIO]

“A solidão é o ser doente do nosso tempo. Nós nos sentimos muito sozinhos, mesmo se estamos rodeados de muitas pessoas. Estamos sozinhos juntos. Há um vácuo dentro de nós e não nos sentimos confortáveis com esse tipo de vácuo, então tentamos preenchê-lo através da conexão com outras pessoas. Acreditamos que quando nos conectamos com outras pessoas o sentimento de solidão vai desaparecer. E a tecnologia nos provê vários mecanismos para nos conectarmos, para nos mantermos conectados, e nós nos mantemos conectados mas continuamos a nos sentir sozinhos. Nós checamos emails várias vezes ao dia, nós mandamos emails várias vezes ao dia, nós publicamos mensagens diversas vezes no dia, queremos compartilhar o que vemos, e estamos ocupados, ficamos ocupados o dia todo para nos conectarmos, mas isso não ajuda, não reduz a quantidade de solidão em nós. Isso é o que acontece neste momento em nossa moderna civilização. Nosso relacionamento não está bem. Não estamos em um bom relacionamento com nosso parceiro, com nosso irmão, com nossa irmã, com nossos pais, com nossa sociedade. Nos sentimentos muito sozinhos, e temos usado a tecnologia para tentar dissipar esse sentimento de  solidão, mas não conseguimos. Na tradição da Plum Village, cada vez que nos sentamos e nosso assento, é para conectarmos com nós mesmos, porque em nossa própria vida estamos desconectados de nós mesmos. Nós andamos e não sabemos que estamos andando, estamos lá mas não sabemos que estamos lá, estamos vivos mas não sabemos que estamos vivos. Estamos nos perdendo de nós mesmos, não somos nós mesmos. E isso está acontecendo quase que o dia inteiro. Por isso o ato de sentar é um ato de revolução. Quando você senta você corta esse estado de estar se perdendo e de não ser você mesmo, e quando você senta você se conecta consigo mesmo. Você não precisa um iphone ou um computador pra fazer isso. Você só precisa se sentar conscientemente e respirar, conscientemente. E em apenas alguns segundos você se conecta consigo mesmo e você sabe o que está se passando. O que está se passando no seu corpo, o que está se passando nos seus sentimentos, nas suas emoções, o que está se passando com suas percepções e assim por diante. Você já está em casa. ”
~ Thich Nhat Tanh, “A Solidão é a Doença do Ser do Nosso Tempo”

Essa maravilhosa mensagem do monge zen Thich Nhat Hanh foi proferida na quinta-feira da semana passada, dia 13 de dezembro, na Plum Village, na França, e pelo milagre da tecnologia podemos tê-la aqui na íntegra, para, quem sabe, podermos nos desconectarmos com tranquilidade e chegarmos em “casa”. O trecho acima foi traduzido por este blog a partir de parte do áudio que foi disponibilizado na Internet pela comunidade criada por Thay na França. Quem puder ouvir o trecho inteiro de 19min58seg em inglês, muitíssimo recomendado, segue abaixo:

//////////

More from Nando Pereira (Dharmalog.com)
“Tudo que a gente vê no universo”
All that we see in the universe has for its basis this...
Leia Mais
Join the Conversation

21 Comments

  1. says: Cláudia

    Querido Fernando!
    Gratidão por por mais este e por todos os outros posts que me ajudam a voltar “para casa”. Com eles, dia após dia tenho estado cada vez mais perto de mim. Através deste Blog me conecto com os pensamentos de tantos que me ensinam a estar simplesmente aqui.
    Este “espaço” foi um presente para mim em 2012. Desejo a você e à todos os que aqui se encontram um 2013 muito feliz. “Em casa” e Feliz!

    1. says: norma7

      “Home is the place where loneliness disappear”
      O lar (em casa) é o lugar onde a solidão desaparecer
      ~ Thich Nhat Tanh

      Cláudia: Você descreveu o meu sentimento sobre o Dharmalog e todos os ‘ganhos’ trazidos em 2012. Grata.
      Boa Sorte, Norma

    2. Querida amiga Claudia,
      Estou falando aqui debaixo da cachoeira de palavras generosas que você enviou. Obrigado de coração, me deixa muito feliz receber teu cartão postal de volta pra casa. Eu também volto pra casa a cada dia, buscando, encontrando, recebendo e publicando essas coisas, aprendendo e trocando com cada vez mais gente com luz própria aqui nesse espaço.
      É um momento de agradecer pelo milagre da comunicação, que faz a gente chegar a tanto ouro, a tantos insights, a tantas pessoas e, no fim, à nós mesmos.

      Como dizia Herman Hesse: “A verdadeira profissão do homem é encontrar o caminho de volta pra si mesmo”.

      Namastê
      e Feliz 2013!
      Em casa,
      Nando

    1. says: William Fernandes

      Acabei de encomendar este livro…preciso muito me encontrar…ir pra casa…tenho um torturador dentro de mim…!

  2. says: norma7

    Só na terceira tentativa (séria) consegui ouvir o postcast. Todos os impecilhos surgiram, inclusive um ‘motim’ de hearphones, todos vítimas de apropriação indébita e uso indevido, até pernoite para o peludinho de uma amiga.
    Só pensava: Reconcilia-te com todas as coisas! (UCEM) Lembra-te de Sta. Teresa de Lisieux (já me preparando para à guerra – rs): “La vida es tu navío, no tu morada. ”

    Enfim …, muito bom.
    Somos todos conectados, mas a primeira conexão é conosco.
    Parece tão simples/tão complexo…
    Estar presente no presente.
    How long is Now?
    Grata pela postagem,
    Boa Sorte, Norma

    Obs.: até onde pude checar não há (ainda) uma transcrição do áudio. fiquemos atentos ☺
    P.S.: Lendo a sugestão da Angelika, lembrei-me de um trecho do livro indicado por ela, que admiro por sua (aparente) simplicidade:

    Lavando a louça por lavar
    Segundo o Sutra da Mente Desperta enquanto se lava a louça, deve-se somente lavar a louça, o que quer dizer: enquanto se está lavando louça, deve-se estar totalmente cônscio do fato de que se está lavando louça. A princípio pode parecer uma tolice: por que dar tanta importância a coisa tão simples?
    Se ao lavarmos a louça ficarmos com o pensamento voltado apenas para a xícara de chá que saborearemos a seguir, a tarefa se torna um fardo. Procuraremos automaticamente limpar a louça às pressas para nos livrar da chateação e não estaremos “lavando a louça por lavá-la”.
    E mais, nós não estaremos vivos durante o tempo em que a estivermos lavando.
    Estaremos na verdade sendo incapazes de reconhecer o milagre da vida enquanto à beira da pia. E se não somos capazes de lavar a louça por lavar, é pouco provável igualmente que seremos capazes de saborear o chá a seguir.
    Pois ao tomar o chá, estaremos com o pensamento voltado para outras coisas, inconscientes do fato de que temos uma xícara nas mãos. Dessa forma estaremos sendo sugados para fora da realidade presente – e incapazes de viver em totalidade um minuto sequer.

    Extraído do livro: “PARA VIVER EM PAZ: O MILAGRE DA MENTE ALERTA” de Thich Nhât Hanh

    bjo Nac♥

  3. says: norma7

    FALTOU ISSO:
    (não adoeça por solidão, viu?)
    Boa Sorte, Nac♥

    (…)
    Superpoderosa, ela corta a nossa alegria de viver e vai sufocando tudo o que há de bonito dentro da gente. É impressionante como a maioria das pessoas acha que solidão é a falta de gente no nosso convívio, quando, na verdade, ELA É A FALTA DE NÓS MESMOS. A solidão é um fenômeno interior, não depende de terceiros. Você pode, inclusive, sentir solidão estando no meio de amigos que lhe querem bem.
    A solidão, no fundo, representa O QUANTO VOCÊ ESTÁ LONGE DE SI. O quanto você não se aceita. O quanto você não está do seu lado. O quanto você se vê negativamente. O quanto você se culpa e se reprime. Esses processos naturais de auto-rejeição levam você a se sentir sozinha, longe de si.

    O primeiro passo, portanto, para acabar com a solidão, é assumir a responsabilidade pela sua própria vida. Quando adota essa atitude, você conquista o poder de lidar com qualquer situação, porque sai da posição de vítima e faz algo concreto para seu próprio bem. Fazer algo por nós mesmos é fundamental para quem quer melhorar a vida. Mudando suas atitudes, um mundo novo e cheio de possibilidades se abre.
    (…)
    Fonte: L. A. Gasparetto

  4. says: norma7

    “E maravilhosa a frase “reconhecer o milagre da vida enquanto à beira da pia”.” Nando
    +++++++

    Para as mulheres (independente de suas profissão) é mais que isso: É um processo terapéutico a técnica sugerida pelo livro, em vista de suas duplas jornadas, responsabilidades sobre à prole e administração da casa, etc…etc. Sem PRESENÇA, emperra e torna-se dolorido.

    Obrigada, Nac♥

  5. Queridos amigos do Darmalog.

    Quero aproveitar este momento para agradecer todos os conhecimentos com que nos presentearam nesse ano de 2012 e lhes dizer que espero poder estar com vocês no próximo Ano.
    Estamos sós, quando esquecemos que a vida é um “Dom de Deus” e que aqueles que Ele põe em nossos caminhos, são outros presentes magníficos que nos ajudam a regressar ao “Lar”.
    Um…
    Feliz Natal e votos de um 2013 com muita Luz, Paz e Amor especiais para o Nando e sua dedicada equipe. Bjs da Cly.

    1. Querida Cly,

      Foi um ano incrível, muito rico, com muita luz e participações especiais como a sua. Fica aqui o convite para você voltar, para continuarmos nos divertindo, conversando e “voltando pra casa”.
      Obrigado por ter vindo aqui e dado seu precioso tempo e atenção.

      Feliz 2003!
      bjs,
      Nando

  6. says: norma7

    Aos da ‘Tribo’ e aos que chegam ao pé do Lume:

    Faço coro aos votos já formulados como, também, agradeço ao Nando (o seu precioso trabalho de ‘garimpo & ‘tradução’, no sentido amplo das palavras), o espaço criado, que nos permite trabalhar sentimentos e emoções, levando-nos a um maior autoconhecimento, em busca da conscientização de Quem Realmentos Somos.

    Só acrescentaria SUCESSO à nossa Caixa de Ferramentas, para trabalharmos em 2013.

    (“O sucesso é gostar de si mesmo, gostar do que você faz, e gostar de como o faz”
    -Maya Angelou)

    Do tipo que nos permita dizer: Eu vivo ISSO! Não vivo DISSO – esse tipo de sucesso, onde nunca falta Amor (da espécie recomendada pelo Aniversariante do Dia) as nossas Escolhas.

    Uma Noite Feliz!
    Boa Sorte, Norma
    23/12/2012

    P.S.: À Clície, Giovanni, Sonielson, Felipe e Julio, em especial:
    Foi um real prazer encontrá-los esse ano.
    Se mais uma ‘face’ foi no meuinterior polida, atribuo a vocês e as suas ‘sabidas’ palavras.

    +++++

    Obs.: Nothing will work unless you do. M. Angelou

    “Aqui, no despontar deste novo dia,
    Você deve olhar confiante para o alto e para além
    E olhar também, fundo, nos olhos da sua irmã,
    No rosto do seu irmão,
    Do seu país,
    E dizer simplesmente
    Com uma esperança que já não cabe mais em si
    Aquela que seria a mais banal das frases:
    “Bom dia!”

    “No Despontar Deste Novo Dia” (“On The Pulse Of Morning”) foi escrito e recitado em cadeia nacional pela própria Maya Angelou …)
    http://www.palavrarte.com/poesia_mundo/poesia_mundo.php?i=poepelomun_eua_maya_poemas.php

    BOM DIA! Nac♥
    +++++++

    1. Norma, obrigado por todas as tuas idas e vindas e pela amizade dhármica.

      E como diz o profeta, que nenhum dia sem dança ou sorriso terá valido a pena, Maya Angelou “musicada”:

      I know why the caged bird sings
      The caged bird sings of freedom
      http://www.youtube.com/watch?v=qTrc5AxelLM

      Trabalharemos o que vier em 2013, esse ano todo inexistente (rs) e que só existe em nossas cabeças de linhas imaginárias, afinal “só palavras e convenções podem nos separar desse algo completamente indefinível que é tudo”:
      https://www.facebook.com/photo.php?fbid=451628721550933&set=a.186586031388538.40615.172358969477911&type=1&theater

      Dois mil e treze é o imaginário desse vinte e quatro de dezembro aqui agora, o único dia, o novo dia, o amanhecer de tarde, o amanhecer de noite (“no despontar deste novo dia”… )

      Não se preocupe, veja o que dia traz:
      http://dharmalog.com/2012/09/02/uma-intencao-para-comecar-o-dia-nao-se-preocupe-veja-o-que-o-dia-traz-este-momento-e-tudo-o-que-tem/

      Namastê e até dois mil e treze, dois mil e doze, dois mil e agora.
      Nando

  7. says: norma

    ‘Seu’ Nando,

    “A bird doesn’t sing because it has an answer, it sings because it has a song.”
    ― Maya Angelou

    Opa! Fui dos “Mayas a Mala” (citando BB), com o teu ‘formal’ tratamento, mas… pera aê, eu ameiiiiiiii a levada. Direto pras carrapetas!
    Tá desculpado… :D

    Então, daqui te mando o meu carinhoso abraço com os melhores votos de HARMONIA – um desejo que reúne todos os outros, sem os quais não haveria.

    Bjo Norma
    P.S.: Já falei que amei a levada? ♥♥♥ Pois, é!

    P.P.S: __/\__ pelos belos links.

Leave a comment
Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *