O texto abaixo é do célebre Prefácio do “Discurso Sobre a Origem e Fundamentos da Desigualdade Entre Homens” (Sobre Esta Questão Proposta Pela Academia de Dijon: Qual é a Origem da Desigualdade entre os Homens, e Se É Autorizada pela Lei Natural), de 1755, do filósofo iluminista suíco Jean Jacques Rousseau (1712-1778). O livro completo possui uma forte e necessária reflexão sobre o homem e sua relação com o mundo natural (Rousseau invoca o que chama de “homem primitivo” ou “selvagem” para tentar a comparação), aquele do qual o homem veio e parece ter se descolado por uma série de superposições, como as culturas, os governos, as filosofias e as religiões.
Seguem 4 trechos do Prefácio:
“O mais útil e o menos avançado de todos os conhecimentos humanos me parece ser o do homem; e ouso dizer que só a inscrição do templo de Delfos continha um preceito mais importante e mais difícil do que todos os grossos livros dos moralistas. Considero, igualmente, o assunto deste discurso como uma das questões mais interessantes que a filosofia possa propor, e, desgraçadamente para nós, como uma das mais espinhosas que os filósofos possam resolver: com efeito, como conhecer a fonte da desigualdade entre os homens, se não se começar por conhecer os próprios homens? e como chegará o homem a se ver tal como o formou a natureza, através de todas essas transformações que a sucessão dos tempos e das coisas teve de produzir na sua constituição original, e a separar o que está no seu próprio natural do que as circunstâncias e o progresso acrescentaram ou modificaram em seu estado primitivo? Semelhante à estátua de Glauco, que o tempo, o mar e as tempestades tinham desfigurado tanto que se assemelhava menos a um deus do que a um animal feroz, a alma humana, alterada no seio da sociedade por mil causas sempre renascentes, pela aquisição de uma multidão de reconhecimentos e de erros, pelas mudanças verificadas na constituição dos corpos, e pelo choque contínuo das paixões, mudou por assim dizer de aparência, a ponto de ser quase irreconhecível, e nela só se encontra, em vez de um ser que age sempre por meio de princípios certos e invariáveis, em vez dessa celeste e majestosa simplicidade com a qual o seu autor a marcara, o disforme contraste da paixão que julga raciocinar e do entendimento em delírio.
O que há de mais cruel ainda é que, como todos os progressos da espécie humana a afastam sem cessar de seu estado primitivo, quanto mais acumulamos novos conhecimentos, tanto mais nos privamos dos meios de adquirir o mais importante de todos, o qual consiste, num certo sentido, em que à força de estudar o homem é que nos tornamos incapazes de o conhecer.
(…)
Mas, enquanto não conhecermos o homem natural, é inútil querermos determinar a lei que recebeu ou a que convém melhor à sua constituição. Tudo o que podemos ver muito claramente em relação a essa lei é que, para que seja lei, é preciso não só que a vontade daquele que ela obriga possa submeter-se a ela com conhecimento, mas ainda, para que seja natural, que ela fale imediatamente pela voz da natureza.
Deixando, pois, todos os livros científicos, que só nos ensinam a ver os homens tais como foram feitos, e meditando sobre as primeiras e mais simples operações da alma humana, creio perceber dois princípios anteriores à razão, um dos quais interessa ardentemente ao nosso bem-estar e à conservação de nós mesmos, e o outro nos inspira uma repugnância natural de ver morrer ou sofrer todo ser sensível, e principalmente os nossos semelhantes. Do concurso e da combinação que o nosso espírito é capaz de fazer desses dois princípios, sem que seja necessário acrescentar o da sociabilidade, é que me parecem decorrer todas as regras do direito natural; regras que a razão é, em seguida, forçada a restabelecer sobre outros fundamentos, quando, por seus desenvolvimentos sucessivos, chega ao extremo de sufocar a natureza.
(…)”
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“um dos quais interessa ardentemente ao nosso bem-estar e à conservação de nós mesmos, e o outro nos inspira uma repugnância natural de ver morrer ou sofrer todo ser sensível, e principalmente os nossos semelhantes.”
#Tudo que vive quer viver# – São Francisco de Assis
– em perfeita harmonia com os seus sistemas interno e (consequentemente) externo.
Grata.
Só passamos a conhecer os outros quando olhamos para nós. Aquele antigo ditado que diz que os opostos se atraem não é verdade, mas tudo acontece como tem que ser. O que seria da paciência se não fosse a adversidade? Tudo contribui para aprendermos.
Oi, Jeniffer,
Vc me lembrou a letra do Realejo (O Teatro Mágico):
“Enquanto for… um berço meu
Enquanto for… um terço meu
Serás vida… bem vinda
Serás viva… bem viva
Em mim
“Os opostos se distraem
Os dispostos se atraem”(*)
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(*)do Fernando Anitelli é um músico, compositor, ator e o responsável pela crianção do Teatro Mágico, projeto inspirado no livro do escritor alemão Hermann Hesse. [Biografia de Fernando Anitelli]
Fique bem, Norma.
Os opostos se distraem e os dispostos se atraem é muito bom.
Obrigado Norma.
Nando,
Aproveitando q. vc está ‘on-line’ – Pisc*),saibas que o acesso ao Blog está o pp “The Flash”. Conta a mágica…
Que ‘pó de Pirlimpimpim’ foi jogado nele,porque está super aprovado!
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Caro Adm., vc viu em quem o F.Anitelli se inspirou para fazer o seu projeto? Hummm!
Ando pensando que depois de um certo caminhar e durante um longo percurso (até chegarmos a uma outra grande via)acabam-se os atalhos e as tabulas de bifurcação. Há tão e unicamente o CAMINHO.
Tenho me pegado levantando a sombrancelha esquerda para o tal de ‘livre arbítrio’ (Cadê? E eu sei? Claro que não!) – rs.rs.rs.
Boa Sorte!
Ótimo saber disso, Norma. Não publiquei nada aqui no blog, mas na página do Dharmalog no Facebook (http://facebook.com/dharmalog) coloquei uma nota técnica avisando que havíamos feito um upgrade de serviço e estávamos mais rápidos, e que também passamos a usar 100% energia eólica para manter o blog no ar. Esse foi o pó de prilimpimpim! :)
Namastê.
Grata p/revert.
“Energia eólica” ?
Que ‘experto’!
Thumbs Up! :)*