“O mistério da vida e da morte não pode ser examinado visitando Galápagos ou olhando em um microscópio. É mais profundo”, afirma o biólogo e cientista americano Robert Lanza, conhecido por sua teoria do “Biocentrismo“, em recente artigo publicado no site The Huffington Post (What Happens When You Die? Evidence Suggests Time Simply Reboots). “O que acontece quando morremos? Apodrecemos no solo ou vamos pro paraíso (ou inferno, se tivermos sido maus)?”. Autor do livro “How Life and Consciousness are the Keys to Understanding the Universe” (2009), Lanza diz que a resposta para essas perguntas pode ser bem mais simples que imaginamos: “Sem a cola da consciência, o tempo essencialmente reinicia“.
Lanza conta uma história de quando era criança, na loja de um ferreiro chamado Sr O’Donnell, em sua cidade natal, para ilustrar sua crença de como a lembrança é uma percepção enganosa da realidade. Apesar de não explicar a existência da consciência em si e de limitá-a basicamente às experiências da mente no cérebro, a teoria é interessante e tenta reunir alguns dos conceitos mais importantes da ciência em uma explicação além do paradigma atual.
Obs.: O artigo na íntegra em inglês no The Huffington Post possui mais de 3 mil comentários até a data deste post e pode ser boa sugestão de leitura auxiliar.
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WHAT HAPPENS WHEN YOU DIE? EVIDENCE SUGGESTS TIME SIMPLY REBOOTS
Por Robert Lanza (trecho do artigo traduzido)
Se você remover tudo do espaço, o que sobra? Nada. A mesma coisa se aplica ao tempo – você não pode colocá-lo numa jarra. Você não pode ver através do osso que envolve seu cérebro (tudo que experimentamos é informação em nossa mente). O Biocentrismo nos diz que o espaço e o tempo não são objetos – são as ferramentas da mente para fazer tudo acontecer.
Eu era apenas um garoto quando entendi que havia algo inexplicável sobre a vida que eu simplesmente não entendia. Aprendi isso de um dos últimos ferreiros de New England, quando eu, criança, tentei capturar um castor em seu buraco.
No topo da sua loja tinha um teto de chaminé que rodava e rodava, trinava e trinava, chacoalhava e chacoalhava. Um dia o ferreiro saiu da loja com uma arma e explodiu o teto da chaminé. O barulho parou. O senhor O’Donnell batia no metal com sua bigorna o dia todo. Não, eu pensei, eu não queria ser pego por ele. Mesmo assim, tinha meu objetivo.
O buraco do castor era tão próximo da loja do senhor O’Donnell que eu podia ouvir o fole soprando sua forja. Rastejei silenciosamente pela grama alta, encontrando gafanhotos e borboletas. Depois de preparar uma nova armadilha de aço que eu tinha acabado de comprar na loja de ferragens, me arrisquei e, pedra na mão, bati no chão. Quando olhei para cima, vi o Sr. O’Donnell ali, com os olhos brilhando. Eu não disse nada, tentando não chorar. “Dê-me essa armadilha, garoto” disse ele, “e venha comigo.”
Segui-lo em sua loja, cheia de todos os tipos de ferramentas e carrilhões de diferentes formas e sons pendurados no teto. Começando a forjar, o Sr. O’Donnell jogou a armadilha sobre as brasas e uma pequena chama apareceu por baixo, ficando mais quente, até que, com um sopro, explodiu em chamas. “Essa coisa pode ferir cães e até mesmo as crianças!” disse ele, cutucando as brasas com um garfo. Quando a armadilha estava vermelha de tão quente, tirou-a e bateu-a em uma pequeno quadrado com seu martelo. Ele não disse nada enquanto o metal resfriava. Finalmente, me deu um tapinha no ombro, e depois pegou alguns resto de uma libélula. “Vou te dizer uma coisa,” começou. “Vou te dar 50 centavos para cada libélula que você pegar.” Eu disse que seria divertido, e quando eu nos separamos eu estava tão animado que eu esqueci a minha nova armadilha.
No dia seguinte, preparei uma rede de borboleta. O ar estava cheio de insetos, e as flores com abelhas e borboletas. Mas não vi nenhuma libélula. Fui até o último dos prados, os picos de uma taboa atrairam minha atenção. Uma libélula enorme foi cantarolando por ali, e quando finalmente peguei-a, fiquei dançando e pulei por todo o caminho de volta à loja do Sr. O’Donnell. Com uma lupa, ele olhou o frasco contra a luz e fez um estudo cuidadoso da libélula. Pegou algumas varas, e batendo um pouco, fez uma maravilhosa estatueta que era a perfeita imagem da libélula. Tinha nela uma beleza tão leve quanto a do próprio inseto.
Enquanto eu viver vou lembrar daquele dia. E apesar do senhor O’Donnell já ter se ido, ainda está lá na loja dele aquela pequena libélula – coberta por poeira agora – que me lembra que há algo mais elusivo na vida do que a sucessão de formas que nós vemos congeladas na matéria.
(…) Antes de morrer, Einstein disse “Agora Besso (um velho amigo) partiu desse estranho mundo um pouco antes de mim. Isso não significa nada. Pessoas como nós… sabem que a distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente”. De fato, foi a teoria da relatividade de Einstein que nos mostrou que espaço e tempo era realmente relativos ao observador. A teoria quântica encerrou a visão clássica que as partículas existiam mesmo se nós não as percebêssemos. Mas se o mundo é criado pelo observador, nós não deveríamos nos surpreender que ele é destruído com cada um de nós. Nem deveríamos nos surpreender que o espaço e o tempo desaparecem, e com eles todos os conceitos Newtonianos de ordem e previsibilidade.
Está aqui finalmente, onde nós abordamos a fronteira imaginada de nós mesmos, o limite amadeirado onde naquele velho conto de fados a raposa e a lebre dizem boa noite para cada uma. Na morte, todos sabemos, a consciência se vai, e também a continuidade na conexão de tempos e lugares. Onde então nós nos encontramos? Nos degraus que, como Emerson disse, podem ser intercalados em qualquer lugar, “como aqueles que Hermes venceu com os dados da lua, para que Osiris pudesse nascer”. Nós pensamos que o passado é o passado e que o futuro é o futuro. Mas Einstein revelou que essa simplesmente não é a realidade.
Sem consciência, espaço e tempo são nada; na realidade você pode pegar qualquer tempo – seja passado ou futuro – como seu novo ponto de referência. A morte é o reinício que leva a todas as potencialidads. Essa é a realidade que os experimentos apontam. E quando eu vejo a velha loja do senhor O’Donnell’s, eu sei que em algum lugar aquela chaminé ainda está rodando e rodando, trinando e trinando. Mas que provavelmente não vai chacoalhar por muito tempo.”
Excelente texto!
Acho que o R.Lanza gostaria do texto abaixo. Eu gosto e… da teoria dele também. Grata, Norma
Um Navio
Rabino Henri Sobel
Imagine que você está à beira-mar e você vê um navio partindo
Você fica olhando, enquanto ele vai se afastando e afastando, cada vez mais longe. Até que finalmente aparece apenas um ponto no horizonte
Lá onde o mar e o céu se encontram
E você diz: “Pronto, ele se foi”
Foi aonde? Foi a um lugar que sua vista não alcança.
Só isto.
Ele continua grande.
Tão bonito e tão importante como era quando estava com você
A dimensão diminuída está em você, não nele
E naquele exato momento em que você está dizendo “ele se foi”, há outros olhos vendo-o aproximar-se, outras vozes exclamando em júbilo:
“Ele está chegando”
Que história maravilhosa!
Muito obrigado, Norma.
Esta historia foi contada por um conhecido ladrão de gravatas.
Isto é MATRIX
Eu imaginava que a nossa existência era algo completamente insignificante comparado ao infinito universo. Mas se o próprio universo não tem limites, porque limitamos a nossa existência com paradigmas como o tempo, ou espaço?
Para saber a posição que ocupamos nesse universo, criamos as limitações que chamamos de tempo, e espaço.
Quando eu li a teoria do Robert Lanza, baseado na teoria da relatividade criada por Einstein, eu percebi que NÓS somos o universo. Infinitas consciências e uma única existência.