Questão de Vida 1: “Estou bem, mas…”

… há algo de errado no ar“. Quem escreve é o consultor Oscar Motomura, que neste artigo intitulado “Possível Planejar a Vida?“, explora as razões porque parecemos estar vivendo um pico de sutil (ou não tão sutil assim) frustração e vontade de mudança: “Estou bem, mas…”.

Sinal dos tempos? Motomura traz várias hipóteses: alienação, ambição iludida de carreira, questões éticas na profissão, infelicidade, perseguição de metas corporativas, questões existenciais, etc. Particularmente acho que há um elemento muito forte do nosso tempo ajudando a provocar isso: hoje temos informações disponíveis em abundância sobre como viver melhor, estamos cercados de boas histórias de vida que admiramos, praticamente todos nós vivemos uma espécie de inescapável estresse da vida urbana (trânsito, horas extras, chefes, afazeres e cuidados domésticos, contas, saúde, etc), e isso tudo cria uma falta de perspectiva a curto e longo prazo. Mas, originalmente, o que nos faz sucumbir à sensação de estar aquém é a falta acreditarmos no rumo que tomamos. A cura pra isso seria confrontar a insatisfação presente e tomar um rumo em que possa acreditar.

O fim do artigo é interessante, invoca a idéia do que o Oscar denomina de “fração de segundo do agora“. Para ele, seria o ápice da satisfação. Se vivêssemos nesse instante, pouca coisa realmente poderia nos faltar.

Se for mesmo, qual seria, então, a relação entre a insatisfação da condição externa e a plenitude do momento presente?

“(…) Muitas pessoas chegam com uma sensação de que há “algo errado” nas conversas sobre carreira e futuro. Seria por que essas conversas parecem não bater com a “realidade lá fora”? Alguma relação entre “carreira de sucesso” com o que parece não funcionar na sociedade? Violência, guerras, corrupção, desigualdades, problemas em educação, saúde, meio ambiente, segurança, necessidades não-atendidas/mal-atendidas da sociedade… O que tudo isso tem a ver com “carreira”? O “algo errado” poderia ser um tipo de desconexão, alienação? Estaríamos todos nós presos num tipo de jogo que segrega, separa, fragmenta? Quantos de nós estamos conscientes de que vivemos dentro de um jogo, um megajogo; na verdade, jogos dentro de jogos, supercomplexos, cheios de paradoxos e distorções?

O “algo errado” poderia ser a sensação do jovem de que a discussão sobre profissões “que pagam mais” nada tem a ver com o que ele gostaria de fazer, a vida que gostaria de viver… O “algo errado” poderia ser a sensação do executivo, da executiva, que precisa abrir mão de seus valores, de suas convicções e até de sua ética para poder subir na carreira, para ganhar pontos no jogo político que acontece nos subterrâneos de muitas organizações. O “algo errado” poderia estar na sensação de que essa não é a vida que gostaria de estar vivendo… fazendo concessões atrás de concessões e até sendo elogiado (por quem…?) pelo seu “jogo de cintura”. O “algo errado” seria a pessoa chegar ao topo da carreira depois de anos e anos de luta e, ao chegar lá, sentir-se impotente para resolver as coisas do seu jeito… O “algo errado” é a sensação de não conseguir viver a vida que imaginara/sonhara…. (…)”

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