A “innernet” de Swami Chidanand Saraswati

Swami Narayananand e Swami Chidanand no Congresso Internacional de Yoga e Ayurveda 2008
Foto: Swami Narayananand e H.H. Swami Chidanand Saraswati Maharaj no Congresso Internacional de Yoga e Ayurveda 08 -- foto de 14 de agosto de 2008.

Participei na semana passada do I Congresso Internacional de Yoga e Ayurveda, em SP, e entre muitas palestras e aulas muito ricas, talvez a surpresa mais agradável tenha sido o discurso de H.H. Swami Chidanand Saraswati Maharaj, o grande yogue e presidente do Parmarth Niketan, maior ashram de Rishkesh, nos Himalaias indianos — Swamiji foi introduzido por Dr. José Ruguê (Swami Narayanananda), o organizador científico do Congresso, como “um dos seres realmente iluminados e auto-realizados” do nosso tempo. Mas ao invés de se enveredrar pelos Vedas e se perder no vocabulário milenar yogue, Swami Chidanand falou sobre iPhone, GPS, wifi e do que apelidou de “innernet“, a conexão interior ininterrupta que todos temos desde sempre com o divino. Com uma platéia de jovens na casa dos 20 e 30 anos (além de professores e profissionais dos 40 e 50 anos), Swami Chidanand usou e abusou de um vocabulário surpreendentemente contemporâneo para falar do seu tema central: a meditação e o aprofundamento interior em qualquer circunstância e situação de vida. Citou a Internet para falar de “innernet”, o silêncio interior que nos conecta à “inspiration highway” (em contrapartida da “information highway”). Disse que somos 6 bilhões de seres no planeta conectados por wifi ao grande Brahma (o Absoluto) e fonte original da vida. Comparou a tecnologia do GPS com o que poderia ser um “God Perfection System“, que dá a direção e aponta as falhas qjue cometemos ao longo do caminho.

O discurso foi muito bem humorado desde o início, mas a platéia só se sentiu à vontade para soltar altas gargalhadas depois que se certificou que as brincadeiras eram, de fato, brincadeiras (afinal, rir errado de um santo yogue realizado não deve ser lá uma gafe muito boa de se cometer). ;) Além da graça, Swami Chidanand exibe uma terna mistura de objetividade em tom incisivo, como quando fala sério cortando o ar com mudrás de força (como se ensinasse a um samurai), e leveza e simplicidade, como quando pousa a mão no peito com calma e entrega um gesto de devoção (algo que lembra uma das imagens mais famosas de Jesus).

Sem keynote e sem sair do sofá onde se sentou, Chidanand foi ouvido por uma platéia em concentrado silêncio e deixou aquela sensação de maravilhamento e vontade de ser alguém melhor. Pra ser, não basta ir longe, nem sequer pra Índia — tampouco sair de SP (essa foi uma dúvida recorrente entre alguns). Enquanto a nossa Internet às vezes cai, ou o sinal do iPhone fica fraco, ou um login não funciona ou não lembramos a senha, a “Innernet” jamais se desconecta, ele diz, e nós estamos sempre autenticados no sistema. Mas é preciso que nós não nos desconectemos. A desconexão traz a doença, a ilusão e o sofrimento. A solução é a própria meta da vida, segundo Swami Chidanand: conecte-se.

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