Pegando o gancho da campanha do Pangea Day (#), emendo uma interessante pesquisa sobre a psicologia dos nossos julgamentos e os problemas de relação entre as pessoas no mundo (racismo e conflitos religiosos, por exemplo). Em outras palavras: “ver o mundo pelos olhos de outra pessoa” pode ser mais importante do que aparenta.
A pesquisa foi realizada para descobrir como as pessoas julgam as outras pessoas, de autoria da neurocientista Adrianna Jenkins, da Harvard University (EUA), e concluiu que há uma forte e imediatista questão de identidade (entre nós e os outros) que constrói o julgamento – antes mesmo da própria questão ser construída. Uma vez que teoricamente não existe a possibilidade de uma pessoa saber o que vai no pensamento e no sentimento de uma outra pessoa, o primeiro reflexo é uma tentativa de identificação, e o segundo é decorrente desse primeiro. Então, primeiro, ela tenta pensar como ela mesma. Essa é a primeira tentativa, de identidade projetada no outro. Se houver consonância, há mais chances do julgamento ser positivo. Se não houver essa consonância, as chances são que as pessoas sintam uma desconexão e não usem mais os próprios parâmetros para julgar o outro. A pesquisa, publicada na Nature (full text PDF), diz que todos nós usamos uma região cerebral chamada “ventral medial prefrontal cortex (vMPFC)”, envolvida no processo de nós pensarmos sobre nós mesmos. Enquanto há a consonância citada, essa região se mantém ativa, mas quando registra-se dissonância, ela apaga.
Por isso, e essa talvez seja uma das descobertas mais reveladores dessa pesquisa, tendemos a estereotipar aqueles que não pensam como a gente. Ou seja, tendemos a não mais querer entender o outro. Justamente porque julgamos que não temos acesso ao pensamento desse outro, pq não nos identificamos com ele. E isso, por consequência, gera o julgamento negativo. A pesquisadora Jenkins supõe que isso pode ajudar a esclarecer inclusive casos de tensão social e racismo, por exemplo. Até porque, embora a pesquisa não tenha tratado disso, haverá um reflexo social quando esse julgamento for expressado (em forma mais sólida, como opinião, escolhas, ações), causando as tensões, discórdias e conflitos.
Então, resumindo, não é só no dia 10 de maio, é sempre.
Maneiro ver o lado químico. Mas, e quando a gente gosta daqueles que pensam diferente da gente?
Aí teríamos que olhar seu córtex de novo. 8)
Acho que essa pesquisa ajuda a iluminar a questão de porque as pessoas julgam as outras negativamente, porque criam estereótipos, porque não têm reações de compreensão (que teoricamente seriam mais elevadas), e se há alguma reação mais instintiva, cerebral, elétrica, química. E por que. Foi um bom passo.
Gostar de alguém que pensa diferente é uma outra questão, IMHO. Porque compreender o outro não é necessariamente gostar dele, é apenas não julgá-lo negativamente. Nem “diferente”. Ou, por um outro ângulo, é desgostar dele num campo mais impermanente (uma opinião, uma ação) e gostar dele num campo maior e permanente (a alma, o todo). Ou seja, há uma diferença menor e uma igualdade maior.
Hipóteses para vc gostar de alguém que pensa diferente podem ser relacionadas com a prática da compaixão (vide último link do post), com uma pré-disposição consciente para aceitar e gostar (a consciência via de regra ultrapassa os reflexos subconscientes ou inconscientes), por uma reforma do seu córtex para manter a região ativa (não sei se isso é possível, mas se for isso implicaria que provavelmente você se treinou para tal), por laços kármicos, ou algum tipo de evolução consciencial ou humana.
Acredito que há um olhar de compaixão unificado no futuro evolutivo de qualquer córtex. 8)
Grata post e links extras.
Fique bem, Norma