“Além do Dever” e a realidade da ajuda humanitária

Escrevi sobre esse filme logo depois que vi, num sessão em que o diretor esteve presente no Festival do Rio 2007. Como foi um dos melhores filmes que vi no ano passado, fica como sugestão para quem gosta do assunto. E da vida nesse planeta.

“Além do Dever” (Beyond the Call) é um documentário de Adrian Belic que retrata a nova vida de três coroas americanos ao redor do mundo, passando por alguns dos lugares mais carentes e críticos do planeta. É um road movie que desafia os conceitos e estereótipos do trabalho humanitário, da doação, da vontade e da vida. Ed Artis, Jim Laws, and Walt Ratterman formam uma entidade humanitária composta apenas deles mesmos, que, sozinhos (e com milhões de dólares de doações), assinalam como destinos para ajuda os últimos lugares que qualquer um de nós imaginaria em assinalar. Incluindo Afeganistão em outubro de 2001. Dois deles são médicos com experiência na guerra do Vietnã e um deles é um empresário cheio de talentos ímpares (como arco-e-flecha, instalação de energia solar e contabilidade). Mas o que os três têm em comum é ajuda e suas condições: 1) não deve haver envolvimento no negócio nem lucro, 2) não pode querer mudar a política ou a religião de nenhum lugar, e 3) tem que ser aventuroso e humanitário. Essas condições estão expostas no trailer, mas é no filme que elas causam o impacto reflexivo completo. Sem música emotiva de background, sem edição sensacionalista nem imagens sentimentais, “Além do Dever” explora . Quando Ed diz que se emociona ao ver um irmão segurar o outro de um jeito tal, a câmera mal pega os dois irmãos: pega Ed contando e dizendo o quão importante isso é pra ele – “e vamos indo”.

O filme é – embora mais que comum na cinematografia como arte (foi todo feito numa Sony MD150). Primeiro, ele mostra a realidade de uma fantasia que, eu acredito, muitos de nós temos: ir para esses lugares ajudar de verdade, não importa onde. Segundo, a conquista de encontrar essas três pessoas fantásticas que de fato fazem isso, e são dos mais raros do planeta. Terceiro, mostrar como são três pessoas comuns, americanos com manias comuns, feiúras comuns, belezas comuns, desejos comuns. E por fim, mas não por último, o impacto que essa documentação tem em nós, espectadores de todos os lugares do mundo que almejam um carro novo, uma casa de campo, uma qualquer coisa de se ter. “Eu gostaria de ter um tratamento de canal, mas custa 700 dólares”, diz Ed. “Você sabe quantos sacos de arroz dá pra comprar com 700 dólares?”

95/100.

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1 Comment

  1. says: Nessa

    Nandico, esse assunto da ajuda humanitária é bem importante de ser discutido. gostaria muito de ver esse filme, mas sei que deve ser difícil de encontrar… bom, esse tema muito me interessa, há realmente muitas idéias preconceituosas envolvidas… e gente querendo “salvar o mundo” dos outros às vezes pensando em salvar o seu próprio mundo só, a sua imagem perante si mesma.

    é um tema sobre o qual eu me pergunto quase todos os dias… se estou fazendo o certo, o que poderia fazer mais, como solucionar conflitos, as opiniões que chegam de outras pessoas (“de fora”). enfim… mexe muito comigo.

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