Há algum tempo (me) pergunto porque continuamos com a democracia, por que ela não prospera. Por que nenhum pensador ou instituto político tentou formar as bases de algo melhor e mais evoluído? Na verdade, é um pouco de frustração com uma democracia representativa que, talvez, simbolicamente pertença a um país que a merece, mas talvez nem tanto assim. O problema, no entanto, é mais técnico: num mundo (país) onde a maioria das pessoas está fazendo parte de cada vez mais minorias, me parece que deixar a decisão dos direitos das minorias nas mãos da maioria é pedir pra não dar-lhes direitos. Qual é a saída?
No Globo de domingo, o psicanalista e “um dos papas do pensamento heterodoxo brasileiro” MD Magno demonstrou insatisfação semelhante e sugeriu o que chama de “diferocracia”.
“(…) Dizem que a democracia é o pior regime, à exceção dos demais. Pode ser. Mas sua sacralização impede que admitamos um passo seguinte, uma evolução. O que é “maioria” ou “vontade geral”? Se a vontade geral impuser uma monstruosidade, fica por isso mesmo? Isso é definitivo?” (MD Magno)
Essa é a pergunta. Usando um exemplo radical, se as mulheres formassem 49% da população, ou do Congresso, elas estariam à mercê de nunca terem qualquer direito aprovado, pro resto de suas vidas, ou até que virassem maioria. Em conversa com meu pai sobre isso, ele argumentou dizendo que haveria pressão popular ou coisa do tipo. Pode ser, seria a salvação. Mas o sistema em si, a democracia, não garante a mudança de nada. Pelo contrário: garante que os 51% mantenham legitivamente sua decisão.
Pra sair desse problema genético da democracia, teríamos a “diferocracia“.
“Trata-se de um outro horizonte, que na verdade já está aí. Em vez de maioria ou vontade geral, prevalece o cuidado de cada um diante do próprio sujeito, a identidade de cada um em relação ao seu ser, independentemente de suas relações com o mundo. Para organizar o mundo e o modo de governo, então, é preciso se ter em conta a satisfação de cada um (e de todos). O ser é a causa das diferenças. Merece ser respeitado como tal.” (MD Magno)
É uma proposta, “sua liberdade termina onde começa a liberdade do outro”. Psicologicamente bem mais avançada do que ‘eu ganho então estou certo e você está errado’. Uma proposta que é um passo enorme em direção à compreensão do outro, à aceitação do outro – mesmo quando ele não é consonante com você. E concordo que tenha que vir como uma evolução, mas gostaria de ouvir mais sobre a transição deste para aquele, e de como isso se sustentaria do jeito que é – se assumimos que estamos de fato nos movimentando nessa direção. Acredito que o movimento que acontece hoje é disperso (embora mesmo disperso ele forme uma coletividade, e isso possibilita a evolução), e muito causado pela velocidade de informação e a tecnologia, mas como isso se transforma do âmbito interno individual para um sistema político, essa seria a pergunta.
O que eu entendo, e apóio, é que o Estado e as leis devam interferir cada vez menos sobre o individual, e se manter nas garantias gerais, em leis mais conceituais do que pontuais – e flexíveis. Mais ou menos como a religião deveria fazer: falar menos sobre aborto, e mais sobre o amor e a consciência. Se as religiões fizessem isso, na real, provavelmente os problemas políticos se resolveriam sozinhos.
Concordei com tudo que vc falou no texto, parabens! Reamente, os politicos tem que fazer a parte deles, e parar de pensar no lado individual, pararem de ser indivualistas, so assim o Brasil vai crescer.