Ter assistido Bubble, de Steven Soderbergh, foi ótimo pra compensar L’Enfant. Excelente. Quer dizer, é triste ver uma parte da realidade do interior norte-americano tão de perto, com um olho meio big brother, mas é uma feiúra bonita de se ver. Soderbergh não usou atores, e a performance “natural” impressiona absurdamente – as reações da filha de Rose, o nervosismo de Kyle, as expressões e diálogos de Martha, o pai vegetal da Martha. É incrível como essas realidades “perdidas” multiplicam seres humanos “nati-mortos” em ambientes quadriláteros. Acho que a ausência de vitalidade dessas pessoas, dessas cidades, é o tema do filme: câmeras paradas, movimentos repetitivos, cafés vazios, saudações artificiais, gerentes patéticos, a trágica previsibilidade dos dias, o assassinato providenciado do único fator de mudança possível – Rose (“só me lembro de uma dor-de-cabeça terrível”! boa sacada, quáquáquá). Dogville? Talvez. Falando assim, parece um monte de imagens não muito animadoras de se ver, mas o esmero cinematográfico, a trilha-sonora que é um personagem, os privilégios íntimos que temos (os closes no bar, dentro do quarto de Kyle, na sala de Martha) e uma montagem perfeita mudam completamente a figura. Bubble tem um certo parentesco temático com “Elefant” (de Gus Van Sant), mas vai mais fundo, é menos sobre um fato isolado e mais sobre uma realidade, um estado insalubre de coisas, o que nos dá mais possibilidade de ganhar consciência geral. Ver isso tudo em 90 minutos é que dá gosto. 92/100.
Ó, não aguento mais ver filme americano – sempre com gente charmosa sofrendo com charme, e daí num momento elas passam por uma experiência marcante, se superam, crescem e todos aprendemos uma valiosa lição.
Despojado de toda essa fórmula, “Bubble” foi uma grata surpresa. Adorei.
(A trilha do Robert Pollard, um dos meus ídolos, foi um brinde a mais)