Quem Somos Nós? (What The Bleep Do We Know?). Muita gente passa a vida inteira atrás de uma resposta relevante e verdadeira a essa pergunta. Então, seria possível traçar um panorama satisfatório de uma resposta consistente a – quem somos nós? – em 90 minutos de um filme que pouca gente ouviu falar? A resposta é que muito pouca gente realmente passa “a vida inteira” atrás de responder a essa pergunta, mesmo que a vida dessas mesmas pessoas se meta na frente delas clamando pela resposta infinitas vezes. A agenda de distrações mundanas do ser humano não reserva espaço para “isso”. O filme traz diversos nomes importantes de campos diversos da ciência e da espiritualidade para formar um panorama sobre o tema, mas o protagonista é mesmo a física quântica. Por um único motivo: é ela quem lida com as mais modernas descobertas da física contemporânea e seus novos paradigmas. Todo o resto parece falar de um mundo que não existe mais, feito de partículas sólidas num espaço externo (um “mundo quadrado”). Esse mundo não existe mais, e o Deus desse mundo, como disse Nietzsche, está morto. Quem somos nós, então, e quem é Deus, afinal?
A melhor parte do filme (a piorzinha deve ser unânime: a festa de casamento) é a que trata da biologia humana, principalmente em nível cerebral e hormonal. Aprendi muita coisa nessa parte. Os budistas provavelmente gostariam de um aprofundamento, ou de um take pelo ângulo do desapego, da transitoriedade de tudo, mas do jeito que está já está bonito de ver e saber. Uma conexão muito mais íntima e didática tb poderia ter sido dada à noção de tempo, e como ele destrói o presente e limita as possibilidades infinitas. Mas não tem problema. Ao explicar o funcionamento dos axiomas cerebrais, das lembranças, vícios hormonais e da limitação da visão da realidade devido à padrões pré-estabelecidos, essa obra deixa de ser um documentário para começar a alterar você, ali na poltrona do cinema. A se julgar pela concordância dos pesquisadores que aparecem no filme, a ciência já está mais abraçada à física quântica do que se imagina, mesmo que ainda não tenha respostas finais para dezenas de questões. E nós somos mais co-donos desse mundo do que jamais nos disseram ou acreditaram.
De qualquer maneira, What The Bleep? é um marco entre os documentários, entre os estudiosos, blogueiros, interessados, etc. Entre os cinéfilos talvez não tenha todo esse apelo, porque os cinéfilos estão mesmo interessados em boa distração. Quem está interessado na pergunta, faz a pergunta.