Quando trouxe essa pequena história do mestre americano Ram Dass pra publicar aqui, coloquei um título provisório e ao voltar no dia seguinte para finalizá-lo senti falta de palavra “casa” na primeira frase: em vez do título dizer “sobre estar em casa onde você está”, estava escrito apenas “sobre estar onde você está”. Imediatamente quis mudar, pois eu lembrava que no corpo da história Ram Dass falava de “estar em casa“, mas curiosamente sem a “casa” ficava bom, também fazia sentido. Talvez até mais sentido.
Estar, simplesmente, pode ser ainda mais poderoso do que “estar em casa em qualquer lugar”. Estar em casa precisa invocar o conceito de casa, ou seja, precisa qualificar a presença com alguma coisa conhecida, que é a sensação de estar em “casa”. Mas “estar“, simplesmente, é estar. Não há conceitos, é presença pura. Se realmente estou aqui, inteiro, estou aqui. Presente. E não preciso qualificar essa presença com qualquer conceito (nem mesmo o de casa). “Viva o momento real. Apenas esse momento é vida“, diz o mestre zen Thich Nhat Hanh. O próprio Ram Dass reclassifica seu conceito de casa ao final da sua história, dizendo que “casa é a qualidade da presença“.
“Sua casa não é Nova Iorque ou Londres ou Hong Kong. Sua casa é cada passo.”
— Thich Nhat Hanh
[ Imagem: “Eu cheguei, eu estou em casa”: caligrafia de Thich Nhat Hanh. ]
Segue então a pequena história compartilhada pelo mestre americano Ram Dass:
“Um dia eu estava sentado em um hotel no meio dos Estados Unidos e era um daqueles tipos de lugar realmente plásticos, tipo Holiday Inn, e eu cheguei, fui pro meu quarto e sentei, coloquei minha mesa de rituais e você sabe, aquela coisa toda. Eu estava tirando o cardápio e as coisas do lugar e era meio deprimente, e pensei, “bem, mais algumas semanas e estarei com a viagem encerrada e posso ir pra casa”. E então vi a dor que aquele pensamento estava criando em mim.
Então me levantei e saí do quarto, fechei a porta, dei uma volta no hall, retornei, abri a porta e gritei, “Estou em casa!”. Então entrei e me sentei, olhei e, bom, eu não decoraria aquilo particularmente daquela maneira, mas que diabos? Pensei: se não estou em casa no universo, ah garoto, então tenho um problema. Se eu disser “só posso estar em casa aqui, não lá”.
O que é casa? Casa é onde o coração está. Casa é a qualidade da presença. É a qualidade de ser onde quer que você esteja.”
— RAM DASS
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Foto de Dave (licença de uso BY-NC-ND, Creative Commons — link).
Afinal, o universo é nosso lar. Excelente Post! _/\_
Nossa! Linda reflexão sobre o “estar” e “estar em casa” antes de mostrar o texto do Ram Dass. Sinceramente quanto conteúdo incrível todo esse blog… me sinto em casa!
Namastê, Felype: _/\_
Obrigado, Gabriel! E foi uma reflexão que veio de um “erro”… E presença.
Um abraço & namastê!
Nando
você imagina o quão libertador isso pode ser para quem tem 3 ”casas” em que 2 estão em estados diversos e você se divide e divide a vida em semanas, vive com uma mala e com o texto, você se v~e um caramuljo (a casa está com você, onde quer que você vá ). A casa é suas memórias, rituais, passos, gostos e hábitos. Dá uma calma imensa.
Esse texto caiu como uma luva. Com tantas viagens que ando fazendo tenho a sensação de passar um bom tempo tentando me ambientalizar com cada lugar novo.
Muito tempo perdido com comparações e julgamentos entre lugares…
Obrigada por proporcionar a reflexão!!
Um beijo
Que caia como uma bota, uma calça e uma camisa também, Camila! :-) E estejamos cada vez mais vestidos de presença.
Um beijo,
Nando
Este site é iluminado e ajuda muitas pessoas a encontrarem a própria iluminação. Gratidão.
Os grandes sábios orientais trazem esta verdade da “presença no agora” como passo inicial para o grande encontro (ou perdição) do homem com o Todo. A grande questão a se pensar é a dificuldade em se promover este estado, especialmente quando percebemos que o mundo em que vivemos não contribui em nada para esta”libertação”, criando amarras que nos interceptam, anestesiam, virtualizam-nos enquanto iludem sobre falsas ordens.