Heng Sure e Heng Ch’au: dois monges explicam como a reverência é o próprio dharma de Buda [LIVRO]

Em 1977, dois monges budistas americanos saíram de Gold Wheel Temple, em Los Angeles, em direção à Cidade dos Dez Mil Budas, em Ukiah, Califórnia (EUA), com o objetivo de se curvar em reverência a cada três passos, num total de 800 milhas de viagem. A famosa jornada durou dois anos e meio, e três anos depois de concluída, um diário em vários volumes com mais de 1.600 páginas seria publicado com o título “With One Heart Bowing to the City of Ten Thousand Buddhas” (Com Um Coração Prostrado à Cidade dos Dez Mil Budas). Uma das partes mais ricas do livro é, naturalmente, a sabedoria que há nas reverências ou prostrações, e os dois trechos abaixo transmitem uma pequena parte.

Obs.: Talvez seja interessante dizer que as prostrações são ações importantes dentro do Budismo, conhecidas por seu poder de reverência, humildade e reconhecimento da Verdade. Os treinamentos dos lamas são repletos de prostrações (100 mil é uma das tarefas mais comuns) e mesmo atividades e rituais possuem partes com prostrações contadas – geralmente em reverência ao Dharma, a Buddha e à Sangha. Apesar de muitas vezes ser feita aos pés de um guru ou professor, ela representa na verdade a reverência à natureza de Buda.

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With One Heart, Bowing to the City of Ten Thousand Buddhas” [TRECHOS] Por Heng Sure &  Heng Ch’au

[1] Trecho 1, por Heng Sure

“Como posso me livrar da arrogância”, alguém pergunta ao Mestre da Montanha Dourada.

Reverencie. Curve-se reverencialmente todo o tempo para qualquer coisa e todos que você ver. Você consegue fazer isso?

Curve-se não para algo – para conseguir algo de alguém pra você. Curve-se para esvaziar-se, para arrepender-se e limpar sua mente. Sem pensamentos sobre si mesmo, todos se beneficiam. Com um pensamento sobre si mesmo, todos sofrem. Reverencie a natureza-búdica em todos os seres, sensientes e não-sensientes. Sem si mesmo o Buda aparece. Você consegue fazer isso? Heng Ch’au?

Quando você se curva lentamente perante essas grandes montanhas e essa vasta paisagem, você vê que tudo isso é feito de pequeninas particulas – partículas de poeira, átomos. Tudo pode ser quebrado até o espaço vazio ou do espaço vazio ser construído e virar um oceano, uma pessoa ou uma montanha.

[2] Trecho 2, por Heng Ch’au

Quando os adultos querem saber o que estamos fazendo, eles perguntam e conversam. Quando as crianças querem saber o que estamos fazendo, eles observam e curvam-se também. O Dharma de Buda é o Dharma das crianças. Elas aprendem fazendo. As crianças se impacientam e dormem com palavras e conversas. Todas as “palavras de sabedoria” estão no seu próprio coração, então porque perder tempo ouvindo outro alguém falar delas? O Dharma do Buda é a mesma coisa. Os princípios nos sutras vem de nossos próprios corações. A sabedoria e a felicidade de todos osBudas vem de nossas próprias mentes.

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15 Comments

  1. says: Camilla

    Nenhuma viagem que traga o melhoramento interno e a consequente transformação do EU pode ser considerada tola, existem milhares de formas de se aprender algo, a deles foi essa.

  2. says: Junior

    O primeiro impulso é o da critica, também tive esse impulso quanto aos comentários…mas vou me ater a publicação…era o que eu precisava nesse momento…aprendi que preciso me recolher…dominar minha ansia de ser mais que os outros…me tornar humilde…e recordar o que esta dentro de mim…tenho muito que aprender.Fiz tres reverencias para cada comentario.

  3. says: norma7

    1)Trecho 2, por Heng Ch’au
    Achei esse texto lindo em sabedoria e em beleza mesmo.
    Esse é para colar no teto do quarto: abriu um olho, abriu o outro – Ler!

    “Os princípios nos sutras vem de nossos próprios corações. A sabedoria e a felicidade de todos os Budas vem de nossas próprias mentes.”

    2) Algumas medicinas, fora da tradicional, vêem problemas/enrijecimento com a coluna e joelhos com ligação a orgulho/arrogância. Outras curas alternativas encaram às costas como preocupação com o futuro.

    De qualquer forma, reconheço a importância dentro do contexto, da escolha dos 2 monges, no exercício da reverência.

    “A mente é como um cume de ouro que encima o corpo físico, Pela escadaria da coluna vertebral, a energia sobe e desce, circulando, unindo a mente celeste ao corpo físico. O corpo é de fato um templo.” (Escola de Mistérios).

    No AGORA, eu não usaria o meu ‘templo’ dessa forma. Mas não questiono o direito à escolha dos monges e só posso validar a ação.

    Quanto ao 1º coment., vejo a ‘tranquilidade’ como o Leo se expressou com ‘conhecimento’ além da 2ª pág. sobre à matéria do Post. Reverencio a sua posição :)
    ++++++++

    Do Post, o “Aprender fazendo” (2º trecho) é ‘A’ lição de humildade. É ser livre de qualquer amarras que possam prender ao medo de julgamentos próprios ou de terceiros (= orgulho). Achei bacana!

    Tipo: Espere sua Maetria fazendo (exercendo a sua Fé na Prática). E não só acumulando conhecimento = Erudição.

    Faça reverências físicas ou mentais, aplauda e toque o Orin (sino), ofereça flores/ervas aromáticas (Shimiki, talvez?) a quem julgar merecer, escreva Sutras como bússolas p/sua vida, componha um Mantra para recitar ao seu Espírito – no secreto do seu coração, dançe para seu Deus Interior, faça o seu melhor, por você. Floresça o seu Buda. Tire-o do ‘estado latente’ só por um minuto que seja. Só por AGORA. E o Universo agradecerá… Nac♥

    Grata.
    Boa sorte, Norma

  4. A principio não queria comentar, mas algo provocou, então: preciso antes de ser contra ou a favor saber, em que grau de evolução estão estes monges, o que pretendiam alcançar com esse exercício, físico, espiritual, quimico, matemático, etc qual realmente a função deste, bom digo sempre que tenho uma diretriz formada um novo conhecimento põe por terra tudo, tenho que começar um novo movimento para que me encontre. Dentro destes acontecimetos só poderia dar um parecer depois de entender e exercitar tudo até o ultimo para realmente opinar, o nosso mundo não é estático não consigo ver a inécia, portanto de maneira Socrática diria “Só sei de que nada sei”. Vamos nos aprofundar antes de julgar qualquer ação pois com certeza sempre tem o porque.

    1. Perfeito José.

      Quando a gente tem logo o impulso de julgar, ou se fica aqui julgando e julgando, é porque tá longe do espírito e da luz que tem a reverência.

      Me lembro da primeira vez que fiz, a resistência, e então, deitado, uma experiência surpreendente. É o Dharma das crianças…

      Um abraço grande,
      em reverência :)
      Nando

  5. says: norma7

    Em tempo:
    No acervo do Dharmalog tem um vídeo muito bom, mostrando os toques (108?) do Orin, uma sala de Zazen e vários monges prostando-se em reverências a um determinado nº de passos, ao descer uma trilha.

    Reverências não estão unicamente do contexto do Budismo.
    As reverências também fazem parte da pratica dos adeptos da Umbanda e do Candomblé, focando no Brasil, como exemplo.

    Como diria a molecadinha, (pra tudo): Normal… ué!

    Boa sorte, Norma

  6. says: Léo

    Sim, todos julgamos. Inclusive os que julgam os que julgam…

    Esclarecendo, ou tentando, minha mensagem…não vejo (aceito minha minha atual limitação)os benefícios de realizar reverências por 1500 km. Sinceramente prefiro simplesmente caminhar e realizar minhas reverências nos meus pensamentos.

    1. says: norma7

      Leo,

      Sou Budista (Fé, Prática e Estudos) com Butsudan em casa e prática diárias. Eu entendo.

      Gasshô e Boa sorte,
      Norma Cardoso

  7. says: norma7

    “No AGORA, eu não usaria o meu ‘templo’ dessa forma. Mas não questiono o direito à escolha dos monges e só posso validar a ação.”

    (validar = plenamente justificada para mim)

    Eu não disse que JÁ não tenha feito e muito menos que não faria. Apenas no Agora (Now) não escolheria demonstrar a minha devoção de tal forma. Não sei num outro NOW. (qq um que mostre o que eu estou ‘perdendo’ está fazendo julgamento de valores, mesmo inconscientemente)

    Não tenho o menor problema em expressar o que penso, tento ser ‘humilde’. (Foi uma das 1ªs lições que fui apresentada e ainda estou nela: potencial e limitações). Não me sinto bem fazendo parte de claquete, assim como não acho ‘fair’ colher o que me agrada e sair de mansinho, sem compartilhar/dar nada em troca (não vejo modéstia aí.vejo outra coisa ). – Vide D.Chropa – tão citado…
    Só a lamentar!

    Vou apoiar sempre a quem se expresse (mesmo que totalmente contrário a mim), porque, nesse caso, os monges, eu e quem é contrário à prática estamos na mesma busca, vivendo sob as mesma Leis Universais, das quais ninguém escapa.

    Obrigada por tudo,
    Norma

    1. Estou um pouco surpreso com uma certa discordância predominante da experiência dos monges, invocando até uma hipotética e impossível desaprovação do Buda. Vejo a experiência e os textos de grande sabedoria e com um ensinamento valioso, mas isso parece ter ficado em segundo plano porque o modo como os monges chegaram às suas percepções (e a esses textos preciosos) foi através de uma viagem de 800 milhas se prostrando de 3 em 3 passos, e isso parece ter incomodado.

      Como a Camilla falou, cada um tem sua viagem de percepção real da verdade, isso é que traz o valor, e não a receita específica dos monges.

      De novo, a experiência de si mesmo é fundamental. Mais vale uma única prostração bem percebida e realizada do que um milhão de desaprovações ou aprovações ou elocubrações estéreis. É o “Dharma das crianças” (realmente gostei dessa do Heng Ch’au).

      Gasshô,
      Nando

  8. says: Humberto

    Numa perspectiva sistêmica, vemos que estamos fazendo reverências o tempo todo: para o patrão, para a figura importante – política, acadêmica, religiosa; fazemos reverências ao poderosos do dinheiro quando estamos solicitando um empréstimo; à autoriade constituída, ao chefe, ao que possui titulos reluzentes – honoríficos e acadêmicos. Entretanto, curvarmo-nos para uma montanha, um lobo guará, uma formiga, um jatobá deve ser muito mais grandioso, espiritualmente falando, porque não estamos movidos por motivações egóicas de submissão e subserviência.

    1. Muito muito agradecido por tuas palavras, Humberto. Muita reverência. Acho que você trouxe uma luz definitiva para esse assunto, a reverência que todos nós fazemos a todo momento (“nossos deuses”). E a quem pouco ou nada reverenciamos, mas que nos dão tanto, nos tornam vivos, e nos fazem ser conscientes de tudo isso. Aí entendemos as reverências ao Sol, à Saúde, ao Coração, à Água, ao Planeta, e a tanta coisa.

      Namastê,
      Nando

  9. says: norma7

    (…)
    com o objetivo de se curvar em reverência a cada três passos, num total de 800 milhas de viagem. A famosa jornada durou dois anos e meio,
    (…)
    +++++++++++++++

    “para transformar algo em nossas vidas, primeiro devíamos fazer a causa.” Jeanny Chen (da SGI-USA) – Budismo Nitiren Daishonim.

    É muito comum membros lançar-se em desafio objetivando, digamos, recitar 03 horas diárias Daimoku em frente ao Gohonzom, por alguns meses ou anos, mesmo tedo de acordar de madrugada.
    ++++++

    Os monges do Post a cada 03 (três) passos fizeram uma reverência.

    Grande causa = grande efeito/transformação/objetivo. Nac♥

    (sic) “Os treinamentos dos lamas são repletos de prostrações (100 mil é uma das tarefas mais comuns) e mesmo atividades e rituais possuem partes com prostrações contadas ”

    Não vamos nos esquecer que eles não são seguidores. São monges com prática.
    Prostações :
    Aos 2:26″ -Tsem Tulku Rinpoche teaches PROSTRATION

    http://youtu.be/fbMFtzTGgkE

    e Ordenação em Santa Fé. Prostração

    http://youtu.be/p9IFWTVfGqc

    Boa sorte!

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