Como manter a atenção plena em um ambiente de trabalho movimentado? Thich Nhat Hanh responde

Praticar a atenção ao momento presente na vida diária pode ser um dos maiores desafios no caminho do despertar, mas se formos criativos, como diz o monge zen vietnamita Thich Nhat Hanh na resposta abaixo, podemos ir longe. Longe bem aqui e agora. Por exemplo, usando o sinal vermelho no trânsito, a placa de Pare, o toque do telefone. Thich Nhat Hanh sugere objetos mais marcantes como dispositivos-lembretes para voltarmos à respiração e ao momento presente, mas qualquer outro ato diário pode servir perfeitamente, desde chamar o elevador até tomar um copo de água. Ou lavar os pratos, como ele mesmo ensina no livro “O Milagre da Atenção Plena“, descrito no post “Lavando os pratos para lavar os pratos: consciência, presença e o milagre da vida na pia da cozinha, por Thich Nhat Hanh“.

O registro foi feito por um grupo de estudos budistas da universidade americana de Stony Brook, em Nova Iorque (EUA), chamado “The Buddhist Studies and Practice Group”. Eis a resposta na íntegra, traduzida para o português pelo blog.

Pergunta: Como você mantém atenção plena em um  ambiente de trabalho movimentado? Algumas vezes parece que não há tempo nem para respirar com consciência.

 

Thich Nhat Hanh:  Esse não é apenas um problema pessoal; é um problema da civilização inteira. Por isso temos que praticar não apenas como indivíduos, mas como sociedade. Temos que fazer uma revolução de uma maneira que organizemos a sociedade e nossa vida diária, para que sejamos capazes de desfrutar do trabalho que fazemos todos os dias.

 

Enquanto isso, podemos incorporar um monte de coisas que temos aprendido nesse retiro para reduzir nosso estresse. Quando dirigimos pela cidade e chegamos a um sinal vermelho ou a uma placa de pare, podemos nos encostar no assento e usar esses vinte ou trinta segundas para relaxar, para inspirar, expirar, e curtir a chegada ao momento presente. Há muitas coisas como esta que podemos fazer. Anos atrás eu estava em Montreal a caminho de um retiro e notei que as placas dos carros diziam “Je me souviens” – “Eu lembro”. Não sei do que eles queriam se lembrar, mas para mim significa que eu lembro de respirar e sorrir (risos). Então eu disse a um amigo que estava dirigindo o carro que eu tinha um presente para a sangha em Montreal: cada vez que você ver “Je me souviens”, lembre-se de respirar e sorrir e voltar ao momento presente. Muitos de nossos amigos da sangha de Montreal tem praticado isso por mais de dez anos.

 

Acredito que podemos aproveitar o sinal vermelho, podemos também aproveitar a placa de pare. Toda vez que as vermos, nos beneficiamos: em vez de nos irritarmos com o sinal vermelho, de sermos consumidos pela impaciência, praticamos inspirar, expirar, e sorrir. Isso ajuda bastante. E quando ouvimos o telefone tocar, podemos considerar o som do sino da atenção plena. Você pratica meditação telefônica. Cada vez que você ouvir o telefone tocar você fica exatamente onde você está (risos). Inspirar e expirar e desfruta do respirar. Ouça, ouça – esse maravilhoso som lhe traz de volta pra casa. Então, quando você ouve o segundo tocar, você se levanta e vai até o telefone com dignidade (risos). Isso significa, usando o estilo da meditação andando (risos). Você sabe que consegue fazer isso, porque se a outra pessoa tem algo realmente importante pra lhe dizer, ela não vai desligar depois do terceiro toque. Isso é o que chamamos de meditação telefônica. Usamos o som como um sino de atenção plena.

 

E quando estiver esperando no ponto de ônibus, você pode tentar a respiração consciente, e esperar na fila do banco, você pode sempre praticar a respiração consciente. Andando de um prédio a outro, porque não usar a meditação andando, porque isso melhora a qualidade da nossa vida. Traz mais paz e serenidade, e a qualidade do trabalho que vamos fazer será melhorada por esse tipo de prática. Então é possível integrar a prática em nossa vida diária. Precisamos apenas de um pouco de imaginação criativa pra fazer isso.

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